A fabricação e o consumo de bebidas alcoólicas constituem uma
tradição presente na cultura de todos os povos. De forma ritual ou social, o
álcool é apreciado em função de seu sabor e outros efeitos inebriantes que dele
provêm. Apesar da bebida alcoólica estar
geralmente ligada a seus efeitos no sistema nervoso central, deve-se lembrar de
que, uma vez que é obtido por meio de um processo natural decorrente da
fermentação de alimentos que contêm açúcar, o álcool fornece calorias – 7,1
kcal/g –, podendo, assim, ser considerado um nutriente.
E já
que possui valor energético, ele tem a habilidade de suprimir as necessidades
calóricas diárias de um indivíduo e/ou levá-lo ao sobrepeso, dependendo da
quantidade, frequência e modo de consumo. Mesmo com o aumento do gasto energético
basal nos indivíduos alcoolistas, muitas vezes isso não é suficiente para
compensar a grande quantidade de calorias ingeridas. Assim, muitos dependentes
de álcool apresentam sobrepeso, obesidade e até circunferência da cintura acima
dos padrões esperados.
Um estudo realizado na
área metropolitana de São Paulo verificou que 30,8% da população consome
habitualmente algum tipo de bebida alcoólica. A bebida mais consumida é a
cerveja, seguida pela cachaça e pelo vinho. Observou-se que 18% das pessoas
consomem acima de 16,8 g de etanol, o que representa uma contribuição calórica
média de 1,2% da dieta.
O álcool é uma fonte de energia diferente de todas as outras, pois
não pode ser estocado no organismo. Como uma substância tóxica, deve ser
eliminado imediatamente. Assim, o álcool tem prioridade no metabolismo,
alterando outras vias metabólicas, incluindo a oxidação lipídica, o que
favorece o estoque de gorduras no organismo, que se depositam preferencialmente
na área abdominal.
Para cada grama de etanol metabolizado, são formadas 7,1 kcal/g,
uma fonte energética considerável, comparando-se aos carboidratos (4 kcal/g),
proteínas (4 kcal/g) e lipídios (9 kcal/g). Trabalho realizado por Clevidence et al. (1995) aponta que nem todas as pessoas
aproveitam as calorias do álcool da mesma maneira: as mais magras tendem a não
aproveitar suas calorias eficientemente, ao contrário de indivíduos com IMC mais
elevado. Ou seja, em obesos as calorias do álcool são mais bem aproveitadas,
podendo até contribuir para o ganho de peso.
É importante ressaltar ainda que o álcool é apontado também como
estimulador de apetite. Estudos que verificaram o consumo alimentar realizado
uma hora após ingestão alcoólica confirmou esse dado.
No Brasil, como na maioria dos países da América Latina, a
obesidade tem aumentado significativamente nas duas últimas décadas. Dados do
IBGE, (entre 2002 e 2003) revelaram que 40,6% dos adultos brasileiros
apresentam sobrepeso e 11%, obesidade, sendo as mulheres a maioria. Diferentes
fatores de risco têm sido identificados, dos quais a diminuição da capacidade
de oxidar lipídios e as dietas de alta densidade calórica aparecem como fatores
de alta importância e são ambos correlacionados com o consumo de álcool.
Assim,
tanto a quantidade de álcool consumida como a de alimentos ingeridos, é
importante para repercutir no ganho de peso. É relevante também o fato de esse
consumo alimentar ser adicionado ou substituído pelo álcool. E, sobretudo, o
valor energético dos alimentos adicionados ao consumo alcoólico e o patamar de
consumo devem ser observados na relação de ganho de peso.
Não
se deve deixar de lembrar que as respostas ao consumo de álcool são diferentes
de um indivíduo para o outro e são determinadas por fatores individuais e por
possíveis fatores genéticos desconhecidos. Deve-se questionar não somente se as
calorias do álcool devem ser contabilizadas, mas também de que maneira elas são
aproveitadas pelo organismo. O aumento do consumo alcoólico pode diminuir o
ganho de peso, mas também aumenta a sua toxicidade.
Referência:
Kachani, Adriana Trejger ;et al. O impacto do
consumo alcoólico no ganho de peso. Rev. psiquiatr. clín. v.35 , supl.1 São
Paulo, 2008.
Postado por: Geisiane e Sandra
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