O Brasil é campeão em
hipotireoidismo no mundo, mesmo com iodização obrigatória.
Esta doença é diagnosticada com mais frequência em mulheres do que em
homens (350 vs. 80 por 100 mil pessoas por ano). No desenvolvimento da doença
de Hashimoto, os fatores genéticos são responsáveis por 70–80% do risco e os
fatores ambientais por 20–30%.
Riscos genéticos significam uma receita pronta para a doença em nosso
DNA, os fatores ambientais, significam os gatilhos, ou “ingredientes da receita”, que ingerimos
ou não para produzir essa receita. Portanto, mesmo que tenhamos a receita em
nosso DNA, podemos nos atentar aos gatilhos, reduzindo ou eliminando esses "ingredientes" para nos protegermos da
doença ou postergá-las o maior tempo possível.
O hipotireoidismo é um
desequilíbrio que leva a queda de produção dos hormônios produzidos pela tireoide,
uma glândula endócrina comandada pelo sistema regulador: Hipotálamo (hormônio
TRH) => Hipófise (TSH) => Tireoide
( T4 e T3). A hipófise tem o tamanho de um grão de arroz, mas controla vários
hormônios , os sexuais (estrogênio e testosterona), Tireoidianos (T4 – pré-hormônio
e T3 -hormônio), os adrenais (cortisol) e síntese de prolactina.
O hipotireoidismo pode se dar por conta de doença autoimune, conhecida como tireoidite de hashimoto, quando
há presença de anticorpos que atacam as células da tireoide TPO (enzima tireoperoxidase),
e TGP ( proteína tireoglobulina), ou por uma disfunção das enzimas Dio2
(diodinase2)/ Dio1 / Dio3, que não é motivada por doença autoimune.
É difícil conhecer um outro
hormônio que tenha tantas funções no corpo como o T3 livre (Triiodotironina). Há
receptores de T3 em todas as células do corpo. Ele modula a beta-oxidação da
gordura, o metabolismo, controla a produção do colesterol, é ligado diretamente
à fertilidade, fluxo menstrual, qualidade de cabelo, unha e pele
Os sinais e sintomas do
hipotireoidismo são diversos, entre eles podemos destacar:
Fraqueza e cansaço, perda e
afinamento do cabelo, unhas fracas, pele seca, extremidades frias, constipação,
ganho de peso, dificuldade de concentração, memoria ruim, depressão, dores de
cabeça frequentes, colesterol alto, alergias, dores inexplicáveis, etc.
Como principais causas e/ou relações
podemos citar:
1) 1) Má
absorção de iodo (halogênio mais pesado que o cloro, flúor e bromo, ou seja, tais elementos competem com o iodo pela mesma porta de entrada. Por isso
na presença de cloro, flúor ou bromo, o iodo terá dificuldades de ser absorvido);
2) 2) Desnutrição:
Selênio, zinco, ferro, Iodo e VIT D; a produção desses hormônios são dependentes desses micronutrientes.
3) 3) Anticorpos
atacando as células, a peroxidase e/ou tireoglobulina, em função de disbiose
(hipermeabilidade intestinal) causada por alimentos pró-inflamatórios como
glúten, caseína e outras proteínas mal digeridas;
4) 4) Estresse
contínuo e crônico (desequilíbrio do cortisol);
5) 5) Função
prejudicada do fígado, que faz 80% do processo. (esteatose, uso de anti-hipertensivos,
diabetes, "prazóis", álcool, etc prejudicam a conversão de T4 em T3.
6) 6) Disruptores
endócrinos: Bisfenol A BPA encontrado em plástico aquecido. atenção às água consumidas em galões de plástico, pois os mesmos podem ficar expostos ao sol, durante o transito ate chegar ao seu destino;
7) 7) Obesidade
e resistência á insulina;
8) 8) Conversão
de T4 em T3 reverso (hormônio não ativo)
Como
funcionam esses hormônios ?
Tireoide é uma glândula
endócrina, ou seja, que produz hormônios. Hormônios são sinalizadores /
mensageiros que levam informação para células, dizem às células o que fazer. As
células são boas funcionárias, mas sozinhas não sabem o que fazer. Então elas precisam
de uma mensagem, um comando, precisam também de um receptor que faça a leitura
da mensagem. Aí sim, a células saberão o que produzir. Os receptores ficam na
membrana ou no núcleo das células. No caso da tireoide, os receptores estão no
núcleo das células.
Quando o hipotálamo
identifica que as concentrações de T3 e T4 estão baixas, ele secreta o hormônio
TRH, que é lançado na corrente sanguínea, e que ao chegar na hipófise, faz com
que ela secrete o hormônio TSH (hormônio estimulante da tireoide). O TSH é um
sinal para a tireoide trabalhar mais.
