Transtornos alimentares (TA) são distúrbios
psiquiátricos de etiologia multifatorial caracterizados por consumo, padrões e
atitudes alimentares extremamente perturbadas e excessiva preocupação com o
peso e a forma corporal. O diagnóstico de um TA tem critérios estabelecidos
pela Organização Mundial de Saúde, no Código Internacional de Doenças3,
e pela Associação de Psiquiatria Americana, no Manual de Estatísticas de
Doenças Mentais (DSM-IV), e deve ser feito preferencialmente por um psiquiatra.
A baixa prevalência e incidência dos TA torna os estudos de prevalência ou
incidência de difícil realização. A utilização de entrevistas estruturadas
feitas por psiquiatra para diagnóstico é inviável em grandes estudos, assim
instrumentos de avaliação – como questionários – foram desenvolvidos tendo a
vantagem da objetividade, baixo custo e possibilidade de exploração
estatística. Estudos epidemiológicos com TA são complexos e difíceis de serem
realizados, portanto pesquisas sobre comportamento de risco podem dar um
indício do problema em determinado local e população.
Os impactos positivos da prática regular de exercícios
físicos para a saúde são evidenciados na literatura por meio de estudos
epidemiológicos. Benefícios fisiológicos como manutenção do peso corporal,
prevenção de doenças cardiovasculares e osteoarticulares, controle da pressão
arterial e dos níveis de colesterol, além de benefícios psicológicos e sociais
como melhora da autoestima e do convívio social, prevenção de depressão e
estresse são exemplos desse impacto. No entanto, indivíduos com transtornos
alimentares (TA) frequentemente não se beneficiam, na medida em que podem
utilizá-los como estratégia para perder peso de forma inadequada e por vezes de
forma compulsiva. Diferentes autores descrevem a relação entre o comportamento
compulsivo e a prática de exercícios físicos nesses pacientes, embora características
e definições não sejam consensuais.
Sugere-se que aproximadamente 80% dos pacientes
com diagnóstico de anorexia nervosa (AN) e 55% dos pacientes com bulimia
nervosa (BN) praticam exercício físico de forma compulsiva em algum momento de
sua história clínica. Estudos mostram que os TAs também podem ser encontrados
em atletas de alto nível; ginastas, jóqueis e corredores olímpicos colocam-se
ao lado de bailarinas profissionais entre as populações de maior prevalência
Para verificar se o exercício físico compulsivo
seria parte de um transtorno alimentar ou uma prática excessiva isolada, Adkins
e Keel dividiram uma amostra de
265 universitários (sendo 162 mulheres e 103 homens, incluindo desde atletas
até indivíduos que não praticavam exercícios regularmente) em dois grupos e
realizaram um estudo no qual concluiu que a qualidade do exercício predizia
positivamente a presença de sintomas de BN, enquanto a quantidade de exercício
não. Esse achado sugere a ideia de que o exercício "não saudável"
pode constituir um sintoma de BN quando ele é compulsivo e não excessivo
baseado nos critérios quantitativos.
Ainda não há consenso sobre o termo que melhor
caracterize o indivíduo com TA que pratica exercícios físicos de forma
inadequada. A revisão de literatura possibilita considerar que
"excesso" de exercícios não deve ser analisado apenas em quantidade,
mas igualmente qualitativamente.
Postado por: Thais C. S. Silva
Referência:
Alvarenga, MS et AL, Comportamento de risco para transtorno alimentar em universitárias brasileiras. Rev. psiquiatr. clín. vol.38 no.1 São Paulo 2011
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