O exercício resistido, exercício ativo no
qual uma contração muscular dinâmica ou estática é resistida por força externa,
aplicada mecânica ou manualmente, é um quesito imprescindível num programa de
reabilitação, para se promover a saúde e o bem-estar físico e prevenir o risco
de lesões. Ele restaura, melhora ou mantém a força, a potência e a resistência
muscular a fadiga entre outros efeitos. As contra-indicações a este tipo de
exercício são: doença cardiopulmonar grave, inflamação e dor; e as precauções
são com cardiopatias (evitar manobra de Valsalva), fadiga (principalmente em
portadores de câncer), treinamento excessivo, dor muscular induzida por
exercício e fratura patológica.
Os exercícios resistidos mecanicamente
constituem um estímulo à recuperação do indivíduo, pois permitem o
estabelecimento de um valor inicial a partir da capacidade funcional do
indivíduo, a quantidade de resistência pode ser mensurada quantitativamente,
progredindo os protocolos de tratamento para as fases intermediária e avançada
da reabilitação. Dessa forma, é possível fazer a documentação dos avanços e
usá-la como instrumento de motivação quantitativa. Além disso, muitas variáveis
como intensidade, carga, tempo e frequência podem ser acrescentadas ao
programa.
Em contrapartida, esses exercícios são
impróprios para membros muito fracos e sobrecarregam o músculo em apenas um
ponto da amplitude do movimento, quando executado em uma única posição.
Portanto, devem ser realizados isometricamente em vários ângulos ou
isotonicamente.
·
Treino
de flexibilidade
A flexibilidade refere-se à amplitude de
movimento (ADM) disponível para uma ou mais articulações. Sua importância no
embasamento da criação de um plano de fortalecimento muscular é devido ao papel
que desempenha na prevenção de lesões. A ADM ao redor de uma articulação é
específica, portanto a flexibilidade varia de acordo com a necessidade de cada
indivíduo (atividades de vida diária AVDs e esportes praticados), idade e sexo (sendo
as mulheres mais flexíveis do que os homens). Antes realizar exercícios
resistidos deve-se realizar exercícios de aquecimento e após deve-se realizar o
alongamento muscular com o intuito de diminuir a dor muscular tardia, evitar
lesões, funcionar como relaxante e, principalmente, produzir uma maior tensão
no momento da contração (relação entre comprimento e tensão).
·
Treino
de força
Dispositivos mecânicos representam um
relevante papel no ganho de força muscular. Como consequência a este tipo de
treinamento, alterações fisiológicas irão ocorrer; as primeiras são alterações
agudas (aprendizado psicomotor) e, posteriormente, alterações crônicas
(hipertrofia muscular), que variam de acordo com a predisponibilidade genética
(tipo de fibra predominante) e com o sexo, que está relacionada ao fato de os
homens possuírem níveis séricos de testosterona maiores que as mulheres.
O treino de força induz alterações no
sistema nervo central, o qual pode aumentar o número de unidades motoras
recrutadas, alterar a frequência de disparo dos motoneurônios, melhorar a
sincronia da unidade motora durante determinado padrão de movimento e reduzir
ou cancelar gradativamente os impulsos inibitórios permitindo que o músculo
atinja níveis mais elevados de força, que geralmente acontecem na segunda ou
terceira semana, para a partir da sexta semana acontecer hipertrofia muscular.
Comparando-se a mecanoterapia com a
eletroestimulação, verifica-se que a primeira oferece uma maior vantagem no
plano de treinamento de força, já que proporciona ao paciente um aprendizado
psicomotor, recrutamento assincrônico das unidades motoras, estimula os órgãos
tendinosos de Golgi para proteger o músculo e diminui o risco de lesão,
enquanto que na última isso não acontece.
·
Variáveis
de um programa de exercício
A unidade de mensuração para o número de
repetições é o RM (repetição máxima). O American College of Sports Medicine
(ACSM) recomenda que o treino contra resistência tenha pelo menos uma série de
oito a dez exercícios para os principais grupamentos musculares, e cada
exercício deve ser feito com 8 a 12 repetições. Intimamente ligado ao número de
repetições está a carga; DeLorm usava 10RM, que é a maior quantidade de peso
que uma pessoa pode levantar dez vezes. São também utilizadas fórmula do máximo
previsto e a porcentagem de 1RM, porém esta última expõe o paciente a uma
descarga máxima de sua energia para a realização de uma repetição o que pode
levar a possíveis lesões, enquanto a 10RM subdivide a carga a ser levantada em dez
repetições. Todavia a medida mais precisa está no uso de dinamômetros
isocinéticos.
