sábado, 14 de julho de 2012

REABILITAÇÃO: MECANOTERAPIA E FORTALECIMENTO MUSCULAR





O exercício resistido, exercício ativo no qual uma contração muscular dinâmica ou estática é resistida por força externa, aplicada mecânica ou manualmente, é um quesito imprescindível num programa de reabilitação, para se promover a saúde e o bem-estar físico e prevenir o risco de lesões. Ele restaura, melhora ou mantém a força, a potência e a resistência muscular a fadiga entre outros efeitos. As contra-indicações a este tipo de exercício são: doença cardiopulmonar grave, inflamação e dor; e as precauções são com cardiopatias (evitar manobra de Valsalva), fadiga (principalmente em portadores de câncer), treinamento excessivo, dor muscular induzida por exercício e fratura patológica.

Os exercícios resistidos mecanicamente constituem um estímulo à recuperação do indivíduo, pois permitem o estabelecimento de um valor inicial a partir da capacidade funcional do indivíduo, a quantidade de resistência pode ser mensurada quantitativamente, progredindo os protocolos de tratamento para as fases intermediária e avançada da reabilitação. Dessa forma, é possível fazer a documentação dos avanços e usá-la como instrumento de motivação quantitativa. Além disso, muitas variáveis como intensidade, carga, tempo e frequência podem ser acrescentadas ao programa.

Em contrapartida, esses exercícios são impróprios para membros muito fracos e sobrecarregam o músculo em apenas um ponto da amplitude do movimento, quando executado em uma única posição. Portanto, devem ser realizados isometricamente em vários ângulos ou isotonicamente.

·      Treino de flexibilidade

A flexibilidade refere-se à amplitude de movimento (ADM) disponível para uma ou mais articulações. Sua importância no embasamento da criação de um plano de fortalecimento muscular é devido ao papel que desempenha na prevenção de lesões. A ADM ao redor de uma articulação é específica, portanto a flexibilidade varia de acordo com a necessidade de cada indivíduo (atividades de vida diária AVDs e esportes praticados), idade e sexo (sendo as mulheres mais flexíveis do que os homens). Antes realizar exercícios resistidos deve-se realizar exercícios de aquecimento e após deve-se realizar o alongamento muscular com o intuito de diminuir a dor muscular tardia, evitar lesões, funcionar como relaxante e, principalmente, produzir uma maior tensão no momento da contração (relação entre comprimento e tensão).

·      Treino de força

Dispositivos mecânicos representam um relevante papel no ganho de força muscular. Como consequência a este tipo de treinamento, alterações fisiológicas irão ocorrer; as primeiras são alterações agudas (aprendizado psicomotor) e, posteriormente, alterações crônicas (hipertrofia muscular), que variam de acordo com a predisponibilidade genética (tipo de fibra predominante) e com o sexo, que está relacionada ao fato de os homens possuírem níveis séricos de testosterona maiores que as mulheres.

O treino de força induz alterações no sistema nervo central, o qual pode aumentar o número de unidades motoras recrutadas, alterar a frequência de disparo dos motoneurônios, melhorar a sincronia da unidade motora durante determinado padrão de movimento e reduzir ou cancelar gradativamente os impulsos inibitórios permitindo que o músculo atinja níveis mais elevados de força, que geralmente acontecem na segunda ou terceira semana, para a partir da sexta semana acontecer hipertrofia muscular.

Comparando-se a mecanoterapia com a eletroestimulação, verifica-se que a primeira oferece uma maior vantagem no plano de treinamento de força, já que proporciona ao paciente um aprendizado psicomotor, recrutamento assincrônico das unidades motoras, estimula os órgãos tendinosos de Golgi para proteger o músculo e diminui o risco de lesão, enquanto que na última isso não acontece.

·      Variáveis de um programa de exercício

A unidade de mensuração para o número de repetições é o RM (repetição máxima). O American College of Sports Medicine (ACSM) recomenda que o treino contra resistência tenha pelo menos uma série de oito a dez exercícios para os principais grupamentos musculares, e cada exercício deve ser feito com 8 a 12 repetições. Intimamente ligado ao número de repetições está a carga; DeLorm usava 10RM, que é a maior quantidade de peso que uma pessoa pode levantar dez vezes. São também utilizadas fórmula do máximo previsto e a porcentagem de 1RM, porém esta última expõe o paciente a uma descarga máxima de sua energia para a realização de uma repetição o que pode levar a possíveis lesões, enquanto a 10RM subdivide a carga a ser levantada em dez repetições. Todavia a medida mais precisa está no uso de dinamômetros isocinéticos.

