sábado, 10 de maio de 2014

Anorexia o que é, e como tratar?


A primeira manifestação desta afecção é uma restrição dietética auto-imposta e insidiosa, acompanhada de exercícios físicos planejados para redução do peso e quase sempre despercebidos pelos familiares. Normalmente, inicia-se na adolescência, pelo fato das transformações corporais e o medo exagerado de engordar, exigindo uma adaptação à imagem corporal. Embora exista uma grande controvérsia na
definição dos sintomas desta patologia alimentar, os critérios estabelecidos são os mais utilizados por investigadores clínicos e apresentam como as características diagnósticas principais da AN: recusa em manter o peso corporal acima do peso mínimo normal para altura e idade; perda de peso abaixo dos 85% do peso esperado para altura e idade; recusa em ganhar o peso esperado durante o período de crescimento, conduzindo a uma perda de peso corporal abaixo dos 85% daquele esperado; medo intenso de engordar ou aumentar o peso, mesmo com peso inferior ao normal; distúrbio da imagem corporal; excessiva dependência do peso ou tamanho do corpo para a auto-imagem; negação da doença; amenorreia, no caso das mulheres, ou ainda perda de pelo menos três ciclos menstruais consecutivos. Ainda se descreve dois subtipos de anorexia nervosa: anorexia nervosa restritiva, a qual ocorre quando o emagrecimento acontece em virtude de dietas, jejuns ou exercícios em excesso; anorexia nervosa compulsiva periódica purgativa ou bulímica, advinda do fato do indivíduo dedicar-se regularmente a purgações que incluem vômitos auto-induzidos, abuso de laxantes ou diuréticos durante o episódio atual de anorexia nervosa.
A hospitalização é frequentemente indicada quando ocorre uma perda de peso severa e rápida ou ainda quando uma depressão importante apresenta-se concomitantemente. As queixas apresentadas anteriormente à hospitalização geralmente são vagas e os pacientes frequentemente demonstram falta de preocupação
em virtude da sua perda de peso. Vários são os achados físicos e laboratoriais referentes à presença de AN tais como unhas quebradiças, penugem facial rala, redução do volume capilar, carotenodermia, redução no número de células CD4 e CD8, anemia, leucopenia, redução da taxa de sedimentação dos eritrócitos, bradicardia, hipotensão, hipoglicemia, hipercolesterolemia, hipocalemia, diabetes insipidus, dentre outros.
Nota-se, portanto, que esta doença conduz a uma significante morbidez biológica, psicológica e social, que pode até mesmo ser fatal. À medida que o quadro se instala, o corpo é constantemente negado, a tal
ponto que se exime de ser um corpo vivo e desejante.
Os portadores da AN, mesmo acometidos por diversas alterações orgânicas, utilizam os exercícios físicos como um comportamento compensatório, no intuito de queimar gorduras ou calorias provenientes da ingestão de comida ou bebida . Tipicamente, os indivíduos acometidos por tal patologia elegem a prática de
exercícios aeróbios, de moderados a vigorosos, o que gera uma alta morbidade em virtude da sua associação com regimes alimentares anormais. A primeira conseqüência deletéria derivada da associação entre a redução de peso excessiva e prática de exercício físico, em estado de má nutrição, é a perda de massa muscular e, por conseguinte, a debilidade física. A segunda conseqüência do baixo peso corporal seria a amenorreia derivada da redução do estrogênio, a qual pode levar ao enfraquecimento ósseo, mesmo com a reposição hormonal.
Os efeitos da nutrição empobrecida no sistema cardio circulatório representam também um grave risco aos pacientes portadores da AN que se submetem a exercícios físicos, pois o coração destes indivíduos diminui de tamanho e torna-se mais fraco. A hipotensão é um fator importante neste processo, por ser mais um aspecto que contribui com a dificuldade do fornecimento de oxigênio aos tecidos durante a prática do exercício. A associação entre a hipotrofia cardíaca e baixa pressão sanguínea pode culminar no
prolapso da valva mitral e em arritmias, potencialmente fatais. Por sua vez, os vômitos freqüentes produzem desequilíbrio eletrolítico, podendo levar à câimbra, em virtude da redução do trifosfato de adenosina (ATP) ou dos níveis séricos de potássio, ataques epilépticos, anormalidades severas no ritmo cardíaco, até
mesmo paralisia respiratória e morte.
 A desnutrição aguda e os desequilíbrios hidroeletrolíticos facilitam e consolidam as alterações psíquicas oriundas de tal patologia.

