sábado, 30 de junho de 2012

SÍNDROME DOLOROSA MIOFASCIAL



A síndrome dolorosa miofascial (SDM) é uma das causas mais comuns de dor músculo-esquelética. Acomete músculos, tecido conectivo e fáscias principalmente da região cervical, cintura escapular e lombar. A dor e a incapacidade geradas pelas SDMs podem ser bastante significativas. Várias sinonímias foram utilizados para essas condições; mialgia, miosite, miofasceíte, miofibrosite, miogelose, fibrosite, reumatismo muscular ou de partes moles e tensão muscular. Apesar de a SDM ser uma das causas mais comuns de dor e incapacidade em doentes que apresentam algias de origem músculo-esquelética, muitos profissionais da área de saúde e doentes não a reconhecem, pois o diagnóstico depende exclusivamente da história clínica e dos achados do exame físico. Muitos destes doentes são tratados como bursite, artrites, tendinites ou doenças viscerais, sem haver melhora significativa do quadro clínico.

Travell (1983) empregou termo mialgia idiopática nos primeiros artigos científicos e a descreve como sendo áreas de gatilho ou pontos gatilhos. Em 1952, Travell sugeriu a terminologia dor miofascial e síndrome dolorosa miofascial (SDM) para designar afecções de miofilamentos de contração de fibras vermelhas e brancas do músculo esquelético. Redefiniu os pontos gatilhos como sendo os pontos dolorosos profundos circunscritos, com resposta contrátil localizada ao ser pressionado ou agulhado e que quando estimulados, ocasionam dor referida.

Atualmente ainda não está claramente determinado quais os sinais e sintomas sugestivos de SDM que podem ser agrupados sob condição clínica particular. Aceita-se que as síndromes álgicas funcionais que se expressam como dor muscular devam ser classificadas como síndrome dolorosa miofascial (SDM) quando regionalizadas e como fibromialgia, quando a dor é difusa.

O diagnóstico da SDM depende exclusivamente da história e do exame físico. A SDM é uma condição dolorosa muscular regional caracterizada pela ocorrência de bandas musculares tensas palpáveis, nas quais identificam-se pontos intensamente dolorosos, os pontos gatilhos (PGs), quando estimulados por palpação digital ou durante a punção localizada com agulha, ocasionam dor localmente ou referida à distância. Os PGs podem ser palpados e geralmente estão associados à presença de banda tensa ou “nódulo muscular”. Os PGs são decorrentes de sobrecargas dinâmicas (traumatismos, excesso de uso) ou estáticas (sobrecargas posturais) ocorridas durante as atividades da vida diária e ocupacionais. Pontos dolorosos adicionais ou satélites podem ocorrer na área de referência do PG original ou principal. A ocorrência de contração muscular visível e palpável localizada, ou seja, do reflexo contráctil localizada (RCL) ou twitch response, induzido pela palpação ou punção da banda muscular ou do PG, é característica da SDM. Em alguns casos, a tensão e o encurtamento muscular geram inflamação no local da inserção dos feixes musculares, tendões ou ligamentos nas articulações ou estruturas ósseas, ocasionando entesites ou entesopatias.

Os PGs podem ser ativos ou latentes. O PG ativo é um foco de hiperirritabilidade sintomático muscular situado em bandas musculares tensas (contraturadas ou enduradas no músculo ou na fáscia) em áreas onde há queixa de dor e que, quando pressionado, gera dor referida em áreas padronizadas, reprodutíveis para cada músculo. A dor é espontânea ou surge ao movimento, limita a amplitude do movimento (ADM) e pode causar sensação de fraqueza muscular.

Os PGs latentes são pontos dolorosos com características similares aos ativos, mas presentes em áreas assintomáticas; não se associam à dor durante as atividades físicas normais. Podem ser menos dolorosos à palpação e produzir menos disfunção que os PGs ativos. Diante de estressores físicos exógenos, endógenos ou emocionais, tornam-se ativos e geram síndromes dolorosas e ou incapacidade funcional.

As características da SDM são:

·      dor difusa em um músculo ou grupo de músculos;
·      dor regional em peso, queimor, ou latejamento, surtos de dor e referência de dor à distância; às vezes há queixas de parestesias (sem padrão neuropático);
·      banda muscular tensa palpável contendo PGs;
·      ausência de padrão de dor radicular ou neuropática;
·      reprodução das queixas ou alterações das sensações durante a compressão do ponto miálgico;.
·      ocorrência de RCL durante a inserção da agulha ou palpação no sentido transversal do ponto hipersensível da banda muscular;
·      alívio da dor após o estiramento do músculo ou após a infiltração do ponto sensível;
·      possível limitação da amplitude de movimento;
·      encurtamento muscular ao estiramento passivo;
·      possível redução da força muscular ao teste manual.

O diagnóstico baseia-se na identificação do ponto gatilho ou doloroso numa banda de tensão, e a reprodução da dor que são os critérios mínimos para o diagnóstico.

O programa de medicina física baseia-se na inativação dos PGs, na reabilitação muscular, cinesioterapia com relaxamento muscular e orientações posturais além da remoção de outros fatores desencadeantes e perpetuantes. Para tal, é fundamental a identificação correta dos músculos envolvidos. A atuação de equipes interprofissionais para estabelecimento do diagnóstico da dor, de suas etiologias e da gravidade do comprometimento músculo-esquelético e psicossocial e para o estabelecimento dos programas de reabilitação e reformulação das atividades dos doentes, não apenas quanto aos aspectos ergonômicos, como também emocionais e psicossociais é necessária.

A SDM pode comprometer qualquer segmento do corpo. É fonte primária da dor ou é associada a outras condições clínicas. A SDM frequentemente é mal diagnosticada, apesar de sua elevada prevalência. Avaliação criteriosa a história detalhada, e o exame físico são fundamentais para o diagnóstico e para que o tratamento adequado seja instituído além da prevenção da sensibilização central e do comprometimento de outras áreas por mecanismos reflexos. Os exames complementares, destacam outras condições ou identificam condições associadas. A SDM é tratada com eliminação das causas, uso de medicamentos e adjuvantes, relaxamento, cinesioterapia, fortalecimento muscular, e condicionamento cardiovascular. A infiltração com anestésicos locais dos PGs é realizada em casos rebeldes. Os programas de orientação previnem a recorrência da SDM.



Lin, T.Y., Kaziyama, H.H.S., Teixeira, M.J. Síndrome dolorosa miofascial. Rev. Med. (São Paulo), 80(ed. esp. pt.1):94-110, 2001.


Postado por Dr. Rogerio Nascimento.

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