Cálcio
e Fósforo
Ocorrência
no organismo
De todos os minerais, o cálcio é o mais
abundante no organismo; corresponde a 1 ou 2% do peso corporal, e a cerca de
40% do total de minerais presentes no organismo; 99% do cálcio são encontrados
em tecidos rijos, como ossos e dentes, e o percentual restante acha-se
distribuído através do sangue, dos tecidos e de outros fluidos.
O
fósforo acha-se funcional e estruturalmente ligado ao cálcio, razão porque é
praxe considerar estes dois minerais em conjunto. O fósforo é o segundo mineral
do corpo em nível de ocorrência, representando cerca de 1% do peso corporal;
75% do fósforo do organismo encontram-se em tecidos rijos.
Minerais
do tecido ósseo
O osso é constituído de uma parte mole e
flexível, a matriz orgânica, formada pelos osteoblastos (componentes
celulares), por uma substância fundamental gelatinosa, rica em
mucopolissacarídios, como o sulfato de condroitina, e por fibras de colágeno.
Principalmente o cálcio e o fósforo, e também outras substâncias, em menor
quantidade, como magnésio, sódio, carbonato, citrato, cloreto e fluoreto,
depositam-se em uma estrutura que circunda a matriz, conferindo-lhe proteção e
servindo de suporte.
O
cálcio e o fósforo depositam-se na forma de pequenos cristais de
hidroxiapatita. Estes cristais podem, conforme a requisição metabólica,
dissolver-se ou reconstituir-se. Os ossos contêm uma fina rede vascular que
permite a troca de substâncias com o líquido intersticial que embebe os
cristais. À medida que o tecido ósseo amadurece, os cristais aumentam de
tamanho.
"Turnover”
(o “entra-e-sai”) de minerais no Osso
Os minerais do osso acham-se à disposição do
metabolismo, especialmente a fração de cristais mais recentemente depositada,
chamada fração intercambiável (ao contrário dos minerais presentes no esmalte e
na dentina dos dentes, que não são facilmente mobilizados). Na eventualidade de
o organismo necessitar de cálcio, o paratormônio (hormônio da glândula
paratiróide) estimula a liberação de cálcio do osso para o sangue, a fim de que
seja restabelecida a homeostasia deste mineral, que gira em torno de 10 mg de
cálcio por 100 ml de soro.
O
paratormônio também incita o aumento da reabsorção de cálcio nos rins e eleva a
absorção deste mineral no intestino. Na situação oposta, isto é, quando a
calcemia (concentração de cálcio no sangue) eleva-se acima do normal, outro
hormônio, a calcitonina (secretada pela glândula tireóide), inibe a reabsorção
de cálcio do osso.
Balanço negativo de minerais no osso
A porção intercambiável de cálcio no osso,
como se pode entender do que acabamos de explicar, constitui uma importante
reserva do mineral, requisitada em caso de carência dietética ou metabólica. Se
o balanço de cálcio permanecer por muito tempo negativo (maior perda que
reposição), a parte intercambiável pode exaurir-se, e ocorrer degradação da
parte não-intercambiável, que constitui a substância óssea mais estável, e
instalam-se, como conseqüência, doenças como raquitismo em crianças,
osteomalácia em adultos e osteoporose em anciãos.
A
carência dietética de vitamina D e cálcio são comumente associáveis a tais
condições patológicas, mas há também outros fatores dietéticos, hormonais e
metabólicos que contribuem para o quadro. Quando o fosfato de cálcio é removido
do osso em proporções expressivas, o tecido remanescente perde sua rigidez
normal, torna-se mais sujeito a fraturas, e finalmente converte-se numa estrutura
flexível como a cartilagem.
Equilíbrio
entre síntese e degradação óssea
A síntese e a degradação de tecido ósseo para
a liberação de minerais, principalmente cálcio, devem ser mantidas em
equilíbrio no adulto; na infância, devido ao crescimento, a síntese predomina
sobre a degradação. Ambos os processos são controlados por elementos celulares
presentes nos ossos: os osteclastos são responsáveis pela destruição dos
componentes ósseos, e os osteoblastos pela deposição de minerais.
A
mineralização e a desmineralização do osso constituem processos normais para a
manutenção da homeostasia (equilíbrio de concentrações), desde que aconteçam em
nível de camada de minerais intercambiáveis do osso, ali presentes com esta
finalidade fisiológica. Cerca de 600 a 700 miligramas de cálcio entram no osso
e o deixam cada a 24 horas, movimento que deve ser conservado em equilíbrio no
adulto.
Funções
extra ósseas do cálcio e do fósforo
Como vimos, o cálcio presente no sangue é
mantido em equilíbrio através da deposição ou da degradação do cálcio ósseo.