Há dois fatores relacionados à velocidade. O primeiro refere-se ao princípio da especificidade do treinamento, na qual a velocidade do exercício deve imitar ao da função desejada. O segundo fator é a transferência de treinamento, já que o treino de força em uma determinada velocidade pode proporcionar ganho de força em velocidades de exercícios mais altos e/ou mais baixos. Vale ressaltar a relação entre repetições e velocidade de execução do exercício, ou seja, quando realizado de forma lenta e com menor número de repetições haverá um maior  desenvolvimento de força muscular.

Há uma relação inversa entre a carga/repetição do treinamento e o número de séries. Assim conforme o treino aumenta, o número de séries deve diminuir. Para o ganho de força e resistência as séries múltiplas são mais eficientes que as séries únicas para iniciantes. Para força deve ser feito um menor número de séries, já para resistência muscular à fadiga o número de séries é maior.

Os intervalos podem ser curtos (menor que 1 minuto), indicados para o treinamento de resistência muscular, todavia, resultam em altas concentrações de lactato sanguíneo; médios (são de 1 a 3 minutos), direcionados para o ganho de massa muscular e longos (maiores que 3 minutos), indicados para desenvolver força e potência máxima. Quanto a frequências, para os iniciantes, são indicadas duas ou três sessões semanais no intervalo de 24 horas.

·      Formas de treinamento

Para promover ganho de força muscular podem ser usadas as contrações isométrica e isotônica. A contração isométrica é utilizada nos estágios iniciais da reabilitação, usando uma carga de exercícios de 60% a 80% da capacidade de desenvolvimento de força do músculo. O maior empecilho ao treinamento isométrico é a sua fraca transferência para o cotidiano, visto que a maioria das AVDs envolvem contrações excêntricas e concêntricas.

A contração isotônica pode ser dividida em concêntrica e excêntrica. Há evidências de que os ganhos de força adaptativos, após um programa de exercícios, pareçam similares, embora uma contração concêntrica máxima produza menos força que uma contração excêntrica. Foi observando ainda que um número maior de unidades motoras precisa ser recrutado para controlar a mesma carga concêntrica do que excentricamente.

Vale destacar também, que os exercícios dinâmicos podem ser realizados contra uma resistência constante ou variável, dependendo das necessidades do paciente. Os procedimentos de treinamento isométricos e isotônicos produzem melhorias substanciais na força, porém os métodos isotônicos oferecem resultados discretamente superiores em termos de força muscular, endurance local e hipertrofia muscular.

·      Considerações

Os estudos sobre o tratamento e a reabilitação da força muscular por meio de recursos mecânicos são fragmentados e escassos, com poucas associações entre os aparelhos e os seus respectivos aspectos fisiológicos e biomecânicos, o que dificulta o planejamento e periodização dos exercícios terapêuticos. Entretanto, ao consultar as referências existentes, observa-se que a periodização dos exercícios em quaisquer recursos mecânicos são parecidos, diferenciando apenas pelo objetivo terapêutico almejado.

A realização de estudos clínicos de mecanoterapia aliados ao conhecimento da fisiologia e biomecânica poderia transportar a fisioterapia do plano empírico para um de maior reconhecimento científico, principalmente por fornecer medidas quantificáveis de seus parâmetros e, consequentemente, facilitando a escolha dos recursos mais versáteis ao treino muscular.



Lima PT; Ribeiro IA; Coimbra LCM; Santos MR; Andrade EN. PHYSIOTERAPEUTIC MECHANICAL DEVICES AND ENRACEMENT OF MUSCULAR FORCES: A SAFE BASEMENT FOR AN EFFICIENT TREATMENT. Rev. Saúde C. om 2006; 2(2): 143-152.


Postado por: Dr. Rogerio Nascimento

Nenhum comentário:

Postar um comentário