Pensar a prática da ginástica no dias de hoje nos remete à práticas competitivas e excludentes, práticas com fins estéticos, na busca pela saúde e qualidade de vida. Por isso, precisamos ampliar nosso olhar para esta prática corporal na perspectiva de conhecermos outras atividades que possam proporcionar o lazer e o divertimento em uma perspectiva lúdica, inclusiva e alegre.
Antes de sua sistematização no século XIX, a ginástica, englobava práticas como: jogos populares e da nobreza, acrobacias, saltos, corridas, exercícios militares de preparação para a guerra, esgrima, equitação, danças e canto. A ginástica como “arte de exercitar o corpo nú”; nú na possibilidade de ser livre, lúdico, prazeroso e despido de práticas direcionadas. (Soares, 1998)
Em prol de finalidades como desenvolver a saúde, regenerar a raça, força para a guerra e para a indústria, moralizar, civilizar e padronizar. A ginástica foi sendo sistematizada em um movimento denominado de Movimento Ginástico Europeu, onde a ginástica acabou cedendo o lugar do lúdico para o cientifico “formatado”.
Segundo Soares (1998) a ginástica cientifica inaugura, portanto, o processo de “aprisionamento das formas/linguagens das práticas corporais” pelos círculos científicos europeus.
Esta ginástica cientifica rompe com as formas que antes eram atreladas às atividades circenses e encantavam a população no momento de apresentação dos espetáculos.
Os espetáculos de ilusionistas, acrobatas, contorcionistas, homens de físico hercúleo, anões, domadores, moças lindas e de corpo provocante exposto sob malhas de ginástica tinham como único objetivo divertir e despertar emoções. Não se visava representar nada, nem remeter o espectador a uma verdade mais profunda e oculta sob as aparências. Simplesmente cultuava-se o riso, a surpresa e a ilusão. (DUARTE, 1995, p.167)
É interessante ainda pensar nas relações entre os exercícios corporais realizados nos espetáculos circenses e aqueles mais tarde praticados pela população nas sessões de ginástica.
As artes circenses e a ginástica foram concebidas no século XIX como práticas corporais distintas, apesar de sua semelhança técnica. Soares (1998) nos mostra que a ginástica teve como fontes inspiradoras os movimentos de acrobatas e funâmbulos. Todavia, a partir da influência do discurso científico sobre o corpo e o exercício, tais movimentos passaram a ser criticados como nocivos à saúde e à moral.
A ginástica, então, passa a ser apresentada como produto acabado e comprovadamente científico. Radicaliza, no universo das práticas corporais existentes, a visão de ciência como atividade humana capaz de controlar, experimentar, comparar e generalizar as ações de indivíduos, grupos e classes. [...] A ginástica cientifica se apresenta como contraponto aos usos do corpo como entretenimento, como simples espetáculo, pois, trazia como princípio a utilidade de gestos e a economia de energia. (SOARES, 1998, p. 23)
Em minha dissertação de mestrado identifiquei, na cidade de Juiz de Fora que as companhias circenses que passaram pela cidade tinham em seus espetáculos números com trapezistas e ginastas. Eles eram elogiados por sua coragem e habilidade em realizar exercícios de difícil execução e de perigo. Os exercícios corporais chegaram primeiro aos olhos dos juizforanos. Mais tarde, remodelados pela ciência, tiveram lugar em suas práticas corporais.
A ginástica também aparece na cidade atrelada aos anúncios dos circos que comumente se apresentavam como companhias eqüestres, ginásticas e acrobáticas. Trata-se aqui dos exercícios ginásticos apresentados pelos artistas com fins de espetáculo e exibição. (SOARES, 2010)
Desenvolvimento
A defesa em favor da prática dos exercícios ginásticos exercida a partir dos argumentos médicos, especialmente as representações atreladas aos discursos da Higiene, também aparecem na cidade. De acordo com Carmen Lúcia Soares (2001, p.52), a ginástica nesta perspectiva era defendida a partir das finalidades de “regenerar a raça promover a saúde, desenvolver a vontade, a coragem, a força, a energia de viver e, finalmente, desenvolver a moral”.
Infelizmente essa imagem da ginástica cientifica ainda permea nossa sociedade, a ginástica ainda aparece vinculada a conquista da saúde, focando o homem como um ser meramente biológico, sem história e sem cultura.
Desta forma, sem se preocupar com o ser histórico, social e produtor e reprodutor de cultura, ginástica tem se focado em reforçar estereótipos de corpos belos, másculos.
Penso que a relação entre indivíduos e a ginástica a não deve ser apenas esta focada no ser biológico, precisamos estar atentos à participar e socialização de crianças, jovens, adultos e idosos (seres sócio, históricos e culturais) na perspectiva do lazer, do entretenimento, da diversão, da educação, entendendo o homem dentro de suas múltiplas capacidades.
Infelizmente em relação à ginástica, o que se apresenta em nossa sociedade são as ginásticas competitivas, esportivizadas e veiculadas pela mídia; principalmente a ginástica rítmica, ginástica artística, ginástica aeróbica, ginástica de trampolim, entre outras.
Postado por: Daniela de Barba
http://www.efdeportes.com/efd150/dialogos-com-a-ginastica.htm
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