Apesar de os teores de fósforo e cálcio serem ínfimos em tecidos não ósseos (se
comparados aos teores do tecido ósseo), eles desempenham papéis essenciais
naqueles setores.
A. A coagulação do sangue requer cálcio. A
tromboquinase necessita de cálcio para catalisar a reação de conversão de protrombina
em trombina.
B. A estimulação nervosa em nível da célula
muscular propicia a entrada de cálcio, a qual ativa os mecanismos bioquímicos
responsáveis pela contração das fibras musculares conhecidas como actina e
miosina, seguida da contração das células e do músculo, que se encurta e
espessa. Destarte, o cálcio é considerado importante fator de contração e
relaxamento muscular.
A liberação de acetilcolina, substância que
media a passagem do impulso nervoso nas sinapses, em parte depende da
ocorrência de íons cálcio no meio. A permeabilidade das membranas celulares
também é influenciada pelo cálcio.
1. Várias enzimas são ativadas pelo cálcio,
como a ATPase, a lipase e algumas enzimas proteolíticas.
2. O cálcio é necessário à absorção de
vitaminas do complexo B no intestino.
3. Quanto ao fósforo, sabe-se que está
presente em todas as células do corpo, constituindo, entre outras coisas, os
ácidos nucléicos (DNA e RNA), que determinam o código genético.
ATP, ADP e AMP, moléculas captoras e
liberadoras de energia em inúmeras reações metabólicas, contêm fósforo.
4.
Os fosfatos participam do equilíbrio ácido-básico do sangue.
Absorção
Cerca
de 20 a 40% do cálcio ingerido com os alimentos e 50 a 70% do fósforo são
absorvidos. Estes níveis de absorção podem diminuir ou aumentar conforme certas
circunstâncias. Por exemplo, quando aumenta a necessidade de cálcio no
organismo, são acionados mecanismos pelos quais é diminuída a perda fecal deste
nutriente.
Quando a ingestão de cálcio através da
alimentação é pequena, ocorre aumento da eficiência de utilização. O excesso de
cálcio dietético, todavia, aumenta a perda fecal.
A
absorção de cálcio e fósforo ocorre no intestino delgado, e é favorecida por
diversos fatores:
1.
Ingestão adequada de vitamina D.
2.
pH: Adequada acidez do conteúdo digestivo no intestino delgado, conferida pelo
ácido do estômago.
3.
Presença moderada de gorduras, o que aumenta o tempo de trânsito e permite
melhor absorção.
4.
Lactose. A presença de lactose melhora o aproveitamento de cálcio, mas a razão
ainda é discutida.
5.
Equilíbrio de concentrações de cálcio e fósforo.
A
absorção de cálcio e fósforo é desfavorecida por diversos fatores:
A. Ácido oxálico: combina-se com o cálcio, formando oxalato
de cálcio e prejudicando o seu aproveitamento. Está presente no tomate, na
acelga e em outros vegetais.
B.
Ácido fítico: presente em vários alimentos, principalmente na soja e nos
cereais. Este ácido forma complexos (fitatos) inabsorvíveis.
C.
Meio alcalino: nesta condição, o fosfato junta-se ao cálcio e, na forma de
fosfato de cálcio insolúvel, ambos se perdem. Na falta de ácido do estômago
(hipocloridria), pode haver, portanto, deficiência de cálcio pela via de
absorção.
D. Outros fatores, como
estresse, falta de exercícios, diarréia e excesso de gordura, podem afetar
negativamente a absorção deste nutriente, além de diminuírem o aproveitamento
de muitos outros nutrientes e produzirem desordens metabólicas.
Sinais
e sintomas de carência
1.
Em nível de sistema ósseo, a carência de cálcio provoca raquitismo em crianças,
osteomalácia em adultos e osteoporose mais frequentemente em idosos. Estas
condições estão também associadas à deficiência de vitamina D, que é
responsável pela normalidade funcional de mecanismos que possibilitam o
aproveitamento do cálcio (ler Vitamina D).
2.
No sangue e nos tecidos não ósseos, a carência de cálcio dificulta a passagem
de impulsos nervosos para os músculos e aumenta a irritabilidade das fibras
nervosas, podendo acarretar tetania ou cãibra.
3.
A carência de fósforo acarreta a diminuição da síntese de ATP e outros
compostos contendo fosfato, e se manifesta através de disfunções
neuromusculares, esqueléticas, hematológicas e renais.
4. A deficiência de fosfato
pode ser precipitada por nutrição parenteral à base de glicose ou outros
componentes, sem que haja o devido fornecimento de fosfato, pelo uso excessivo
de antiácidos, por hiperparatireoidismo, alcoolismo, tratamento de acidose
diabética e outras situações.
