O colesterol é frequentemente associado a riscos cardiovasculares, mas sua importância vai muito além. Ele é um dos principais precursores hormonais, sendo fundamental para a síntese de testosterona, estrogênio, progesterona e cortisol. O equilíbrio entre lipoproteínas de alta densidade (HDL) e baixa densidade (LDL) garante não apenas a saúde cardiovascular, mas também a homeostase endócrina.
Este artigo discute a relação entre colesterol, hormônios sexuais e saúde metabólica em diferentes faixas etárias, além de estratégias nutricionais e parâmetros físicos que podem indicar indiretamente se o corpo está mantendo esse equilíbrio.
1. Colesterol e Hormônios Sexuais
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Síntese hormonal: O colesterol é a molécula base para a produção dos hormônios esteroides (testosterona, estradiol, progesterona e cortisol).
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Testosterona e saúde reprodutiva: níveis adequados de colesterol são essenciais para a produção de testosterona em homens e mulheres, impactando fertilidade, massa muscular, densidade óssea e disposição.
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Equilíbrio HDL e LDL: enquanto o LDL em excesso pode favorecer aterosclerose, níveis adequados são necessários como "matéria-prima". Já o HDL ajuda no transporte reverso de colesterol, mantendo a circulação limpa e funcional.
2. Necessidades por Faixa Etária
Adolescência (12–18 anos)
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Crescimento e puberdade: demanda elevada de colesterol para produção de hormônios sexuais e desenvolvimento corporal.
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Nutrição: gorduras boas (abacate, oleaginosas, azeite, peixes) auxiliam no equilíbrio hormonal.
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Indicadores físicos: ganho adequado de massa magra, regularidade menstrual nas meninas e desenvolvimento puberal nos meninos.
Adultos Jovens (19–37 anos)
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Metabolismo e performance: equilíbrio lipídico favorece energia, fertilidade e manutenção de massa muscular.
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Nutrição: priorizar dieta mediterrânea, rica em fibras, antioxidantes e gorduras insaturadas.
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Indicadores físicos: composição corporal estável, percentual de gordura dentro da faixa saudável (homens: 12–18%; mulheres: 18–25%).
Adultos de Meia-Idade (38–49 anos)
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Mudanças hormonais: queda progressiva da testosterona nos homens (~1% ao ano) e variações de estrogênio nas mulheres.
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Nutrição: reduzir ultraprocessados, priorizar alimentos anti-inflamatórios (peixes, cúrcuma, frutas vermelhas).
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Indicadores físicos: cintura abdominal <94 cm (homens) e <80 cm (mulheres) como sinal indireto de bom perfil lipídico.
Pré-seniores (50–65 anos)
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Climatério e andropausa: maior risco de desequilíbrio entre HDL e LDL.
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Nutrição: aumento da ingestão de fibras solúveis (aveia, leguminosas) para controle do LDL.
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Indicadores físicos: manutenção de força (teste de preensão manual, subir escadas sem dificuldade).
Idosos (>66 anos)
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Metabolismo mais lento: atenção redobrada à sarcopenia e ao risco cardiovascular.
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Nutrição: proteínas adequadas (1,0–1,2 g/kg), gorduras boas, controle de açúcares refinados.
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Indicadores físicos: mobilidade, equilíbrio e preservação de massa magra como sinais de boa homeostase.
3. Estratégias Nutricionais para o Alinhamento Lipídico e Hormonal
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Gorduras boas: azeite de oliva, peixes ricos em ômega-3, abacate, oleaginosas.
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Fibras: reduzem LDL e favorecem microbiota intestinal, impactando indiretamente na regulação hormonal.
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Polifenóis: presentes em cacau, chá verde, frutas vermelhas, auxiliam na proteção vascular.
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Equilíbrio calórico: evitar tanto déficit excessivo (que prejudica produção hormonal) quanto excesso calórico (que eleva LDL e resistência insulínica).
4. Condicionamento Físico e Medidas Corporais como Indicadores Indiretos
Sem exames bioquímicos, é possível avaliar:
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Circunferência abdominal: forte preditor de dislipidemia.
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Percentual de gordura corporal: monitorado por dobras cutâneas ou bioimpedância.
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Capacidade cardiorrespiratória: VO₂ máximo ou simples teste de caminhada.
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Força muscular: indicador de bons níveis de testosterona e equilíbrio metabólico.
5. Reposição Hormonal e Alterações no Lipograma
Indivíduos em terapia de reposição hormonal (TRH ou TRT) podem apresentar:
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Aumento do HDL com estrogênios.
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Elevação do LDL ou redução do HDL em alguns casos de testosterona sintética.
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Necessidade de monitoramento regular do lipograma para evitar riscos cardiovasculares.
Resumo das principais evidências por faixa etária
Faixa Etária | Principais Evidências |
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12–18 anos | Aumento de testosterona livre associa-se a perfil lipídico mais aterogênico; o estradiol apresenta efeitos protetores. |
19–37 anos | Perfil lipídico (HDL, LDL) correlaciona-se com níveis hormonais; ainda há importância da nutrição (PUFA, dieta balanceada). |
38–49, 50–65 anos | Evidências limitadas diretas, mas alterações hormonais (baixos níveis) e impacto de estilo de vida são relevantes. Estudos em mulheres idosas sugerem que níveis mais elevados de testosterona podem ter efeito cardioprotetor via HDL. |
>66 anos | Associação positiva entre testosterona e HDL-C em mulheres idosas reforça a importância de manter níveis hormonais adequados |
Conclusão
O colesterol não deve ser visto apenas como vilão, mas como peça-chave na produção hormonal e manutenção da homeostase. O equilíbrio entre HDL e LDL, ajustado por uma nutrição adequada, prática de exercícios e acompanhamento físico, garante saúde metabólica em todas as fases da vida. O cuidado torna-se ainda mais essencial para quem faz reposição hormonal, reforçando a importância do acompanhamento profissional individualizado.
Dra Janete Neves
Nutricionista Funcional e Esportiva
Referências
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