Quando o TSH entra na
tireoide, ele é reconhecido por um receptor ligado a uma proteína G. Através
desse receptor, a tireoide entende que precisa
produzir T4 e T3. O T4 não é um hormônio, e sim um pré-hormônio, já o T3 sim, é o hormônio ativo que fará as funções
acima descritas.
O T4 vai se transformando em
T3 gradativamente, porém alguns nutrientes são necessários para que a tireoide
produza T4, como por exemplo o aminoácido(proteína) tirosina, que
é a base da estrutura para formar T3 e T4,
encontrada na proteína animal, oleaginosas, leguminosas, cerais e abacate, assim como, o Iodo, encontrado
principalmente nas proteínas marinhas, e no sal que foi iodado pela lei em 1953, para prevenir
bócio por consequência dos distúrbios da tireoide.
Para
fazer T3 e T4 é necessário a tirosina + iodo, que é um halógeno, elemento
químico formadores de sais inorgânicos. Pertence ao grupo do flúor, cloro,
bromo, iodo, sendo esse último mais pesado. A tirosina + o iodo orgânico,
depois de ter passado pela TPO (enzima peroxidase que transforma o iodo
inorgânico em orgânico, pois ingerimos o iodo em forma inorgânica, mas o
processo precisa dele na forma orgânica), estão prontos para se ligarem a TPG
tireoglobulina e formarem a estrutura T1, T2, T3 e T4, que se compõe de 1 aa de
tirosina + 1 átomo de iodo = T1, e vai adicionando iodo ate compor o T4, que
é um pré-hormônio mais estável e com maior tempo de vida que o T3.
O T4
vai pela corrente sanguínea até o fígado, rins e baço, onde encontram a enzima
seleniodinase, dependente de selênio. Essa enzima sequestra 1 iodo do T4 e o
transforma em T3. Tanto o T4 quanto o T3 precisam de um proteína transportadora
(TGB albumina – clara do ovo) para chegar até a célula. Então precisamos
garantir quantidade suficiente de TGB em nosso organismo.
Nesse
caminho vamos encontrar os disruptores endócrinos, que são moléculas não
produzidas pelo nosso corpo, mas que são ingeridas, e ao entrar em contato com
o corpo, vão atuar se ligando nos receptores da célula, impedindo que o
receptor fique pronto para receber o hormônio.
Outro
destruidor da tireoide é o estresse contínuo e crônico, que prejudica a
produção de cortisol, que nesse caso é necessário para a comunicação entre o
hipotálamo e a hipófise.
É
imprescindível ter atenção á alimentação garantindo um aporte adequado
de iodo, tirosina, selênio, zinco e ferro, lembrando que nossa enzima TPO é
ferro dependente. Um aporte adequado significa a quantidade certa para cada individuo, nem mais, nem menos. Essa análise, apenas um nutricionista ou médico capacitado poderá fazer.
Importante
ter as funções do fígado preservadas, pois é nesse órgão que acontece
80% do processo. Portanto, se houver esteatose, frequência de remédios
anti-hipertensivos, diabetes, prazóis, álcool, esse fígado terá baixa conversão de T4 em T3.
Uma
das principais causas para o hipotireoidismo de hashimoto, por presença de anticorpos
anti TPO e anti TGP, é a disbiose ou
hipermeabilidade intestinal, favorecendo a entrada de proteínas mal digeridas do
lúmen (lugar por onde passa o alimento no intestino) para corrente sanguínea, que por sua vez ativará o sistema imunológico.
Existem frações mal digeridas de proteínas muito similares com a tireoglobulina
e a peroxidase, chamada de mimetismo celular/molecular. Esse mimetismo “engana”
nosso sistema imunológico que acaba atacando as células da tireóide como se
fosse um corpo estranho que precisasse ser eliminado. A gliadina do
glúten, e a caseína do leite são
exemplos desse mimetismo.
Por fim, o corpo humano funciona em função de hormônios, que por sua vez necessitam de
nutrientes para serem formados. Há uma cascata de reações químicas dependentes
de nutrientes e coordenação dos mesmos. Portanto, é essencial o acompanhamento
de um nutricionista habilitado e capacitado em tais orientações e contribuições
para o devido tratamento junto ao médico endocrinologista. Lembrando sempre que
nosso organismo entende e responde muito mais fácil aos nutrientes. Então, que nos cuidemos com o carinho e responsabilidade que nosso corpo merece e necessita.
Referências:
Nutrientes 2023 , 15 (4), 1041; https://doi.org/10.3390/nu15041041, A influência da intervenção nutricional no tratamento da tireoidite de Hashimoto;
Deputado
Rayman. Múltiplos fatores nutricionais e doenças da tireoide, com referência
particular às doenças autoimunes da tireoide. Anais da Sociedade de Nutrição .
2019;78(1):34-44. doi:10.1017/S0029665118001192
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