As
lesões ligamentares agudas do tornozelo são comuns. A maioria delas ocorre durante
a atividade esportiva entre 15 e 35 anos. Apesar da preferência dessas lesões, os
protocolos de diagnósticos e tratamentos apresentam grande variação. As lesões
do complexo ligamentar lateral são, de longe, as mais comuns do tornozelo.
A
lesão ligamentar lateral ocorre, tipicamente, durante a flexão plantar e
inversão, que é a posição de máximo estresse no ligamento talofibular anterior (LTFA).
Por essa razão, o LTFA é mais comumente lesado durante o traumatismo e
inversão. Em lesões por inversão de maior gravidade os ligamentos
calcaneofibular (LCF), o talofibular posterior (LTFP) e o subtalar também podem
ser lesados.
A
maioria das lesões ligamentares laterais do tornozelo resolve-se
espontaneamente com tratamento conservador. O programa denominado “tratamento
funcional” inclui a aplicação do princípio RICE (Rest – repouso, Ice – gelo,
Compression – compressão e Elevation – elevação) imediatamente após a lesão, um
curto período de imobilização e proteção com bandagens elásticas ou inelásticas
e exercícios de mobilização precoce seguidos de carga precoce e treinamento neuromuscular
precoce. Treinamento de propriocepção com pranchas de inclinação é iniciado
assim que possível, usualmente
após
três a quatro semanas. Seu objetivo é melhorar o equilíbrio e controle
neuromuscular do tornozelo.
As sequelas
após lesões ligamentares do tornozelo são muito comuns. Cerca de 10% a 30% dos
pacientes com lesões ligamentares laterais apresentam sintomas crônicos. Os
sintomas geralmente incluem sinovite ou tendinite persistente, rigidez do
tornozelo, edema e dor, fraqueza muscular e frequentes falseios.
Um
programa de fisioterapia bem estruturado com fortalecimento e treinamento
proprioceptivo, alongamento e imobilização funcional pode aliviar os problemas
em muitos pacientes. Para casos de instabilidade crônica que são refratários, o
tratamento cirúrgico pode ser considerado. Se a instabilidade crônica está
associada à instabilidade subtalar refratária às medidas conservadoras, o
tratamento cirúrgico deve considerer também a articulação subtalar.
A
lesão e instabilidade ligamentar subtalar são provavelmente mais comuns do que
o observado. Entretanto, a definição e diagnóstico dessa entidade são difíceis.
Felizmente, parece que a cicatrização da maioria das lesões agudas ocorre com o
mesmo programa de reabilitação das lesões ligamentares laterais do tornozelo.
Nas
instabilidades subtalares crônicas uma tentativa inicial de reabilitação com
treinamento proprioceptivo do tornozelo deve ser feita. Se esse programa
falhar, reparação primária ou reconstrução podem ser benéficas. Os
procedimentos de reconstrução devem contemplar a articulação subtalar.
Instabilidade
subtalar ocorre geralmente em associação com a instabilidade tibiotársica;
dessa forma, o diagnostico cuidadoso é crítico em qualquer pessoa com
instabilidade crônica do tornozelo. Se ambos não são contemplados, o paciente
persistirá tendo problemas.
As
lesões do ligamento deltóide ocorrem, mais frequentemente, associadas a
fraturas do tornozelo. Elas são raras como lesão isolada. Se nenhuma fratura é
evidenciada nas radiografias, particular atenção deve ser dada à sindesmose
para assegurar que não há associação com ruptura desta. Lesões isoladas
verdadeiras do deltóide parecem evoluir bem com tratamento conservador, a
exemplo de lesões ligamentares laterais do tornozelo. As rupturas do deltóide
associadas a fraturas do tornozelo parecem cicatrizar bem; tratam-se as outras
lesões, deixando que o deltóide cicatrize espontaneamente. É vital que se
corrija qualquer lesão da sindesmose e que se obtenha alinhamento ósseo
correto.
As
lesões de sindesmose podem ser incapacitantes se não tratadas adequadamente.
Exame físico cuidadoso e interpretação de radiografias são necessários para
obter um diagnostico correto. Lesões parciais parecem evoluir bem com a
reabilitação. Entretanto, lesões complexas, se o alargamento não for corrigido,
podem conduzir à dor e altera-ções degenerativas. O alargamento da sindesmose
com rupture do ligamento tibiofibular inferior é indicação para cirurgia com a
colocação de um parafuso de sindesmose para redução de pinça maleolar. Carga
com proteção é necessária por cerca de seis semanas após a cirurgia, quando então
o parafuso deve ser removido. Um programa de reabilitação pode ser iniciado.
Lesões
agudas do tornozelo são lesões comuns na prática esportiva e o tempo de
incapacidade devido a elas é significativo. Felizmente, o tratamento
conservador tem dado bons resultados na maioria dos casos e o tempo de
inatividade tem sido minimizado.
A
maior área potencial de problemas de incapacitação são as lesões da sindesmose
não identificadas e não tratadas, com ou sem lesão do ligamento deltóide. Muito
cuidado tem que ser tomado para avaliar cuidadosamente a sindesmose em todas as
lesões de tornozelo.
Problemas
potenciais posteriores são o desenvolvimento de instabilidade dos ligamentos laterais
do tornozelo e/ou ligamentos subtalares. A maioria deles pode ser bem tratada
com treinamento proprioceptivo e funcional com órtese ou imobilização com
bandagens, ou com reparação cirúrgica tardia nos casos refratários.
Postado
por: Dr. Rogerio Nascimento
Nenhum comentário:
Postar um comentário