terça-feira, 14 de novembro de 2017

Pular refeições e efeitos metabólicos


O ato de pular refeições tem sido comum nos dias de hoje, justificado, principalmente, pela falta de tempo e rotina estressante que muitos levam. Em consequência, este perfil pode contribuir com inadequações na qualidade nutricional, sendo um dos motivos para o consumo excessivo de calorias, concentradas em refeições pontuais – dado que pode estar associado ao aumento no risco de doenças metabólicas como obesidade e diabetes.

A partir desta suposição, um recente estudo conduzido com 17 participantes correlacionou o hábito de pular o café da manhã com aumento nas concentrações de insulina após o almoço que, em longo prazo, poderia gerar inflamação de baixo grau, prejudicando a homeostase glicídica, possivelmente pela inflexibilidade metabólica exercida nestes casos. Em contrapartida, os autores verificaram aumento no gasto calórico e beta oxidação, fatores que são sugeridos em resposta ao jejum prolongado. Sobre estes últimos efeitos, devemos considerar os impactos deste estresse induzido e da adaptação que ocorre cronicamente, que faz com que vias catabólicas sejam menos estimuladas.  

Outro estudo, conduzido com dados de recordatórios de 24 horas de 4487 crianças australianas, apontou menor prevalência de sobrepeso quando há consumo de café da manhã. Ainda, os autores reforçam que este hábito pode levar a deficiência de micronutrientes importantes – como cálcio e ácido fólico - para o desenvolvimento infantil4. Embora seja um estudo observacional, é fundamental nos atentarmos a estas possíveis deficiências, com o objetivo de adequar o consumo alimentar de acordo com as necessidades individuais dos pacientes.

Entretanto, este tema ainda é muito controverso na literatura científica. Uma análise realizada com 240 participantes diagnosticados com síndrome metabólica identificou, a partir de recordatórios de 24 horas, que o hábito de pular o café da manhã não apresentou associação direta com o ganho de peso e outros parâmetros metabólicos, não suportando esta hipótese5. É importante ressaltar que este estudo apenas mostrou uma correlação com dados obtidos em um questionário aplicado em dois momentos em 1 ano, podendo gerar vieses durante a interpretação dos dados.

Portanto, este tema ainda precisa ser estudado em longo prazo para maiores conclusões sobre seus efeitos metabólicos, sendo mais importante respeitar os hábitos já estabelecidos e a individualidade bioquímica, estabelecendo estratégias nutricionais para reduzir o risco de doenças e a inflexibilidade metabólica.




Por: Thayná Galvão




FONTES:
ZALEWSKA, M.; MACIORKOWSKA, E. Selected nutritional habits of teenagers associated with overweight and obesity. Peer J.; 5: e3681,2017.

BATISTA-JORGE, G.C.; BARCALA-JORGE, A.S.; OLIVEIRA DIAS, A.F. et al. Nutritional status associated to skipping breakfast in Brazilian health service patients. Ann Nutr Metab; 69(1): 31-40, 2016.

NAS, A.; MIRZA, N.; HAGELE, F. et al. Impact of breakfast skipping compared with dinner skipping on regulation of energy balance and metabolic risk. Am J Clin Nutr; 105(6): 1351-1361,2017.

ZHANG, L.; CORDEITO, L.S.; LIU, J. et al. The association between breakfast skipping and body weight, nutrient intake, and metabolic measures among participants with metabolic syndrome. Nutrients; 9(4):E384, 2017

FAYET-MOORE, F.; KIM, J.; SRITHARAN, N. et al. Impact of breakfast skipping and breakfast choice on the nutrient intake and body mass index of Australian children. Nutrients; 8(8): E487, 2016.

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