Considera-se um suplemento
ergogênico qualquer substância, seja ela ilícita ou não, que seja utilizada
para aumentar o desempenho esportivo, a capacidade energética ou melhorar a
aparência física. A utilização deste tipo de substâncias não é uma prática
recente, mas atualmente tem-se tornado cada vez mais comum, quer por atletas
profissionais, quer por amadores.
Independentemente da alta prevalência da utilização de substâncias que
aumentam a performance no desporto, a principal atenção da mídia recai sobre os
atletas profissionais e as vantagens que obtêm de forma ilegal em competições.
Contudo, a utilização de substâncias ergogênicas pode ter consequências nefastas para a saúde, muito particularmente no caso de atletas amadores ou frequentadores de ginásios que muitas vezes as utilizam sem conhecimento sobre os potenciais efeitos adversos dos suplementos em questão. É ainda de salientar a utilização consciente deste tipo de substâncias por atletas de elite que, apesar do risco, o fazem com o objetivo de obter melhores resultados competitivos, muitas vezes influenciados pelos próprios treinadores.
As substâncias ergogênicas mais
utilizadas atualmente variam muito entre si e incluem esteroides androgênicos
anabolizantes (EAA), precursores dos esteroides, hormônio do crescimento,
cafeína, creatina, eritropoietina, efedrina e entre outras.
Creatina
A creatina é um dos compostos
mais utilizados em suplementos a nível mundial, sendo comercializada nas mais
variadas formas, e podendo até ser adquirida sob a forma de suplementos, em
supermercados e lojas de artigos esportivos.
Mecanismo de ação
Quimicamente, a creatina é classificada como um aminoácido e é sintetizada naturalmente no organismo através de uma série de reações. Inicialmente, os aminoácidos arginina e glicina vão transformar-se em ornitina e guanidinoacetato, por intermédio da ação de uma transferase, a arginina: glicina amidotransferase (enzima). Após isso ocorrem mais algumas reações originando a creatina. A maioria destas reações ocorre no rim, exceto a de metilação que ocorre no tecido hepático.
Após a sua produção, a creatina é
transportada para os músculos, coração e cérebro, sendo que 95% das reservas
corporais da mesma ficam presentes no músculo esquelético. A creatina é por sua
vez excretada por via renal. Para além da sua produção endógena, a creatina
também pode ser obtida através da dieta, ocorrendo maioritariamente na carne
vermelha e no peixe.
No músculo esquelético, a
creatina armazenada, existe num equilíbrio entre a sua forma livre e a sua forma
fosforilada, a fosfocreatina, sendo que a sua interconversão ocorre por ação da
creatina cinase. É a fosfocreatina que serve de substrato energético para a
contração do músculo esquelético.
Aumento da
performance esportiva
Foram realizados numerosos estudos sobre
a suplementação de creatina e o seu papel na melhoria do desempenho esportivo
sendo que, as investigações efetuadas sobre os efeitos da creatina oral ao
nível dos tecidos musculares evidenciaram que esta induz várias alterações.
Através da suplementação com 30 g
de creatina diários, verifica-se um aumento de cerca de 20% na fosfocreatina
muscular, bem como um aumento mais rápido da fosfocreatina durante a
recuperação e um atraso no início da fadiga devido a um efeito de tamponamento
do ácido láctico nos músculos.
Os efeitos no desempenho esportivo são mais frequente no aumento de força, e melhoria do
desempenho em atividades anaeróbias de curta duração, ou
seja, atividades de alta intensidade. Dessa forma, a suplementação com creatina
não parece aumentar a resistência, uma vez que a atividade muscular prolongada
depende da glicólise aeróbia.
Potenciais
efeitos adversos
A utilização de creatina a
curto prazo é considerada segura e não apresenta efeitos adversos
significativos. Contudo, os atletas que iniciam a suplementação com creatina
verificam, normalmente, um aumento de peso inicial de cerca de 1,6 a 2,4 kg e
alguns desconfortos gastrointestinais, bem como cãibras musculares que não são
suficientes para os desencorajar e parar a suplementação.
Existe ainda um risco acrescido
de desidratação provocado pelo efeito osmótico que a creatina exerce ao nível
das células musculares, pelo que a suplementação com a substância deve ser
acompanhada de uma maior ingestão de água. Wen et al. relatou dois casos de
atletas saudáveis, suplementados com creatina que sofreram um tromboembolismo
venoso, sendo que o evento trombótico teve como fator precipitante a
desidratação provocada pela creatina.
Existem escassos estudos sobre os
efeitos a longo prazo do consumo de creatina, contudo, é consenso geral que
deve ser feita com precaução no contexto de doença renal e hepática, uma vez
que a substância é metabolizada e posteriormente excretada por estes órgãos.
Em casos de insuficiência renal e
hepática, pode, devido a estas condições, ocorrer acumulação de creatina e
consequentemente toxicidade. Adicionalmente, uma vez que a creatina é comercializada
em locais de fácil acesso, os casos de sobre-exposição e overdose podem tornar
se mais frequentes dado que os atletas podem consumir mais do que a dose máxima
recomendada com o objetivo de obter melhores resultados esportivos.
Creatina e a influência do aumento do DHT (diidrotestosterona)
Sabemos que a creatina não é um esteroide
anabolizante, por ela ser classificada como suplemento, e por ela influenciar
apenas no rendimento esportivo das atividades físicas, melhorando a performance e influenciando no ganho de massa magra. No entanto há alguns anos atrás, um estudo
publicado na revista Clinical Journal of Sport Medicine comprovou efeitos
adversos do seu uso em jogadores de futebol.
O fato é que ela havia
influenciado os níveis hormonais de DHT, o hormônio derivado da testosterona
que causa alopecia androgênica (queda de cabelo, afinamento e consequente
enfraquecimento).
Vimos anteriormente que como todo
e qualquer suplemento, pode causar efeitos adversos a saúde, sem acompanhamento
profissional adequado. Ou seja, doses maiores que o proposto para a capacidade
de metabolização e absorção do organismo. O que acabou influenciando no
resultado, muitas vezes interpretado pelo senso comum que seu uso traz uma
expectativa anormal da melhora da performance física em competições ou treinos.
Até o momento não houveram outros estudos que comprovassem 100% os efeitos da queda de cabelo relacionados ao uso da creatina. Além disso, não foram realizados mais estudos e pesquisas desenvolvidas acerca do assunto após a publicação do artigo na revista no ano de 2009. Sabemos que a queda de cabelo de forma genética, pode manifestar os níveis de DHT elevados, de forma natural como resposta do próprio corpo para a tendência a calvície.
Devemos levar em consideração
também que fatores como: covid, alterações hormonais pós-parto, deficiência de
nutrientes, medicamentos, e hipotireoidismo, também são fatores preponderantes
para investigações mais profundas, relacionadas a uma simples queda de cabelo,
que sem dúvidas mascara outros sintomas de desequilíbrio do eixo fisiológico e hormonal do
organismo.
Referencias: Artigo: Substâncias mais consumidas com o objetivo de
aumentar o desempenho esportivo e seus riscos para a saúde.
Artigo: Three weeks of creatine monohydrate supplementation affects
dihydrotestosterone to testosterone ratio in college-aged rugby players.
Por: Gabriele Ferrari estagiária.
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