sábado, 14 de setembro de 2013

Triade de atleta

O modelo de beleza imposto pela sociedade atual corresponde a um corpo magro sem, contudo, considerar aspectos relacionados com a saúde e as diferentes constituições físicas da população. Esse padrão distorcido de beleza acarreta um número cada vez maior de mulheres que se submetem a dietaspara controle do peso corporal, ao excesso de exercícios físicos e ao uso indiscriminado de laxantes, diuréticos e drogas anorexígenas. Devido a esta pressão de alcançar ou manter o peso corporal extremamente baixo e tendo em vista o ambiente esportivo como um meio ampliador de pressões socioculturais, surge-se então a tríade da mulher atleta.

Em 1993, o Colégio Americano de Medicina Esportiva publicou a conferência de consenso onde esse termo “Tríade da Mulher Atleta” (TMA) foi oficializado para descrever a síndrome que engloba: desordem alimentar, amenorréia e osteoporose na mulher atleta. Assim, em esportes onde o peso corporal é enfatizado tanto para a atividade atlética como para aspectos físicos há um maior risco para a sua ocorrência.

A princípio todas as mulheres e adolescentes fisicamente ativas estão em risco de desenvolvimento da tríade, porém atletas que enfatizam um baixo peso corporal e as praticantes de atividades como: aeróbica, corrida, corrida de cavalo, dança, ginástica, luta, natação, patinação artística, voleibol, entre outras correm maior risco. Mulheres que apresentarem um componente da tríade devem ser avaliadas para a possível identificação dos outros.

A alimentação desordenada, a amenorréia e a osteoporose são componentes que quando interligados caracterizam a tríade da atleta. O desenvolvimento de padrões alimentares anormais e prejudiciais pode variar desde a restrição de alimentos, passando por exageros alimentares e purgação (vômito induzido), podendo resultar em distúrbios alimentares, que levam à disfunção menstrual e, consequentemente, à osteoporose, sendo, portanto, necessário o controle dos sintomas dessas alterações. As mulheres que são biologicamente capazes de menstruar, ainda que não o façam, possuem uma condição conhecida como amenorréia. Quando a causa está diretamente relacionada à participação no exercício, a condição é denominada amenorréia atlética. Historicamente, acreditava-se que o mecanismo que provoca a amenorréia atlética fosse uma reduzida porcentagem de gordura corporal, atribuída a demanda calórica adicional ao exercício. Entretanto, sabe-se agora que o conteúdo de gordura corporal não provoca diretamente essa condição.

Mulheres que treinam repetidamente se expõem a concentrações aumentadas de catecolaminas, β-endorfinas e cortisol, que são conhecidos por exercerem alguma inibição na função da hipófise anterior e, mais especificamente, inibir a liberação de hormônio liberador de gonadotrofina. Entretanto, o mecanismo exato que explica a amenorréia atlética permanece obscuro. Todavia, sabe-se que a amenorréia atlética deve-se a uma liberação alterada de LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio folículo estimulante), indicando que a irregularidade está presente na regulação do eixo hipotálamo-hipófise de secreção de LH e FSH. As concentrações reduzidas de LH e FSH evitam a estimulação do folículo do ovário e, consequentemente, evitam a síntese e a secreção de estradiol pelo ovário.Tem sido proposto que o desenvolvimento da amenorréia atlética começa com uma diminuição da duração da fase lútea.

Entretanto, alterações mínimas na duração da fase lútea e na função, menstrual têm sido relatadas em mulheres que se envolvem em um treinamento físico envolvendo distâncias e intensidades moderadas.

Consequentemente, as mulheres que participam de exercícios extremos de longa distância e alta intensidade podem estar mais aptas a desenvolver a amenorréia atlética e essa condição é sustentada por pesquisas que têm mostrado que a amenorréia atlética pode ser revertida com uma redução da intensidade ou do volume de treinamento. A interrupção do ciclo menstrual tem outras implicações para a mulher, além de ser um método anticoncepcional natural. A ausência do FSH (hormônio folículo estimulante) e do LH (hormônio luteinizante) impede o desenvolvimento de um folículo do ovário, do qual o estradiol e a progesterona são produzidos. A incapacidade da mulher de produzir estradiol ovariano reduz de maneira crônica as concentrações de estradiol circulante, que aumenta a taxa de reabsorção óssea, aumentando, portanto, o risco de osteoporose precoce. Além disso, há evidência de uma relação entre as mulheres com irregularidades no ciclo menstrual e uma maior incidência de lesões músculo esqueléticas.

Pesquisas indicam que a prevalência, nos Estados Unidos, de irregularidades menstruais entre as esportistas, atinge índices de até 66% comparativamente ao restante da população feminina, o qual apresenta cifras de 2% a 5%, mostrando que a ocorrência da amenorréia é maior em mulheres atletas em relação às não-atletas.

Atualmente, a incidência de amenorréia e irregularidades menstruais vem aumentando em mulheres atletas e dançarinas. Estima- se a prevalência de amenorréia em 30 a 50% nas bailarinas profissionais, 50% em corredoras competitivas, 25% em corredoras não competitivas e 12% em nadadoras e ciclistas.

Outro componente da tríade é a osteoporose que se caracteriza pela diminuição da densidade dos minerais dos ossos do esqueleto, aumentando o risco para deformidades estruturais e fraturas ósseas. Nas adolescentes e nas mulheres jovens, em particular, as pressões sociais e esportivas de elite podem causar o estabelecimento de distúrbios alimentares que, juntamente com a interrupção do ciclo menstrual, podem aumentar ainda mais o risco para a osteoporose. A interrupção do ciclo menstrual (amenorréia) impede que o corpo sintetize o estrógeno, que possui efeito protetor sobre os minerais dos ossos nas mulheres. O papel do estrógeno nessa tríade torna as mulheres após a menopausa mais susceptíveis a osteoporose e explica, parcialmente, a importância da terapia de reposição do estrógeno tanto nas mulheres jovens (amenorréia induzida pelo exercício) quanto nas mais velhas após a menopausa.

A tríade da atleta é uma síndrome séria que pode afetar as atletas de elite, assim como as garotas e mulheres comuns e fisicamente ativas. Essa síndrome pode resultar na diminuição do exercício e do desempenho físico, assim como no aumento do risco para a morbidade e mortalidade precoces. Assim, com o intuito de prevenir e tratar essa síndrome é necessário ressaltar para mulheres e adolescentes fisicamente ativas a importância de uma alimentação balanceada que alcance a ingestão adequada de micronutrientes (ferro ecálcio) e de macronutrientes, uma vez que estes exercem funções essenciais para um bom desempenho físico.

Postado por: Ingrid M. de Souto e Nivalda Oliveira

Fonte:

MANTOANELLI, G.; VITALLE M. S. S; AMANCIO O. M. S. Amenorréia e osteoporose em adolescentes atletas.Revista de Nutrição, Campinas, v.15, n.3, p. 319-332, 2002.

OLIVEIRA, F. P.; BOSI, M. L. M; VIGÁRIO, P. S.; VIEIRA, R. S. Comportamento alimentar e imagem corporal em atletas. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, São Paulo, 2003.

PARDINI, D. P. Alterações hormonais da mulher atleta. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia Metabólica, São Paulo, v.45, n.4, 2001.

ROBERGS, R. A.; ROBERTS, S. O. Princípios Fundamentais de Fisiologia de Exercício: para aptidão, desempenho e saúde. São Paulo, Phorte Editora, 2002. 467p.

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