terça-feira, 30 de abril de 2024

Hipotireoidismo!! Nutrir é o melhor caminho!!

 



O Brasil é campeão em hipotireoidismo no mundo, mesmo com iodização obrigatória.

Esta doença é diagnosticada com mais frequência em mulheres do que em homens (350 vs. 80 por 100 mil pessoas por ano). No desenvolvimento da doença de Hashimoto, os fatores genéticos são responsáveis ​​por 70–80% do risco e os fatores ambientais por 20–30%.

Riscos genéticos significam uma receita pronta para a doença em nosso DNA, os fatores ambientais, significam os gatilhos, ou “ingredientes da receita”, que ingerimos ou não para produzir essa receita. Portanto, mesmo que tenhamos a receita em nosso DNA, podemos nos atentar aos gatilhos, reduzindo ou eliminando  esses "ingredientes" para nos protegermos da doença ou postergá-las o maior tempo possível.

O hipotireoidismo é um desequilíbrio que leva a queda de produção dos hormônios produzidos pela tireoide, uma glândula endócrina comandada pelo sistema regulador: Hipotálamo (hormônio TRH) => Hipófise (TSH)  => Tireoide ( T4 e T3). A hipófise tem o tamanho de um grão de arroz, mas controla vários hormônios , os sexuais (estrogênio e testosterona), Tireoidianos (T4 – pré-hormônio e T3 -hormônio), os adrenais (cortisol) e síntese de prolactina.

O hipotireoidismo pode se dar por conta de doença autoimune, conhecida como tireoidite de hashimoto, quando há presença de anticorpos que atacam as células da tireoide TPO (enzima tireoperoxidase), e TGP ( proteína tireoglobulina), ou por uma disfunção das enzimas Dio2 (diodinase2)/ Dio1 / Dio3, que não é motivada por doença autoimune.

É difícil conhecer um outro hormônio que tenha tantas funções no corpo como o T3 livre (Triiodotironina). Há receptores de T3 em todas as células do corpo. Ele modula a beta-oxidação da gordura, o metabolismo, controla a produção do colesterol, é ligado diretamente à fertilidade, fluxo menstrual, qualidade de cabelo, unha e pele

Os sinais e sintomas do hipotireoidismo são diversos, entre eles podemos destacar:

Fraqueza e cansaço, perda e afinamento do cabelo, unhas fracas, pele seca, extremidades frias, constipação, ganho de peso, dificuldade de concentração, memoria ruim, depressão, dores de cabeça frequentes, colesterol alto, alergias, dores inexplicáveis, etc.

Como principais causas e/ou relações podemos citar:

1)  1)  Má absorção de iodo (halogênio mais pesado que o cloro, flúor e bromo, ou seja, tais elementos competem com o iodo pela mesma porta de entrada. Por isso na presença de cloro, flúor ou bromo, o iodo terá dificuldades de ser absorvido);

2) 2)   Desnutrição: Selênio, zinco, ferro, Iodo e VIT D; a produção desses hormônios são dependentes desses micronutrientes.

3)  3)  Anticorpos atacando as células, a peroxidase e/ou tireoglobulina, em função de disbiose (hipermeabilidade intestinal) causada por alimentos pró-inflamatórios como glúten, caseína e outras proteínas mal digeridas;

4)   4) Estresse contínuo e crônico (desequilíbrio do cortisol);

5)  5)  Função prejudicada do fígado, que faz 80% do processo.  (esteatose, uso de anti-hipertensivos, diabetes, "prazóis", álcool, etc prejudicam a conversão de T4 em T3.

6)    6)  Disruptores endócrinos: Bisfenol A BPA encontrado em plástico aquecido. atenção às água consumidas em galões de plástico, pois os mesmos podem ficar expostos ao sol, durante o transito ate chegar ao seu destino;

7)   7)  Obesidade e resistência á insulina;

8)  8) Conversão de T4 em T3 reverso (hormônio não ativo)

Como funcionam esses hormônios ?

Tireoide é uma glândula endócrina, ou seja, que produz hormônios. Hormônios são sinalizadores / mensageiros que levam informação para células, dizem às células o que fazer. As células são boas funcionárias, mas sozinhas não sabem o que fazer. Então elas precisam de uma mensagem, um comando, precisam também de um receptor que faça a leitura da mensagem. Aí sim, a células saberão o que produzir. Os receptores ficam na membrana ou no núcleo das células. No caso da tireoide, os receptores estão no núcleo das células.

Quando o hipotálamo identifica que as concentrações de T3 e T4 estão baixas, ele secreta o hormônio TRH, que é lançado na corrente sanguínea, e que ao chegar na hipófise, faz com que ela secrete o hormônio TSH (hormônio estimulante da tireoide). O TSH é um sinal para a tireoide trabalhar mais.

