A síndrome dolorosa miofascial (SDM) é uma das
causas mais comuns de dor músculo-esquelética. Acomete músculos, tecido
conectivo e fáscias principalmente da região cervical, cintura escapular e
lombar. A dor e a incapacidade geradas pelas SDMs podem ser bastante
significativas. Várias sinonímias foram utilizados para essas condições;
mialgia, miosite, miofasceíte, miofibrosite, miogelose, fibrosite, reumatismo
muscular ou de partes moles e tensão muscular. Apesar de a SDM ser uma das
causas mais comuns de dor e incapacidade em doentes que apresentam algias de
origem músculo-esquelética, muitos profissionais da área de saúde e doentes não
a reconhecem, pois o diagnóstico depende exclusivamente da história clínica e
dos achados do exame físico. Muitos destes doentes são tratados como bursite,
artrites, tendinites ou doenças viscerais, sem haver melhora significativa do
quadro clínico.
Travell (1983) empregou termo mialgia
idiopática nos primeiros artigos científicos e a descreve como sendo áreas de
gatilho ou pontos gatilhos. Em 1952, Travell sugeriu a terminologia dor
miofascial e síndrome dolorosa miofascial (SDM) para designar afecções de
miofilamentos de contração de fibras vermelhas e brancas do músculo
esquelético. Redefiniu os pontos gatilhos como sendo os pontos dolorosos
profundos circunscritos, com resposta contrátil localizada ao ser pressionado
ou agulhado e que quando estimulados, ocasionam dor referida.
Atualmente ainda não está claramente
determinado quais os sinais e sintomas sugestivos de SDM que podem ser
agrupados sob condição clínica particular. Aceita-se que as síndromes álgicas
funcionais que se expressam como dor muscular devam ser classificadas como
síndrome dolorosa miofascial (SDM) quando regionalizadas e como fibromialgia,
quando a dor é difusa.
O diagnóstico da SDM depende exclusivamente da
história e do exame físico. A SDM é uma condição dolorosa muscular regional
caracterizada pela ocorrência de bandas musculares tensas palpáveis, nas quais
identificam-se pontos intensamente dolorosos, os pontos gatilhos (PGs), quando
estimulados por palpação digital ou durante a punção localizada com agulha,
ocasionam dor localmente ou referida à distância. Os PGs podem ser palpados e
geralmente estão associados à presença de banda tensa ou “nódulo muscular”. Os
PGs são decorrentes de sobrecargas dinâmicas (traumatismos, excesso de uso) ou
estáticas (sobrecargas posturais) ocorridas durante as atividades da vida
diária e ocupacionais. Pontos dolorosos adicionais ou satélites podem ocorrer
na área de referência do PG original ou principal. A ocorrência de contração
muscular visível e palpável localizada, ou seja, do reflexo contráctil
localizada (RCL) ou twitch response, induzido pela palpação ou punção da banda
muscular ou do PG, é característica da SDM. Em alguns casos, a tensão e o
encurtamento muscular geram inflamação no local da inserção dos feixes
musculares, tendões ou ligamentos nas articulações ou estruturas ósseas,
ocasionando entesites ou entesopatias.
Os PGs podem ser ativos ou latentes. O PG ativo
é um foco de hiperirritabilidade sintomático muscular situado em bandas
musculares tensas (contraturadas ou enduradas no músculo ou na fáscia) em áreas
onde há queixa de dor e que, quando pressionado, gera dor referida em áreas
padronizadas, reprodutíveis para cada músculo. A dor é espontânea ou surge ao
movimento, limita a amplitude do movimento (ADM) e pode causar sensação de
fraqueza muscular.
Os PGs latentes são pontos dolorosos com
características similares aos ativos, mas presentes em áreas assintomáticas;
não se associam à dor durante as atividades físicas normais. Podem ser menos
dolorosos à palpação e produzir menos disfunção que os PGs ativos. Diante de
estressores físicos exógenos, endógenos ou emocionais, tornam-se ativos e geram
síndromes dolorosas e ou incapacidade funcional.
As características da SDM são:
·
dor
difusa em um músculo ou grupo de músculos;
·
dor
regional em peso, queimor, ou latejamento, surtos de dor e referência de dor à
distância; às vezes há queixas de parestesias (sem padrão neuropático);
·
banda
muscular tensa palpável contendo PGs;
·
ausência
de padrão de dor radicular ou neuropática;
·
reprodução
das queixas ou alterações das sensações durante a compressão do ponto
miálgico;.
·
ocorrência
de RCL durante a inserção da agulha ou palpação no sentido transversal do ponto
hipersensível da banda muscular;
·
alívio
da dor após o estiramento do músculo ou após a infiltração do ponto sensível;
·
possível
limitação da amplitude de movimento;
·
encurtamento
muscular ao estiramento passivo;
·
possível
redução da força muscular ao teste manual.
O diagnóstico baseia-se na identificação do
ponto gatilho ou doloroso numa banda de tensão, e a reprodução da dor que são
os critérios mínimos para o diagnóstico.
O programa de medicina física baseia-se na
inativação dos PGs, na reabilitação muscular, cinesioterapia com relaxamento
muscular e orientações posturais além da remoção de outros fatores
desencadeantes e perpetuantes. Para tal, é fundamental a identificação correta
dos músculos envolvidos. A atuação de equipes interprofissionais para
estabelecimento do diagnóstico da dor, de suas etiologias e da gravidade do
comprometimento músculo-esquelético e psicossocial e para o estabelecimento dos
programas de reabilitação e reformulação das atividades dos doentes, não apenas
quanto aos aspectos ergonômicos, como também emocionais e psicossociais é
necessária.
A SDM pode comprometer qualquer segmento do
corpo. É fonte primária da dor ou é associada a outras condições clínicas. A
SDM frequentemente é mal diagnosticada, apesar de sua elevada prevalência.
Avaliação criteriosa a história detalhada, e o exame físico são fundamentais
para o diagnóstico e para que o tratamento adequado seja instituído além da
prevenção da sensibilização central e do comprometimento de outras áreas por
mecanismos reflexos. Os exames complementares, destacam outras condições ou
identificam condições associadas. A SDM é tratada com eliminação das causas,
uso de medicamentos e adjuvantes, relaxamento, cinesioterapia, fortalecimento
muscular, e condicionamento cardiovascular. A infiltração com anestésicos
locais dos PGs é realizada em casos rebeldes. Os programas de orientação
previnem a recorrência da SDM.
Lin, T.Y., Kaziyama, H.H.S., Teixeira, M.J. Síndrome
dolorosa miofascial. Rev. Med. (São Paulo), 80(ed. esp. pt.1):94-110, 2001.
Postado por Dr. Rogerio Nascimento.
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