Hiperingestão
A
hiperingestão de cálcio, principalmente se associada à ingestão exagerada de
vitamina D, pode favorecer o desenvolvimento de focos de hipermineralização
tanto nos ossos como em tecidos moles. Parece que as crianças estão mais sujeitas
a este desequilíbrio nutricional, talvez devido à excessiva e mórbida
preocupação dos pais em relação à nutrição, que os leva a administrar
suplementos vitamínico-minerais aos filhos por conta própria.
Necessidades
nutricionais
-
Segundo o boletim informativo da Organização Mundial de Saúde, "em geral
as crianças e os adultos na maioria dos países podem desenvolver-se normalmente
e viver saudavelmente com ingestão diária de cálcio entre 300 e 1.000
miligramas, ou com ausência de distúrbios nutricionais e ingestão adequada de
vitamina D, mesmo com um fornecimento dietético algo mais alto ou mais
baixo." Como em condição de menor ingestão de cálcio o organismo é capaz
de aumentar seu aproveitamento, as recomendações quantitativas para este mineral
sofrem certa flutuação.
-
A Comissão de Especialistas em Necessidades de Cálcio da FAO/OMS recomenda de
400 a 500 mg/dia de cálcio para um adulto normal.
-
As RDA recomendam 800 mg/dia, valor muito elevado se comparado à recomendação
da FAO/OMS. A ingestão muito alta de proteína nos Estados Unidos (o que
consideramos impróprio do ponto de vista nutricional) foi associada a desordens
degenerativas, como o câncer, ocasionando desperdício urinário de cálcio. O
próprio Food and Nutrition Board admite que "pessoas que consomem menos
proteína que o habitualmente utilizado nos Estados Unidos manterão o
equilí¬brio de cálcio mesmo com ingestão consideravelmente abaixo da
recomendação".
-
A FAO/OMS estabelece a quantidade de 1.000 a 1.200 mg/dia como adequada para as
fases de gestação e lactação.
-
O National Research Council aconselha a ingestão de 360 mg/dia de cálcio para
crianças até os seis meses, e de 540 mg/dia dos seis meses até um ano de idade.
O aleitamento materno supre satisfato¬riamente a necessidade de cálcio do
recém-nascido.
Recomendam-se
800 mg/dia de cálcio entre 1 e 10 anos, e 1.200 mg/dia entre 11 e 18 anos.
- O Food and Nutrition Board
recomenda para o fósforo níveis de ingestão iguais ao do cálcio em todas as
faixas etárias, exceto para recém-nascidos, quando o fornecimento de fósforo
deve ser um pouco menor do que o de cálcio. A proporção entre cálcio e fósforo
sugerida até os 6 meses de vida é de 1,5 para 1. O leite materno, mais uma vez,
se ajusta perfeitamente a tais requerimentos.
Fontes
alimentares
É preciso considerar a presença de antagonistas
do cálcio nos alimentos. Por exemplo, a soja é tida por alguns, como boa fonte
de cálcio, o que não é realidade em vista do seu alto teor de ácido fítico, que
diminui o aproveitamento do mineral.
O leite e muitos dos seus derivados são a
melhor fonte dietética de cálcio.
Cominho, farinha de cenoura, farinha de
macambira, coco-macaúba, melado de cana, rapadura e folhas verde-escuras, como
couve, couve-chinesa, repolho crespo, dente-de-leão, mostarda, brócolis, folhas
de nabo, salsa, algas marinhas, vinagreira, alfafa, bredo-verdadeiro e coentro,
são exemplos de fontes vegetais de cálcio.
As
folhas de ruibarbo, o espinafre, a acelga e as folhas de beterraba são exemplos
de alimentos cujo cálcio não é bem aproveitado, em virtude do alto conteúdo de
antagonistas do mineral, como o ácido oxálico.
Há poucas chances de ocorrer carência
dietética de fósforo, haja vista que ele se acha bem distribuído nos alimentos
naturais, destacando-se como boas fontes os cereais e os grãos, os laticínios,
os ovos e as nozes, dentro da linha lacto-ovo-vegetariano-naturista de
alimentação.
O
fósforo acha-se presente na forma de ácido fítico em certos cereais e farinhas;
este ácido, como foi colocado anteriormente, forma complexos inabsorvíveis com
minerais como cálcio e ferro, diminuindo sua absorção. A fermentação de
cereais, entretanto, como o uso de fermento biológico em pães, converte o fósforo
do ácido fítico em ortofosfato, diminuindo seu efeito antiabsortivo.
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