Quando o TSH entra na tireoide, ele é reconhecido por um receptor ligado a uma proteína G. Através desse receptor,  a tireoide entende que precisa produzir T4 e T3. O T4 não é um hormônio, e sim um pré-hormônio, já o T3  sim, é o hormônio ativo que fará as funções acima descritas. 

O T4 vai se transformando em T3 gradativamente, porém alguns nutrientes são necessários para que a tireoide produza T4, como por exemplo o aminoácido(proteína) tirosina, que é a base da estrutura para formar T3 e T4,  encontrada na proteína animal, oleaginosas, leguminosas, cerais  e abacate, assim como, o Iodo, encontrado principalmente nas proteínas marinhas, e no sal que foi iodado pela lei em 1953, para prevenir bócio por consequência dos distúrbios da tireoide.

Para fazer T3 e T4 é necessário a tirosina + iodo, que é um halógeno, elemento químico formadores de sais inorgânicos. Pertence ao grupo do flúor, cloro, bromo, iodo, sendo esse último mais pesado. A tirosina + o iodo orgânico, depois de ter passado pela TPO (enzima peroxidase que transforma o iodo inorgânico em orgânico, pois ingerimos o iodo em forma inorgânica, mas o processo precisa dele na forma orgânica), estão prontos para se ligarem a TPG tireoglobulina e formarem a estrutura T1, T2, T3 e T4, que se compõe de 1 aa de tirosina + 1 átomo de iodo = T1,  e vai  adicionando iodo ate compor o T4, que é um pré-hormônio mais estável e com maior tempo de vida que o T3.

O T4 vai pela corrente sanguínea até o fígado, rins e baço, onde encontram a enzima seleniodinase, dependente de selênio. Essa enzima sequestra 1 iodo do T4 e o transforma em T3. Tanto o T4 quanto o T3 precisam de um proteína transportadora (TGB albumina – clara do ovo) para chegar até a célula. Então precisamos garantir quantidade suficiente de TGB em nosso organismo.

Nesse caminho vamos encontrar os disruptores endócrinos, que são moléculas não produzidas pelo nosso corpo, mas que são ingeridas, e ao entrar em contato com o corpo, vão atuar se ligando nos receptores da célula, impedindo que o receptor fique pronto para receber o hormônio.

Outro destruidor da tireoide é o estresse contínuo e crônico, que prejudica a produção de cortisol, que nesse caso é necessário para a comunicação entre o hipotálamo e a hipófise.

É imprescindível ter atenção á alimentação garantindo um aporte adequado de iodo, tirosina, selênio, zinco e ferro, lembrando que nossa enzima TPO é ferro dependente. Um aporte adequado significa a quantidade certa para cada individuo, nem mais, nem menos. Essa análise, apenas um nutricionista ou médico capacitado poderá fazer.

Importante ter as funções do fígado preservadas, pois é nesse órgão que acontece 80% do processo. Portanto, se houver esteatose, frequência de remédios anti-hipertensivos, diabetes, prazóis, álcool,  esse fígado terá baixa conversão de T4 em T3.

Uma das principais causas para o hipotireoidismo de hashimoto, por presença de anticorpos anti TPO e anti TGP,  é a disbiose ou hipermeabilidade intestinal, favorecendo a entrada de proteínas mal digeridas do lúmen (lugar por onde passa o alimento no intestino) para corrente sanguínea, que por sua vez ativará o sistema imunológico. Existem frações mal digeridas de proteínas muito similares com a tireoglobulina e a peroxidase, chamada de mimetismo celular/molecular. Esse mimetismo “engana” nosso sistema imunológico que acaba atacando as células da tireóide como se fosse um corpo estranho que precisasse ser eliminado. A gliadina do glúten,  e a caseína do leite são exemplos desse mimetismo.

Por fim, o corpo humano funciona em função de hormônios, que por sua vez necessitam de nutrientes para serem formados. Há uma cascata de reações químicas dependentes de nutrientes e coordenação dos mesmos. Portanto, é essencial o acompanhamento de um nutricionista habilitado e capacitado em tais orientações e contribuições para o devido tratamento junto ao médico endocrinologista. Lembrando sempre que nosso organismo entende e responde muito mais fácil aos nutrientes. Então, que nos cuidemos com o carinho e responsabilidade que nosso corpo merece e necessita.

 

 Estagiária: Christiane Gallucci

 

Referências:

Nutrientes 2023 , 15 (4), 1041; https://doi.org/10.3390/nu15041041, A influência da intervenção nutricional no tratamento da tireoidite de Hashimoto;

Deputado Rayman. Múltiplos fatores nutricionais e doenças da tireoide, com referência particular às doenças autoimunes da tireoide. Anais da Sociedade de Nutrição . 2019;78(1):34-44. doi:10.1017/S0029665118001192

 

 

 


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