O
modelo de beleza imposto pela sociedade atual corresponde a um corpo magro sem,
contudo, considerar aspectos relacionados com a saúde e as diferentes
constituições físicas da população. Esse padrão distorcido de beleza acarreta
um número cada vez maior de mulheres que se submetem a dietaspara controle do
peso corporal, ao excesso de exercícios físicos e ao uso indiscriminado de
laxantes, diuréticos e drogas anorexígenas. Devido a esta pressão de alcançar
ou manter o peso corporal extremamente baixo e tendo em vista o ambiente
esportivo como um meio ampliador de pressões socioculturais, surge-se então a
tríade da mulher atleta.
Em
1993, o Colégio Americano de Medicina Esportiva publicou a conferência de
consenso onde esse termo “Tríade da Mulher Atleta” (TMA) foi oficializado para
descrever a síndrome que engloba: desordem alimentar, amenorréia e osteoporose
na mulher atleta. Assim, em esportes onde o peso corporal é enfatizado tanto
para a atividade atlética como para aspectos físicos há um maior risco para a
sua ocorrência.
A
princípio todas as mulheres e adolescentes fisicamente ativas estão em risco de
desenvolvimento da tríade, porém atletas que enfatizam um baixo peso corporal e
as praticantes de atividades como: aeróbica, corrida, corrida de cavalo, dança,
ginástica, luta, natação, patinação artística, voleibol, entre outras correm
maior risco. Mulheres que apresentarem um componente da tríade devem ser
avaliadas para a possível identificação dos outros.
A
alimentação desordenada, a amenorréia e a osteoporose são componentes que
quando interligados caracterizam a tríade da atleta. O desenvolvimento de
padrões alimentares anormais e prejudiciais pode variar desde a restrição de
alimentos, passando por exageros alimentares e purgação (vômito induzido),
podendo resultar em distúrbios alimentares, que levam à disfunção menstrual e,
consequentemente, à osteoporose, sendo, portanto, necessário o controle dos
sintomas dessas alterações. As mulheres que são biologicamente capazes de
menstruar, ainda que não o façam, possuem uma condição conhecida como
amenorréia. Quando a causa está diretamente relacionada à participação no
exercício, a condição é denominada amenorréia atlética. Historicamente,
acreditava-se que o mecanismo que provoca a amenorréia atlética fosse uma
reduzida porcentagem de gordura corporal, atribuída a demanda calórica
adicional ao exercício. Entretanto, sabe-se agora que o conteúdo de gordura
corporal não provoca diretamente essa condição.
Mulheres
que treinam repetidamente se expõem a concentrações aumentadas de
catecolaminas, β-endorfinas e cortisol, que são conhecidos por exercerem alguma
inibição na função da hipófise anterior e, mais especificamente, inibir a
liberação de hormônio liberador de gonadotrofina. Entretanto, o mecanismo exato
que explica a amenorréia atlética permanece obscuro. Todavia, sabe-se que a
amenorréia atlética deve-se a uma liberação alterada de LH (hormônio
luteinizante) e FSH (hormônio folículo estimulante), indicando que a
irregularidade está presente na regulação do eixo hipotálamo-hipófise de
secreção de LH e FSH. As concentrações reduzidas de LH e FSH evitam a
estimulação do folículo do ovário e, consequentemente, evitam a síntese e a
secreção de estradiol pelo ovário.Tem sido proposto que o desenvolvimento da
amenorréia atlética começa com uma diminuição da duração da fase lútea.
Entretanto,
alterações mínimas na duração da fase lútea e na função, menstrual têm sido
relatadas em mulheres que se envolvem em um treinamento físico envolvendo distâncias
e intensidades moderadas.
Consequentemente,
as mulheres que participam de exercícios extremos de longa distância e alta
intensidade podem estar mais aptas a desenvolver a amenorréia atlética e essa
condição é sustentada por pesquisas que têm mostrado que a amenorréia atlética
pode ser revertida com uma redução da intensidade ou do volume de treinamento.
