Nos últimos anos,tem -se dado uma atenção especial à composição e aos aspectos fisiológicos da fração lipídica do leite humano . A média do conteúdo de gordura no leite materno é de 3,8g/100ml, porém este valor pode variar amplamente. O lipídio está presente no leite materno na forma de glóbulos de gordura, os quais são sintetizados pelas células alveolares mamárias. Esta síntese é estimulada pelo esvaziamento do seio materno durante a amamentação.
A porção lipídica do leite materno representa a maior fonte de energia para crianças amamentadas, contribuindo com 40 a 55% do total de energia ingerida, e fornece os nutrientes essenciais tais como ácidos graxos poliinsaturados (AGPI), vitaminas lipossolúveis ,incluindo ácido linoléico e a-linolênico; esses ácidos por não serem sintetizados pelo organismo constituem-se em ácidos graxos essenciais (AGE) . Tais elementos estruturais são fundamentais à síntese de lipídios de tecidos, e têm uma função primordial na regulação de vários processos de transporte, metabólicos e de excreção. A falta de AGE na alimentação do homem leva a alterações no crescimento, imunológicas,na pele, neurológicas, e graves transtornos comportamentais.
A qualidade dos lipídios da dieta materna tem influência direta no perfil de ácidos graxos do leite secretado . Uma dieta rica em carboidratos poderá ajudar na síntese endógena dos ácidos graxos de cadeia curta e média , já uma dieta rica em ácidos graxos poliinsaturados vai determinar elevados níveis destes no leite secretado .
Em contrapartida crianças que recebem leite contendo baixo teor de lipídios tendem a mamar mais freqüentemente e por maiores períodos de tempo, causando um aumento no volume do leite. Há uma relação positiva entre o ganho de peso durante a gestação e o conteúdo de lipídios do leite .Dessa forma, a relação entre a ingestão dietética materna de lipídios a concentração de lipídios no leite e a composição corporal adiposa materna é de crucial importância na nutrição infantil durante o aleitamento.
Os lipídios do cérebro são ricos em ácidos graxos poliinsaturados , e estes possuem papel fundamental no crescimento do tubo neuronal, envio de sinais e excitabilidade das membranas neurais, e na expressão de genes que regulam a diferenciação celular e o crescimento . Aproximadamente 10% do peso do cérebro e 50% do peso seco é composto por lipídio, sendo metade do peso formado por fosfolipídio. Estes ácidos graxos têm importante função no processo visual e neural.
A ingestão dietética adequada desses Ácidos graxos insaturados de cadeia longa ou de seus precursores durante o período perinatal é de suma importância para o crescimento fetal e neonatal, comportamental, para o desenvolvimento e para as funções neurológica, e de aprendizagem; a nutrição intra-uterina pode interferir diretamente no risco do desenvolvimento de doenças crônicas na fase adulta , entende-se que o padrão de nutrição no início da vida pode "marcar" a pessoa. Isso enfatiza a importância da adequação dietética de AGPI essenciais durante a gravidez,lactação e a infância. O papel fisiológico dos ácidos graxos (ômega 3) no desenvolvimento neural e visual da criança tem sido analisada constantemente atualmente. Um estudo com 83 crianças que receberam somente aleitamento materno por pelo menos três meses, analisaram as células vermelhas do sangue e as concentrações de ácidos graxos no plasma nas crianças com dois meses de idade, a acuidade visual com 2, 4, 6 e 12 meses, progresso no desenvolvimento da linguagem com nove meses e índice de desenvolvimento psicomotor e visual com 6 e 12 meses. Eles relataram correlação positiva do Ácido Graxos com medidas de acuidade visual e progressão no desenvolvimento da linguagem.
Estudos têm demonstrado que a carência de Ácido Graxos pode influenciar no desenvolvimento do cérebro e da retina ,isso resulta em diminuição da função visual , déficits de aprendizado e alterações no metabolismo . Outros estudos clínicos demonstram que em proporções adequadas os ácidos graxos podem aumentar a acuidade visual, o desenvolvimento motor e o aprendizado da linguagem em crianças prematuras. Os ácidos graxos insaturados são mais comumente encontrados na gordura vegetal(Monoinsaturada: azeite, óleo de canola, oleaginosas; Polisaturadas : óleos vegetais e peixes gordurosos), enquanto os saturados são mais encontrados em gordura animal.
A presença dos Ácidos Graxos no leite influencia no desenvolvimento do sistema imune da criança, agindo na produção de células T (ataca células que se tornam anormais, geralmente tumorais ou infectadas por vírus). Isso é importante,visto que a função do linfócito T não é muito desenvolvida no nascimento . Crianças que nasceram com algum grau de imaturidade imunológica passam a ser alvos fáceis à infecções e a alergias. A redução da habilidade da criança em responder ao “ ataque” de patógenos deve –se a diminuição de células T em seu organismo.
Portanto, que os Ácidos graxos devem estar disponíveis em quantidades adequadas durante o período crítico de crescimento e desenvolvimento em vários órgãos e tecidos para prevenção de doenças na vida adulta. A quantidade de ácidos graxos poliinsaturados que cada criança recebe por dia através do aleitamento pode variar de acordo com o estágio de lactação e a dieta materna.
Pode-se concluir que a qualidade dos lipídios dietéticos ofertados através do leite materno durante os primeiros meses de vida, é determinante no desenvolvimento e no crescimento infantil, assim como na resposta imunológica da criança contra agentes infecciosos e na prevenção de doenças na vida adulta. Recomenda-se que a dieta da gestante e lactante contenha suficientes quantidades de Ácidos Graxos essenciais para suprir as necessidades fetais e do neonato. Se a dieta é insuficiente para atender as necessidades fisiológicas, os estoques corporais podem ser utilizados como um suprimento adicional.
Postado por : Clara Igel
Fonte : http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2007000300011&lang=pt
Nenhum comentário:
Postar um comentário