sábado, 25 de junho de 2011

Mulheres e a Prática de Musculação


Até o final dos anos 70 os esportes de força, como o halterofilismo e o fisiculturismo, eram condenados para as mulheres, vistas como frágeis e vulneráveis em função de sua capacidade reprodutora. Essa fragilidade física caiu por terra quando a explosão das academias e dos exercícios resistidos (musculação) entrou na ordem do dia. São muitos os exemplos de artistas, cantoras e atrizes famosas que recorrem ao trabalho com pesos para manter um corpo delineado, com força muscular e definição das formas.

Hoje, com os avanços da ciência, das ciências do esporte e principalmente, com a história das mulheres atletas, que foi escrita à custa de muita resistência e luta, encontramos um número cada vez maior de mulheres que buscam uma modalidade desportiva, sejam lutas marciais, boxe ou musculação, para suprir seus desejos de beleza e/ou como momento de lazer.

O certo é que o esporte, quando realizado devidamente e com orientação profissional, é uma importante arma no combate a algumas doenças infecciosas não transmissíveis, tais como o diabetes e a hipertensão, amenizando os desgastes advindos com a idade, bem como, uma forma saudável de socialização.

As mulheres que atualmente pensam em praticar musculação não devem temer a masculinização das formas, como em outros tempos o senso comum acreditava que ocorria e, em alguns casos, ainda acredita.

A musculação pode satisfazer alguns anseios estéticos, através do fortalecimento do quadríceps, dos glúteos, do abdômen e - por que não? - dos braços, peito e costas, afinal o corpo deve ser visto como uma totalidade; e de forma alguma o treinamento intenso transformará a praticante em uma fisiculturista, com ‘montanhas de músculos’, pois isso exige anos de prática, um controle rigoroso na dieta e, em alguns casos, a utilização de hormônios. Essa desinformação é um mito, fruto de anos de repressão às mulheres.

Houve momentos de grande repressão com relação às práticas desportivas femininas, repressão que ainda se reflete no pouco investimento, na profissionalização ou mesmo na formação de estereótipos da mulher masculinizada. Para além da estereotipia estão os conhecimentos e os resultados dessas práticas, ou seja, mulheres satisfeitas com seu corpo, com uma rotina saudável, com menos probabilidade de adquirir algumas doenças infecciosas não transmissíveis e, principalmente, mais confiantes em sua capacidade de agir em um mundo tão competitivo.

Indivíduos que praticam atividade física regular para desenvolver a resistência cardiorespiratória, a aptidão músculo esquelética e diminuir os níveis de gordura corporal melhoram seus níveis energéticos básicos e se colocam no grupo com menor risco de apresentar doença cardíaca, câncer, diabetes, osteoporose e outras doenças.

A nutrição e a atividade física se tornaram dependentes uma da outra, pois, uma pessoa que faz atividade física intensa e regular necessita de uma alimentação adequada antes, durante e depois do treino para que possa ter um bom desempenho e menor probabilidade de sofrer lesões ou doenças. Para aquelas pessoas que costumam ter uma boa alimentação a atividade física é indicada como uma forma de melhorar o metabolismo dos nutrientes. Em muitos casos, as freqüentadoras de academias não conseguem fazer uma alimentação adequada para suprir às necessidades do organismo e obter um bom desempenho físico. Consomem com exagero alimentos como carboidratos, proteínas e gorduras, e não consomem vitaminas e sais minerais. A falta de vitamina C, por exemplo, atrapalha a absorção do colágeno, que é fator importante na definição muscular.

As recomendações nutricionais para cada pessoa devem levar em consideração os hábitos alimentares, o estilo de vida, a cultura e as necessidades energéticas, que são fruto da relação entre as atividades do dia-a-dia, e o gasto calórico. Existem fatores que influenciam na inadequação alimentar, como, por exemplo, falta de conhecimento sobre a área de nutrição, má manipulação no preparo e na escolha dos alimentos.

Grande número de praticantes de musculação associa aumento de massa muscular ao consumo excedente de proteínas na alimentação. As praticantes de musculação com o objetivo de hipertrofia evidentemente necessitam de proteínas, em alguns casos, através do consumo de suplementos, dependendo do modo de vida da pessoa e da disponibilidade de tempo, pois a hipertrofia exige certa intensidade e o exercício intenso aumenta o gasto de proteínas para o próprio músculo no momento da contração. Não obstante, isso não justifica a ingestão excessiva por conta própria, sem acompanhamento nutricional, pois qualquer proteína em excesso é queimada como fonte de energia ou é armazenada como glicogênio ou gordura.

A construção de um corpo forte e delineado exige, portanto, o conhecimento da relação entre o programa de treinamento e uma dieta adaptada. Observado isso e seguido um treinamento continuo, com disciplina e muita força de vontade, as mulheres poderão construir corpos totalmente impensáveis décadas atrás. Uma mudança radical nos modelos de corpo pode expressar mudanças sociais e culturais.

Os exercícios realizados com utilização de sobrecarga externa - como aparelhos, halteres, caneleiras, bastões ou o peso do próprio corpo - são definidos como exercícios resistidos.

Conhecidos atualmente pelas academias como musculação, esses exercícios, quando bem elaborados e realizados corretamente, trazem inúmeros benefícios ao organismo das mulheres, tais como: aumento da densidade óssea, aumento da massa magra e conseqüente perda da massa gorda, melhor funcionamento hemodinâmico do coração, aumento da ventilação pulmonar, redução dos níveis de triglicerideos e LDL-colesterol, aumento do nível do colesterol bom (HDL-colesterol), aumento da sensibilidade das células à ação da insulina.

Maior massa muscular significa maior gasto energético diário e maior quantidade de tecido captador de glicose, mesmo em repouso, fortalecimento de tendões e articulações, dentre outros benefícios que poderão afastar o aparecimento de doenças infecciosas não transmissíveis. Outro fator relevante é a melhora subjetiva que esses exercícios proporcionam, como: aumento da auto-estima, melhora da qualidade do sono, autoconfiança, sensação de bem-estar e autovalia.

Todos esses benefícios trarão uma melhor qualidade de vida para as mulheres, pois com o processo de envelhecimento e, principalmente, com advento da menopausa, podem ocorrer inúmeras patologias, tais como: osteoporose, aumento da massa gorda acarretando uma possível diabete, aumento do colesterol ruim (LDL), triglicerídeos, redução do colesterol bom (HDL), problemas coronarianos, diminuição da autovalia pela baixa produção de progesterona, depressão pelo desequilíbrio da captação da serotonina e dopamina, dentre outras. 

Postado por: Suzana Gonçalves

Fonte:                  
LESSA, P.; OSHITA, T.A.D.; VALEZZI, M. Quando as mulheres invadem as salas de musculação: aspectos biossociais da musculação e da nutrição para mulheres. Disponível em: http://www.cesumar.br/pesquisa/periodicos/index.php/iccesumar/article/view/551/466

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