terça-feira, 5 de julho de 2011

Álcool e sobrepeso

O consumo e a fabricação de bebidas alcoólicas fazem parte de um costume  presente na cultura da maioria dos povos. Apesar do interesse nas pesquisas relacionado à bebida alcoólica estar geralmente ligado a seus efeitos no sistema nervoso central, deve-se lembrar de que, uma vez que é obtido por meio de um processo natural decorrente da fermentação de alimentos que contêm açúcar, o álcool fornece  7,1 kcal/g .
 O álcool tem a capacidade de suprimir as necessidades calóricas diárias de um indivíduo e/ou levá-lo ao sobrepeso, dependendo da quantidade, freqüência e modo de consumo. Mesmo com o aumento da atividade física nos indivíduos alcoolistas, muitas vezes isso não é suficiente para compensar a grande quantidade de calorias ingeridas. Assim, muitas pessoas dependentes de álcool apresentam obesidade, sobrepeso e até circunferência da cintura acima dos padrões esperados.
O trabalho à seguir discute o efeito do álcool no metabolismo energético e suas conseqüências no peso corporal.Verificou-se na área metropolitana de São Paulo  que 30,8% da população consome habitualmente algum tipo de bebida alcoólica, a mais freqüentemente relatada foi a cerveja, seguida pela cachaça e pelo vinho.  Nos Estados Unidos, o álcool tem fornecido cerca de 6% a 10% das calorias diárias dos analisados, sendo relatado como o terceiro maior fornecedor de energia, logo após o pão branco e doces. Estima-se que o álcool fornece, dentro das calorias diárias dos norte-americanos, 5% da energia nos consumidores moderados (que bebem até sete doses semanais), chegando até 20% da energia para aqueles que bebem até 25 doses por semana.
O álcool é uma fonte de energia diferente de todas as outras, pois  ele não pode ser estocado no organismo. Por ser uma substância tóxica, deve ser eliminado imediatamente . Assim, durante o metabolismo o álcool tem prioridade,  o que altera outras vias metabólicas, incluindo a oxidação lipídica, o que favorece o estoque de gorduras no organismo, que se depositam  na área abdominal . Para cada grama de álcool metabolizado, são formadas 7,1 kcal/g, uma fonte energética considerável, ao se comparar as proteínas (4 kcal/g), carboidratos (4 kcal/g) e lipídios (9 kcal/g).Acredita-se que pessoas habituadas a ingerir doses altas de álcool não seriam capazes de aproveitar toda caloria fornecida por ele.
 Um trabalho aponta que nem todas as pessoas aproveitam as calorias do álcool da mesma maneira: as mais magras tendem a não aproveitar suas calorias de forma eficiente, ao contrário de indivíduos com IMC (Índice de Massa Corpórea) mais elevado. Ao introduzir, por três meses consecutivos, 30 g de álcool na dieta  de pacientes, aqueles com IMC > 25 kg/m2 usaram a energia  do álcool mais eficientemente do que aqueles com IMC < 25 kg/m2,  que necessitaram de um suplemento calórico para conseguirem manter seu peso. Pode-se concluir que em obesos as calorias do álcool são mais bem aproveitadas, podendo até contribuir para o ganho de peso.
As calorias fornecidas pelo álcool podem alterar o perfil dietético. A intensidade com que essas mudanças  ocorrem e se manifestam no indivíduo está diretamente relacionada com a constância e quantidade na  ingestão alcoólica. Sabe-se que o álcool supre o alimento na dieta de dependentes graves; portanto, o alcoolista grave é descrito normalmente como um paciente desnutrido, uma vez que a ingestão alcoólica substitui calorias e nutrientes adequados. Porém na ingestão moderada, o álcool  pode ser uma fonte adicional de energia, sendo somada à dieta habitual da paciente. Esse tipo de fonte calórica é conhecida como "calorias vazias", uma vez que, apesar de seu alto valor energético, faltam nutrientes essenciais como proteínas e  vitaminas. Deve- se considerar também   a composição dos alimentos que são consumidos jutos com o álcool.
É de suma importância destacar que o álcool é apontado também como estimulador de apetite. Estudos que verificaram o consumo alimentar feito uma hora após ingestão alcoólica confirmaram esse dado ; em  uma revisão bibliográfica atual, apontam que o álcool estimularia vários sistemas implicados no controle de apetite.
 Quando a ingestão alcoólica supera 25% a 50% das calorias totais diárias, estas não são utilizadas eficientemente como fonte de energia, pois o excesso de calorias ingeridas na forma de álcool não pode ser estocado. Assim, ocorrem desvios metabólicos para priorização da desintoxicação do álcool, com perda significativa de energia,  o que transforma o álcool em causa da desnutrição primária, pelo fato de deslocar os nutrientes da dieta e  de desnutrição secundária, por ser responsável pela má absorção e agressão celular resultantes de sua toxicidade no organismo.
 Pode-se concluir que no Brasil, como na maioria dos países da América Latina, a obesidade tem aumentado significativamente nas últimas décadas,  a quantidade de álcool consumida, assim como a de alimentos ingeridos, é importante para repercutir no ganho de peso. É relevante também o fato de esse consumo alimentar ser adicionado ou substituído pelo álcool. E também o valor energético dos alimentos  somado ao consumo alcoólico e o consumo deve ser observados na relação de ganho de peso
Deve-se  lembrar que as respostas ao consumo de álcool são diferentes de um indivíduo para o outro e são determinadas por diferentes fatores, como o genético ( ainda desconhecido). Devemos questionar não somente se as calorias do álcool devem ser contabilizadas, mas também como elas são aproveitadas pelo organismo. O álcool encontra  respostas diferentes , dependentes de cada indivíduo e o ganho de peso relacionado ao consumo de álcool segue a mesma tendência. O aumento do consumo alcoólico pode diminuir o ganho de peso, mas também aumenta a sua toxicidade. Nesse sentido, conhecer o valor calórico do álcool e analisar a quantidade diária consumida devem fazer parte da avaliação nutricional, a fim de que esse importante dado seja considerado tanto no cálculo dietético para controle de peso do indivíduo, como  para caracterizar a desnutrição.

Postado  por : Clara Igel

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