terça-feira, 23 de novembro de 2010

A relação das regras do jogo com o desenvolvimento tático do futebol


As regras do futebol representam fator de relevância para o desenvolvimento tático, físico e técnico de uma partida. Os sujeitos envolvidos nesse processo extrapolam a figura do árbitro, sem, contudo, tirar-lhe a condição de intérprete das normas e soberano nas decisões quando da aplicação dessas leis no decorrer do jogo.

Existem no âmbito do futebol três categorias de agentes: profissionais – jogadores, técnicos, dirigentes, árbitros, preparadores físicos, médicos, etc.; especialistas – cronistas esportivos, responsáveis pela mídia em geral, comentaristas, locutores, repórteres; e torcedores.
Dos elementos citados, destacamos o treinador. Cabe a ele interpretar as regras, procurando aplicar as estratégias táticas em benefício de sua equipe.
A tática evoluiu no decorrer das décadas, e um dos fatores que contribuiu para isso foram as mudanças nas regras.
Na história e no contexto do futebol, a tática do jogo e as regras mostraram-se intimamente ligadas, ao ponto de uma mudança no teor das normas ocasionarem transformações também na forma de se jogar. As regras têm uma relação direta com a dinamização do jogo e com os componentes técnico, tático e físico do futebol.

Alterações nas regras, também com relevância tática são:


1873: invenção do escanteio;
1891: o pênalti;
1913: proibição de o goleiro pegar a bola com as mãos fora da área penal;
1970: utilização dos cartões amarelo e vermelho, e de substituição de jogadores (Copa do Mundo do México) em 1970;
1992: tornou-se infração o recuo de bola para o goleiro com os pés, quando este jogador a toca com as mãos;
1993: criação da área técnica;
1997: tornou-se infração o recuo de bola para o goleiro através de um arremesso lateral, quando este a toca com as mãos.

Destacamos a alteração tática imposta pela mudança ocorrida em 1992, pela qual houve uma diminuição significativa em recuos de bola para o goleiro, que passou a ter uma posse de bola drasticamente diminuída. Além disso, os goleiros tiveram que aprimorar o condicionamento técnico – passe e domínio; bem como passar a entender melhor a tática defensiva.
Toda e qualquer mudança na regra, contudo, depende de um burocrático e tradicional processo, instituído pela International Football Association Board.

Fato é que o futebol não acompanha a evolução dos tempos, tampouco equipara-se a outros esportes no quesito regras.

Tudo isso reforça a idéia de que há uma necessidade de se formar uma nova cultura. Salta aos olhos que uma nova geração de treinadores de futebol vem surgindo no Brasil, trazendo consigo novas filosofias de trabalho, forte ligação acadêmica, muito voltada à ciência. Essa nova geração poderá ser a formadora dessa nova cultura.
A carreira profissional começa a partir do momento em que são definidas as metas. O perfil do novo treinador de futebol é voltado à liderança, ao conhecimento, ao pensamento estratégico, ao conteúdo de trabalho, aos conhecimentos gerais e, sobretudo, à inteligência em delegar atribuições.
Todos aqueles que estão inseridos no mundo do futebol devem ter em mente que o sonho do árbitro é o idêntico ao jogador. Ele quer atuar em jogos decisivos e em arenas lotadas. Com muita propriedade, o ex-árbitro Cláudio Vinicius Cerdeira, em sua fala na entrega do Prêmio Cartão Vermelho, edição 2006, no Rio de Janeiro, disse que o árbitro é o único amador em meio a 22 profissionais, sendo mais cobrado quanto ao desempenho e mais punido pelos seus erros.
As regras do jogo exercem forte influência não só na forma de se jogar, como no comportamento dos jogadores. Contudo, parece-nos um erro entender o futebol como se fosse gerido tão-somente por estas 17 regras, já que periodicamente são expedidas decisões, orientações, circulares, ofícios e até cadernos de perguntas e respostas, que formam um conjunto ordinário a ser seguido. Ou seja, tudo o que estiver contido no livro intitulado “Regras do Jogo”, publicado anualmente pela FIFA e traduzido no Brasil pela CBF, é considerado como regra oficial.
É possível observar que as ações dos árbitros, durante uma partida de futebol, são cada vez mais notadas tanto pelo público, quanto pelos profissionais da mídia e do próprio esporte, isso em parte pelas transmissões dos jogos pela televisão, com o crescente número de câmeras de TV instaladas nos estádios, expondo os erros mais claramente, além de mostrar situações simultâneas que, de dentro do campo, é simplesmente impossível para um ser humano visualizar concomitantemente. Além disso, os relatórios de observação, implantados pela CBF, e a pressão sobre o árbitro aumentou.
A crítica ao árbitro é necessária e indispensável. Essa crítica, contudo, tem seu momento, lugar e grau adequados. É certo que um árbitro empírico pode comprometer tanto o seu próprio trabalho quanto aquele desenvolvido há tempos por uma equipe. Mas uma reclamação em um tom de voz alterado, em uma entrevista coletiva ou em um instante do jogo no qual árbitro esteja “precisando” tomar uma atitude para controlar o jogo, pode gerar prejuízos desnecessários, imediatos ou não.
Como todo procedimento a ser adotado nas partidas, o bom relacionamento com os árbitros deve também ser treinado. Convidar árbitros iniciantes – o aceite é certo – para atuar em coletivos e jogos-treino é uma utilização inteligente desse recurso, disponível e eficaz.
Estar ciente e manter-se atualizado sobre as regras do jogo fazem parte do trabalho de todos os envolvidos no meio do futebol, especialmente o treinador. Cabe a este profissional analisar e interpretar tais informações, transformando-as em conhecimento para, assim, aplicá-lo quando do desenvolvimento das ações táticas ofensivas e defensivas de sua equipe.
A transformação desse “conhecimento’ em “sabedoria” do treinador, possibilita-o treinar sua equipe passando os conceitos adquiridos aos atletas, traduzindo essa aplicação em vantagem tática durante um jogo, e revertendo todo esse conjunto de fatores em um relacionamento inteligente com a equipe de arbitragem.
Utilizar-se das regras do jogo com sabedoria pode evitar prejuízos de ordem tática e financeira. A conduta prática de uma comissão técnica moderna e inteligente, focada no sucesso planejado, passa por esses elementos: um conhecimento profundo das regras do jogo e das formas de aplicação desse conhecimento em treinamentos, jogos e relacionamentos.
Nesse sentido é que se conclui pela relevância da presença de um profissional especialista em regras e arbitragem no dia a dia dos trabalhos de um clube de futebol. Sua experiência e seus conhecimentos podem facilitar esse processo, dinamizando e estruturando os trabalhos da comissão técnica em prol do desenvolvimento da equipe.

Postado por: Heleuza Silva e Priscila Lumazini
Link: http://www.efdeportes.com/efd150/regras-do-jogo-do-futebol.htm



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