O comprometimento de sistemas funcionais como o piramidal, cerebelar, sensitivo, visual, cognitivo e tronco encefálico é comum em pessoas com EM e pode acarretar o desenvolvimento de várias condições que, por sua vez, influenciam a capacidade funcional e a prática de atividades físicas. Dentre estas podemos citar:
Fadiga: é um sintoma freqüentemente relatado por pessoas com EM. Caracteriza-se por um sentimento incontrolável de apatia, exaustão e falta de energia, sendo considerada uma das principais causas da incapacidade para o trabalho e isolamento social.
Espasticidade: trata-se de uma desordem motora caracterizada pelo aumento do tônus muscular, decorrente da hiperexcitabilidade do reflexo de estiramento velocidade-dependente. A espasticidade presente em pessoas com EM geralmente está relacionada ao curso da doença, podendo trazer prejuízos à execução de movimentos de membros superior e inferior, reduzir a locomoção, dificultar a execução de habilidades motoras finas e interferir na manutenção da postura, conforto, higiene e em funções da bexiga e intestino.
Déficit sensorial: diminuição do senso de posicionamento de membros, parestesias e perda de sensibilidade a dor são os sintomas mais comuns. A presença desses sintomas afeta a coordenação das extremidades dos membros e conseqüentemente a marcha.
Em geral, pesquisas revelam a tendência à adoção de um estilo de vida sedentário por pessoas com EM. Como fatores prováveis desta tendência podemos destacar a presença da fadiga característica, distúrbios da marchae ainda a orientação para conservação de energia e redução de esforços intensos. Contudo, como para a população saudável, as pessoas com EM parecem beneficiar-se com a obtenção de níveis adequados de atividade física.
Indicações de exercícios físicos para pessoas com esclerose múltipla
O primeiro passo, antes de iniciar qualquer programa com exercícios físicos para pessoas com EM consiste em compreender o quadro clínico do aluno. Nesse aspecto seu médico deve ser consultado. Esse profissional poderá fornecer informações precisas a cerca do estágio de progressão da doença e das especificidades do quadro clínico atual. Poderá ainda indicar dificuldades e limitações fisiológicas peculiares de cada paciente, o que pode ser fundamental para a determinação de um programa adequado de exercícios.
A segunda etapa a considerar é verificar o histórico de atividades físicas e as principais dificuldades decorrentes de incapacidades. Informações sobre a adaptação de exercícios e preferências do indivíduo por alguma atividade específica são valiosas e devem ser registradas.
Por último, destacamos a necessidade de avaliação da função motora. O estabelecimento de parâmetros para avaliação pode ser útil para quantificar a evolução do aluno.
Considerando as capacidades, limitações e objetivos pessoais de cada indivíduo pode-se estabelecer o programa mais adequado de exercícios físicos. De maneira geral recomenda-se exercícios de volume e intensidade moderada, com sessões em dias intercalados que permitam sua adequada recuperação.
Orientações
Baseados em informações contidas nos diversos estudos divulgados na literatura científica e na experiência dos autores com a orientação de exercícios físicos para pessoas com EM, será exposto, a seguir, alguns pontos relevantes para uma orientação, segura e eficaz, de exercícios físicos para pessoas com EM:
- Estabelecer contato com o médico do aluno a fim de obter informações relevantes para a elaboração do programa de exercícios físicos.
- Cuidados para controle da fadiga.
- Elaborar o programa contemplando a alternância de períodos de esforço e descanso.
- Preferir o horário do dia em que o aluno menos sinta os efeitos da fadiga.
- Cuidados para evitar o aumento da temperatura corporal.
- Algumas estratégias têm sido sugeridas, incluindo o uso de salas climatizadas ou bem ventiladas, a adoção de práticas no período da manhã, hidratação adequada e imersão do corpo em água fria até a cintura, exceto em situação onde possa ocorrer exacerbação da espasticidade.
- Cuidados com a espasticidade.
- Evitar temperatura em meio aquático, inferior a 27º.
- Evitar exercícios com alta velocidade de contração.
- Estabelecer o programa de exercícios físicos conforme as preferências do aluno e de acordo com suas capacidades. Em alguns casos, o aluno pode não ser capaz de atingir e manter uma intensidade de esforço suficiente para promover alterações no sistema aeróbio. Nesses casos, a opção por exercícios de fortalecimento muscular pode ser a melhor alternativa.
- Facilitar o acesso a sanitários. Pessoas com EM freqüentemente apresentam urgência urinária.
- Manter diálogo constante com o aluno. Esse hábito possibilitará ao profissional o reconhecimento do impacto diário da fadiga e, assim, facilitará o dimensionamento da carga e volume de cada sessão de treino.
- Embora a prática de atividades em ambiente aquático seja indicada, faz-se necessário evitar temperaturas inferiores a 27°, devido ao risco de exacerbação da espasticidade, e superiores a 29°, pois algumas pessoas apresentam sensibilidade ao calor, podendo ter aumento da fadiga e presença de distúrbios oftalmológicos.
- Evitar a prática de exercícios físicos em períodos de surto da doença. Após a recuperação do aluno a atividade poderá ser reiniciada e um novo programa deverá ser estabelecido.
O resultado de estudos publicados nos últimos anos tem apontado o aspecto salutar da adoção de um estilo de vida ativo por pessoas com EM.
Postado por: Dayane Oliveira Fiuza
Referência:
FURTADO, Otávio Luis Piva da Cunha; TAVARES, Maria da Consolação Gomes Cunha Fernandes. Orientação de exercícios físicos para pessoas com esclerose múltipla. Efdeportes, São Paulo, v. 99, ago. 2006.
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