Há dois fatores relacionados à
velocidade. O primeiro refere-se ao princípio da especificidade do treinamento,
na qual a velocidade do exercício deve imitar ao da função desejada. O segundo
fator é a transferência de treinamento, já que o treino de força em uma
determinada velocidade pode proporcionar ganho de força em velocidades de
exercícios mais altos e/ou mais baixos. Vale ressaltar a relação entre
repetições e velocidade de execução do exercício, ou seja, quando realizado de
forma lenta e com menor número de repetições haverá um maior desenvolvimento de força muscular.
Há uma relação inversa entre a
carga/repetição do treinamento e o número de séries. Assim conforme o treino
aumenta, o número de séries deve diminuir. Para o ganho de força e resistência
as séries múltiplas são mais eficientes que as séries únicas para iniciantes.
Para força deve ser feito um menor número de séries, já para resistência
muscular à fadiga o número de séries é maior.
Os intervalos podem ser curtos (menor que
1 minuto), indicados para o treinamento de resistência muscular, todavia,
resultam em altas concentrações de lactato sanguíneo; médios (são de 1 a 3
minutos), direcionados para o ganho de massa muscular e longos (maiores que 3
minutos), indicados para desenvolver força e potência máxima. Quanto a
frequências, para os iniciantes, são indicadas duas ou três sessões semanais no
intervalo de 24 horas.
·
Formas
de treinamento
Para promover ganho de força muscular
podem ser usadas as contrações isométrica e isotônica. A contração isométrica é
utilizada nos estágios iniciais da reabilitação, usando uma carga de exercícios
de 60% a 80% da capacidade de desenvolvimento de força do músculo. O maior empecilho
ao treinamento isométrico é a sua fraca transferência para o cotidiano, visto
que a maioria das AVDs envolvem contrações excêntricas e concêntricas.
A contração isotônica pode ser dividida
em concêntrica e excêntrica. Há evidências de que os ganhos de força
adaptativos, após um programa de exercícios, pareçam similares, embora uma
contração concêntrica máxima produza menos força que uma contração excêntrica.
Foi observando ainda que um número maior de unidades motoras precisa ser
recrutado para controlar a mesma carga concêntrica do que excentricamente.
Vale destacar também, que os exercícios
dinâmicos podem ser realizados contra uma resistência constante ou variável,
dependendo das necessidades do paciente. Os procedimentos de treinamento
isométricos e isotônicos produzem melhorias substanciais na força, porém os
métodos isotônicos oferecem resultados discretamente superiores em termos de
força muscular, endurance local e hipertrofia muscular.
·
Considerações
Os estudos sobre o tratamento e a
reabilitação da força muscular por meio de recursos mecânicos são fragmentados
e escassos, com poucas associações entre os aparelhos e os seus respectivos
aspectos fisiológicos e biomecânicos, o que dificulta o planejamento e
periodização dos exercícios terapêuticos. Entretanto, ao consultar as
referências existentes, observa-se que a periodização dos exercícios em
quaisquer recursos mecânicos são parecidos, diferenciando apenas pelo objetivo
terapêutico almejado.
A realização de estudos clínicos de
mecanoterapia aliados ao conhecimento da fisiologia e biomecânica poderia
transportar a fisioterapia do plano empírico para um de maior reconhecimento
científico, principalmente por fornecer medidas quantificáveis de seus
parâmetros e, consequentemente, facilitando a escolha dos recursos mais
versáteis ao treino muscular.
Lima PT; Ribeiro IA; Coimbra LCM;
Santos MR; Andrade EN.
PHYSIOTERAPEUTIC MECHANICAL DEVICES AND ENRACEMENT OF MUSCULAR FORCES: A SAFE
BASEMENT FOR AN EFFICIENT TREATMENT. Rev. Saúde C. om 2006; 2(2): 143-152.
Postado por: Dr. Rogerio Nascimento
Nenhum comentário:
Postar um comentário