A interrupção do ciclo menstrual tem outras implicações para a mulher, além de
ser um método anticoncepcional natural. A ausência do FSH (hormônio folículo
estimulante) e do LH (hormônio luteinizante) impede o desenvolvimento de um
folículo do ovário, do qual o estradiol e a progesterona são produzidos. A
incapacidade da mulher de produzir estradiol ovariano reduz de maneira crônica
as concentrações de estradiol circulante, que aumenta a taxa de reabsorção
óssea, aumentando, portanto, o risco de osteoporose precoce. Além disso, há
evidência de uma relação entre as mulheres com irregularidades no ciclo
menstrual e uma maior incidência de lesões músculo esqueléticas.
Pesquisas
indicam que a prevalência, nos Estados Unidos, de irregularidades menstruais
entre as esportistas, atinge índices de até 66% comparativamente ao restante da
população feminina, o qual apresenta cifras de 2% a 5%, mostrando que a ocorrência
da amenorréia é maior em mulheres atletas em relação às não-atletas.
Atualmente,
a incidência de amenorréia e irregularidades menstruais vem aumentando em
mulheres atletas e dançarinas. Estima- se a prevalência de amenorréia em 30 a
50% nas bailarinas profissionais, 50% em corredoras competitivas, 25% em
corredoras não competitivas e 12% em nadadoras e ciclistas.
Outro
componente da tríade é a osteoporose que se caracteriza pela diminuição da
densidade dos minerais dos ossos do esqueleto, aumentando o risco para
deformidades estruturais e fraturas ósseas. Nas adolescentes e nas mulheres
jovens, em particular, as pressões sociais e esportivas de elite podem causar o
estabelecimento de distúrbios alimentares que, juntamente com a interrupção do ciclo
menstrual, podem aumentar ainda mais o risco para a osteoporose. A interrupção
do ciclo menstrual (amenorréia) impede que o corpo sintetize o estrógeno, que
possui efeito protetor sobre os minerais dos ossos nas mulheres. O papel do
estrógeno nessa tríade torna as mulheres após a menopausa mais susceptíveis a
osteoporose e explica, parcialmente, a importância da terapia de reposição do
estrógeno tanto nas mulheres jovens (amenorréia induzida pelo exercício) quanto
nas mais velhas após a menopausa.
A tríade
da atleta é uma síndrome séria que pode afetar as atletas de elite, assim como
as garotas e mulheres comuns e fisicamente ativas. Essa síndrome pode resultar
na diminuição do exercício e do desempenho físico, assim como no aumento do
risco para a morbidade e mortalidade precoces. Assim, com o intuito de prevenir
e tratar essa síndrome é necessário ressaltar para mulheres e adolescentes
fisicamente ativas a importância de uma alimentação balanceada que alcance a
ingestão adequada de micronutrientes (ferro ecálcio) e de macronutrientes, uma
vez que estes exercem funções essenciais para um bom desempenho físico.
Postado
por: Ingrid M. de Souto e Nivalda Oliveira
Fonte:
MANTOANELLI,
G.; VITALLE M. S. S; AMANCIO O. M. S. Amenorréia e osteoporose em adolescentes
atletas.Revista de Nutrição, Campinas, v.15, n.3, p. 319-332, 2002.
OLIVEIRA,
F. P.; BOSI, M. L. M; VIGÁRIO, P. S.; VIEIRA, R. S. Comportamento alimentar e
imagem corporal em atletas. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina do
Esporte, São Paulo, 2003.
PARDINI,
D. P. Alterações hormonais da mulher atleta. Arquivos Brasileiros de
Endocrinologia Metabólica, São Paulo, v.45, n.4, 2001.
ROBERGS,
R. A.; ROBERTS, S. O. Princípios Fundamentais de Fisiologia de Exercício: para
aptidão, desempenho e saúde. São Paulo, Phorte Editora, 2002. 467p.
Nenhum comentário:
Postar um comentário