 Tratamento

O tratamento compulsório da AN é claramente indicado quando o paciente é incapaz de aceita-lo, o que na maioria dos países significa a detenção hospitalar citação. Todavia, a responsabilidade legal se torna menos clara quando o perigo eminente de morte ou deterioração irreversível desaparece. A principal meta do tratamento da anorexia nervosa é o ganho de peso até o índice de massa corporal (IMC) acima de 19. Apesar da escassez de estudo na área apontam que 50% das pacientes se "recuperam totalmente" e isto significa o restabelecimento do peso, a normalização dos comportamentos alimentares e o retorno da
menstruação regular. Outros 30% tem uma recuperação parcial caracterizada por algum tipo de resíduo ou distúrbio no comportamento alimentar e pela falta de habilidade para manter o peso normal. E, finalmente, nos 20% restantes, a doença assume uma forma crônica, não apresentando qualquer sinal de remissão.
Outro estudo demonstra que em mais de 30% dos casos não há recuperação. Em média, é necessário de cinco a seis anos desde o diagnóstico à recuperação deste pacientes.
Uma das formas de tratamento utilizada em pacientes anoréxicos é a psicoterapia, embasada em diferentes correntes teóricas, as quais visam, em geral, a reorganização da maneira pela qual os pacientes percebem a própria realidade. O enfoque construtivista afirma que o desenvolvimento humano é contínuo e dá-se a partir da contínua reorganização do sistema. Para o construtivismo a anorexia nervosa é um episódio agudo ou crônico de desorganização. Assim, os transtornos alimentares são decorrentes de uma desorganização na maneira como as pacientes constroem a realidade, ou seja, como processam suas experiências e seu processamento vivencial de modo a torná-la um sistema em equilíbrio, mantendo coerentes sua percepção do mundo, do outro e do seu próprio eu.
O modelo cognitivista entende que há entre o mundo e o indivíduo uma intermediação da atividade do pensamento, ou seja, o modo como as pessoas se sentem e conseqüentemente se comportam é o resultado de uma atividade cognitiva contínua, atribuidora de significados aos eventos do mundo externo. Sendo assim, uma abordagem que contemple o modelo cognitivo-construtivista levanta a questão da superioridade do pensar sobre o sentir e agir e propõe um sentido inverso, segundo o qual nossas construções cognitivas são fruto de uma organização emocional. A psicoterapia tem justamente o intuito de refazer tal construção
da realidade, ou seja, desenvolver gradualmente, por parte do cliente, habilidades para responder às
pressões ambientais desafiadoras e a modificação de padrões emocionais para sua compreensão e regulação.
Outra abordagem psicoterapêutica que abre novas perspectivas no tratamento de pacientes com transtornos alimentares é a psicoterapia familiar, a qual afirma que a dinâmica familiar possui uma função de grande importância no tratamento de tais indivíduos. Esta forma terapêutica é fundamental para unir família-paciente para que, juntos, possam encontrar maneiras e alternativas variadas de reconstruir e resinificar suas vivências, pois esses pacientes usam o corpo para cenário de suas necessidades, desejos, proibições e condenações. A esta abordagem terapêutica, caberia transformar todo este cenário vivido pelo anoréxico em palavras e se libertar para relacionamentos mais adequados, sociais, trabalhando em conjunto com uma equipe multidisciplinar, abordando vários aspectos e considerando o caráter multifatorial do transtorno.
Existem vários modelos de tratamento familiar, entre eles, pode-se citar o Modelo Tradicional, o de Terapia Familiar Estrutural, o de Terapia Familiar Estratégica, o de Terapia Familiar Sistêmica e o Modelo Milão e Pós-Milão. Essas formas de tratamento estão centrados em Entrevistas individuais com as famílias, com o
objetivo de oferecer aos familiares um espaço que possibilite acolher sentimentos conflitantes como
culpa, raiva, hostilidade, assim como exercer uma função de suporte à angustia e à sensação de impotência presentes na maioria das famílias nos primeiros encontros. As sessões possibilitam, também, um espaço para perguntas, dúvidas e questionamentos, oferecendo esclarecimentos centrados na conscientização da família sobre a doença, seus riscos, o tratamento e a necessidade e importância da equipe multidisciplinar.
 Compete à psicoterapia desconstruir as histórias de restrição que o transtorno alimentar lhe impôs, desenvolvendo um sentido de confiança para que possam compartilhar as possíveis crises que irão surgindo ao longo dos encontros e manter ativa a luta pela mudança. Em alguns casos de AN, que apresentam comorbidade psiquiátrica, é necessária a abordagem psicofarmacológica. Os antidepressivos são bastante utilizados para tratar os sintomas depressivos, mas apresentam sucesso limitado. Os benefícios dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina na prevenção da recaída após o ganho de peso ainda
são incertos.

Postado por: Carolina Barsotti
Referencia bibliográficas:  http://linux.alfamaweb.com.br/sgw/downloads/161_065245_1.pdf

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