segunda-feira, 9 de setembro de 2024

DEFICIÊNCIA DE FERRO EM ADOLESCENTES: MANEJO NUTRICIONAL



A deficiência de ferro é o distúrbio nutricional mais prevalente no mundo e a sua investigação se justifica não somente pela sua prevalência, mas também pelas repercussões que acarreta no desempenho individual.

A anemia ferropriva é considerada um dos principais problemas de saúde pública em todo o mundo. A deficiência de ferro alimentar, principal responsável pela desnutrição, mesmo na forma moderada, representa um agravo à saúde, estando associada a prejuízos na capacidade produtiva dos indivíduos, no desenvolvimento cognitivo e na imunocompetência.

O FERRO E A ADOLESCÊNCIA:

Na adolescência, a deficiência de ferro é uma condição complexa, na medida em que vários fatores podem estar envolvidos, uma vez que esta etapa da vida é marcada por intensas mudanças fisiológicas e psicológicas, interferências socioculturais (imagem corporal, influência de pares e da mídia), além da possibilidade de condições econômicas desfavoráveis.

A adolescência é um período marcado pelo aumento da necessidade diária de ferro devido à expansão do volume sanguíneo, à perda sanguínea menstrual nas meninas e ao aumento da massa muscular decorrentes do estirão pubertário. Alguns dos fatores associados, como a ingestão deficiente em ferro, doenças crônicas, perda menstrual excessiva, sobrepeso, obesidade, desnutrição e excesso de atividade física podem acarretar ferropenia ou anemia ferropriva.



A nutrição deficiente durante a adolescência pode ser causada por uma variabilidade de fatores, incluindo-se a instabilidade emocional, desejo obsessivo de emagrecer, instabilidade geral no estilo de vida e circunstancias sociais.

RECOMENDAÇÃO:

A recomendação de ferro para meninos e meninas na idade de 9 a 13 anos é de 8 mg de ferro/dia. A recomendação para adolescentes do sexo feminino é de 15 mg de ferro/dia e do sexo masculino é de 11 mg de ferro/dia, na idade de 14 a 18 anos. Nessa idade, os fatores considerados para estimar o requerimento são as perdas basais, aumento da massa de hemoglobina, aumento de ferro nos tecidos e perdas menstruais para meninas de 14 a 18 anos. O modelo já não leva mais em consideração as necessidades de ferro para depósito. Essa idade é marcada pela puberdade, processo fisiológico com grande impacto nas necessidades de ferro em ambos os sexos, a menarca nas meninas, o aumento na concentração de hemoglobina nos meninos e o estirão de crescimento para ambos.

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS:

As manifestações clínicas da anemia representam as consequências da redução da capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue, resultante da diminuição da concentração de hemoglobina e os sinais e sintomas são diversos de acordo com a velocidade de instalação da anemia: palidez cutâneo-mucosa, fraqueza muscular, perversão alimentar conhecida como "pica", claudicação intermitente, tonturas, zumbido, retardo no crescimento, anorexia, sinais de insuficiência cardíaca, alterações do humor e da função cognitiva, comprometendo a aprendizagem e o desenvolvimento escolar, maior susceptibilidade as infecções e diminuição do desempenho físico.

ATENÇÃO !!! - Como a instalação da deficiência de ferro ocorre geralmente de forma gradual, deve-se estar atento aos sintomas, que são sutis e, muitas vezes, inespecíficos, podendo passar despercebidos.

TIPOS DE FERRO: 

O ferro heme é constituinte da hemoglobina e da mioglobina e está presente nas carnes e nos seus subprodutos.O ferro heme contribui com uma pequena fração do total do ferro ingerido.O ferro não heme, que é a forma mais consumida, é encontrado, em diferentes concentrações, em todos os alimentos de origem vegetal.  A absorção do ferro não heme é dependente da solubilização do ferro ingerido no estômago e redução a forma ferrosa no intestino.

BIODISPONIBILIDADE E ABSORÇÃO:

Sabe-se que mais importante do que suprir as necessidades é dar atenção à quantidade de ferro biodisponível, ou seja, o quanto de ferro presente na refeição será absorvido e qual a relação com os fatores estimulantes e inibidores de sua utilização numa mesma refeição. 

A absorção do ferro heme é de 20% a 30% da quantidade presente no alimento e a absorção do ferro não heme é de aproximadamente 2% a 10%. A absorção do ferro heme pode variar de aproximadamente 40% na deficiência de ferro a 10% quando os estoques estiverem repletos. 

A absorção da forma não heme é fortemente influenciada por vários componentes da dieta, podendo ser inibida ou facilitada. Então, a absorção do ferro presente na dieta é influenciada pela quantidade, pela forma química do ferro presente, pelo consumo na mesma refeição de alimentos contendo fatores facilitadores ou inibidores da absorção do ferro, além do estado de saúde e estado nutricional de ferro do indivíduo. 

No estado de deficiência de ferro, o ferro da dieta é melhor aproveitado pelo organismo. Três potentes facilitadores da absorção do ferro não heme são: as carnes, a vitamina C e a vitamina A. 

São considerados fatores inibidores da absorção do ferro: fitatos, polifenóis, cálcio e fosfatos.

O ferro heme, além de ser melhor absorvido, tem sua absorção feita de forma mais rápida e é pouco influenciada pelos componentes da dieta. A absorção do ferro heme parece ser afetada apenas pela proteína animal, que facilita a absorção, e pelo cálcio, que pode diminuí-la.



Estagiária: Maria Eduarda Silva do Nascimento.

Referência: GARANITO, M. P.; PITTA, T. S.; CARNEIRO, J. D. A.. Deficiência de ferro na adolescência. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, v. 32, p. 45–48, jun. 2010.

DE ALMEIDA SANTOS, Carmen Lúcia et al. Deficiência de ferro no estirão pubertário. Journal of Human Growth and Development, v. 22, n. 3, p. 341-347, 2012.

BORTOLINI, G. A.; FISBERG, M.. Orientação nutricional do paciente com deficiência de ferro. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, v. 32, p. 105–113, jun. 2010.

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