O vegetarianismo abrange ampla variedade de práticas dietéticas com diferentes benefícios e implicações para a saúde.
Há diferentes definições e fundamentações das práticas vegetarianas, como, por exemplo: a dieta vegan, que não contém nenhum produto de origem animal; a lactoovovegetariana (LOV), que inclui produtos lácteos e ovos; e a semivegetariana, que ainda inclui pequenas quantidades ou consumo esporádico de determinados tipos de carne, como peixes e aves.
As dietas não-vegetarianas, nas quais o consumo de carne é freqüente, são denominadas dietas onívoras.
A adoção de dieta vegetariana tem sido associada a diversos benefícios para a saúde humana, como baixas concentrações de lipídios séricos, baixos níveis de adiposidade corporal e baixa incidência de doenças cardiovasculares, diabetes mellitus e certos tipos de câncer, também há uma alta ingestão de carboidratos, fibras dietéticas, magnésio, potássio e antioxidantes (como as vitaminas C e E), além de uma maior expectativa de vida.
Entretanto, também tem sido objeto de preocupação, pois em caso de dietas restritivas ou desbalanceadas estudos realçam possíveis aspectos prejudiciais à saúde, com deficiências nutricionais.
Algumas pesquisas experimentais foram realizadas no intuito de investigar a relação entre a dieta vegetariana e o desempenho esportivo. Discute-se se tal dieta pode afetar, positiva ou negativamente, o desempenho de atletas de resistência e força.
Com base em resultados de diversos estudos conclui-se que a capacidade aeróbica não é afetada pela adoção de uma dieta vegetariana, desde que esta atenda às necessidades nutricionais do atleta. Dessa forma, uma dieta vegetariana variada e balanceada parece compatível com o desempenho atlético vencedor em modalidades esportivas com predominância no sistema oxidativo. Com relação à força muscular são necessários maiores estudos, dada a pouca produção científica que investigou essa questão.
Estudos mostram que desde que as necessidades energéticas e protéicas sejam alcançadas, independentemente do tipo de dieta, o rendimento do atleta não é afetado.
O conteúdo protéico dos alimentos de origem vegetal é freqüentemente menor, além de apresentarem menor valor biológico, pois possuem aminoácidos limitantes. Ainda assim, os pesquisadores sugerem que a ingestão protéica nas dietas vegetarianas pode suprir a cota de fornecimento adequada, mesmo para atletas que necessitam de maior ingestão protéica.
São menos freqüentes as baixas ingestões de cálcio, zinco, cobalamina e vitamina D entre os lactoovovegetarianos, por consumirem leite e derivados na dieta, fontes significativas desses minerais. Vegans necessitam maior atenção para que não desenvolvam deficiências nutricionais, o que resultaria em efeitos negativos para a saúde e, conseqüentemente, para o desempenho atlético.
Neste tipo de dieta a necessidade de creatina é suprida tanto pela ingestão alimentar, quanto pela síntese endógena. Em torno de 1g é obtido, normalmente, em dietas não-vegetarianas, enquanto que o restante é sintetizado endogenamente.
Os níveis de creatina intramusculares dos vegetarianos são mais baixos, o que pode afetar o rendimento em exercícios supramáximos. Em contrapartida, a suplementação de creatina mono-hidratada pode proporcionar maior efeito ergogênico nesses indivíduos.
Especulou-se se a dieta vegetariana poderia ocasionar impacto negativo sobre a função imunológica, mas pesquisas mostraram que a retirada da carne da dieta não parece ocasionar efeitos adversos sobre essa função. Quanto à influência da dieta LOV na função imunológica de atletas de endurance, não foram encontradas diferenças significativas na quantidade e atividade das células do sistema imune entre os grupos. Entretanto, sabe-se que o treinamento exaustivo pode causar impacto negativo sobre a função imunológica em atletas, independentemente do tipo de dieta, aumentando a suscetibilidade a infecções, como do trato respiratório superior. Afirma-se que a suplementação de glutamina exerça efeito positivo nesse sentido, atenuando o quadro de imunossupressão pós-exercício.
De acordo com as publicações científicas atuais, a prática vegetariana pode proporcionar diversos benefícios à saúde humana, desde que bem planejada para atender às necessidades nutricionais.
Uma dieta vegetariana necessita ser bem planejada e equilibrada em termos nutricionais, sendo, assim, apropriada a todos os estágios do desenvolvimento humano, incluindo a gestação, lactação, infância e adolescência, além de proporcionar suporte adequado ao desempenho esportivo.
Fonte: FERREIRA, Lucas Guimarães, Roberto Carlos e Adriano, MAIA Fortes, Burini. Dietas vegetarianas e desempenho esportivo. Rev. Nutr. [online]. 2006, vol. 19, n.4, p. 469-477. Disponível em: http://www.scielo.br
Postado por: Suzana Gonçalves
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