Estudos realizados
nos EUA afirmam que a prática sistemática do exercício físico para a população
em geral está associada à ausência ou a poucos sintomas depressivos ou de
ansiedade. Mesmo em indivíduos diagnosticados clinicamente como depressivos, o
exercício físico tem se mostrado eficaz na redução dos sintomas associados à
depressão.
É importante
determinar como ocorre a redução dos transtornos de humor, após o exercício
(agudo ou após um programa de treinamento), pois assim será possível explicar
os seus efeitos bem como outros aspectos relacionados à prática desta
atividade. A compreensão da intensidade e da duração adequadas do exercício para
que sejam observados os efeitos em sintomas ansiosos e depressivos é a chave
para desvendar como o exercício físico pode atuar na redução desses sintomas,
pois embora haja um consenso de que esta prática reduz os transtornos de humor,
não há um consenso de como isso ocorre. O primeiro passo para entender essa relação
é compreender a etiologia dos transtornos. Fatores genéticos podem estar
implicados na ocorrência, mas a gênese dos transtornos está também implicada na
função biológica, comportamental e do meio.
Em relação à
ansiedade, inúmeras teorias têm sido propostas para explicar a sua gênese:
teorias cognitivas comportamentais, psicodinâmicas, sociogenéticas e
neurobiológicas. A única coisa que se pode afirmar é que o efeito do exercício
físico na ansiedade é multifatorial.
Em uma série de
experimentos, Morgan determinou os estados de ansiedade pelos escores do
Inventário do Estado-Traço de Ansiedade (STAI) antes e após exercício vigoroso.
Quando 15 homens adultos corriam por 15 minutos, a ansiedade diminuía abaixo da
linha basal imediatamente após a corrida e permanecia diminuída por 20 minutos.
Seis homens com ansiedade neurótica e seis normais foram testados, antes e
durante o teste completo, em esteira ergométrica até à exaustão, e os
resultados demonstraram uma redução nos escores de ansiedade.
Estudos, como o de O’Connor
et al, demonstraram que as respostas de ansiedade ao exercício máximo dependem
do nível de ansiedade que o indivíduo possuía antes de começar um programa de
exercício, bem como do tempo de recuperação, após esse exercício, já que nos primeiros
cinco minutos, após o exercício, o nível de ansiedade é elevado e só então
diminuído quando se atingem 10-15 minutos que o exercício foi realizado.
A intensidade em que
o exercício físico deve ser realizado foi estudada por Raglin e Wilson. Quinze
adultos de ambos os sexos realizaram 20 minutos em sessões de bicicleta
ergométrica em dias separados com intensidades que variaram entre 40, 60 e 70%
de seu VO2pico. O estado de ansiedade era medido através de uma escala antes e
depois de cada sessão de exercício. Os resultados demonstraram que em
intensidades próximas de 40 e 60% do VO2pico os níveis de ansiedade eram
diminuídos, após a realização dos exercícios, e quando o exercício era
realizado a 70% de seu VO2pico havia um aumento no índice de estado ansioso e
só após algumas horas do término do exercício é que o nível voltava a seu
estado inicial ou até mesmo abaixo.
A eficácia do
exercício físico associado a sintomas depressivos também tem sido relatada em
relação a estados depressivos causados por outras doenças. Coyle e Santiago
realizaram um estudo em que o principal objetivo era o de avaliar o efeito do
exercício na aptidão e na saúde psicológica de indivíduos deficientes. Os voluntários
foram submetidos a exercício aeróbio por 12 semanas.
Os resultados
demonstraram que o exercício aeróbio melhora a aptidão e diminui os sintomas
depressivos nesta amostra. Esta redução pode ser o resultado de mecanismos
fisiológicos e/ou comportamentais associados com exercício aeróbio.
Um estudo conduzido por
Lopes observou os efeitos de oito semanas de exercício físico aeróbio nos
níveis de serotonina e depressão em mulheres entre 50 e 72 anos. Foi aplicado
neste estudo o Inventário Beck de depressão e foram realizadas análises laboratoriais
para as dosagens dos níveis de serotonina. Os resultados indicaram que houve
redução do percentual de gordura e dos níveis plasmáticos de serotonina,
sugerindo que esta relação entre exercício físico e a mobilização de gordura
proporciona às participantes uma melhora nos estados de humor.
Os benefícios da
prática de exercício físico refletem o aumento dos níveis de qualidade de vida
das populações que sofrem dos transtornos do humor. No entanto, tanto o
exercício aeróbio como o anaeróbio devem privilegiar a relação no aumento
temporal da execução do exercício físico e não no aumento da carga de trabalho (relação
volume x intensidade).
Postado por: Christiana Nastari
Referência:
MELLO, M. T.; BOSCOLO, R.
A.; ESTEVES, A. M.; TUFIK, S. O exercício físico e os aspectos psicobiológicos.
Rev Bras Med Esporte, Vol. 11, Nº 3 – Mai/Jun, 2005.
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