quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Colesterol, Hormônios e Homeostase: A Importância do Equilíbrio Lipídico para Diferentes Fases da Vida


 O colesterol é frequentemente associado a riscos cardiovasculares, mas sua importância vai muito além. Ele é um dos principais precursores hormonais, sendo fundamental para a síntese de testosterona, estrogênio, progesterona e cortisol. O equilíbrio entre lipoproteínas de alta densidade (HDL) e baixa densidade (LDL) garante não apenas a saúde cardiovascular, mas também a homeostase endócrina.

Este artigo discute a relação entre colesterol, hormônios sexuais e saúde metabólica em diferentes faixas etárias, além de estratégias nutricionais e parâmetros físicos que podem indicar indiretamente se o corpo está mantendo esse equilíbrio.


1. Colesterol e Hormônios Sexuais

  • Síntese hormonal: O colesterol é a molécula base para a produção dos hormônios esteroides (testosterona, estradiol, progesterona e cortisol).

  • Testosterona e saúde reprodutiva: níveis adequados de colesterol são essenciais para a produção de testosterona em homens e mulheres, impactando fertilidade, massa muscular, densidade óssea e disposição.

  • Equilíbrio HDL e LDL: enquanto o LDL em excesso pode favorecer aterosclerose, níveis adequados são necessários como "matéria-prima". Já o HDL ajuda no transporte reverso de colesterol, mantendo a circulação limpa e funcional.


2. Necessidades por Faixa Etária

Adolescência (12–18 anos)

  • Crescimento e puberdade: demanda elevada de colesterol para produção de hormônios sexuais e desenvolvimento corporal.

  • Nutrição: gorduras boas (abacate, oleaginosas, azeite, peixes) auxiliam no equilíbrio hormonal.

  • Indicadores físicos: ganho adequado de massa magra, regularidade menstrual nas meninas e desenvolvimento puberal nos meninos.

Adultos Jovens (19–37 anos)

  • Metabolismo e performance: equilíbrio lipídico favorece energia, fertilidade e manutenção de massa muscular.

  • Nutrição: priorizar dieta mediterrânea, rica em fibras, antioxidantes e gorduras insaturadas.

  • Indicadores físicos: composição corporal estável, percentual de gordura dentro da faixa saudável (homens: 12–18%; mulheres: 18–25%).

Adultos de Meia-Idade (38–49 anos)

  • Mudanças hormonais: queda progressiva da testosterona nos homens (~1% ao ano) e variações de estrogênio nas mulheres.

  • Nutrição: reduzir ultraprocessados, priorizar alimentos anti-inflamatórios (peixes, cúrcuma, frutas vermelhas).

  • Indicadores físicos: cintura abdominal <94 cm (homens) e <80 cm (mulheres) como sinal indireto de bom perfil lipídico.

Pré-seniores (50–65 anos)

  • Climatério e andropausa: maior risco de desequilíbrio entre HDL e LDL.

  • Nutrição: aumento da ingestão de fibras solúveis (aveia, leguminosas) para controle do LDL.

  • Indicadores físicos: manutenção de força (teste de preensão manual, subir escadas sem dificuldade).

Idosos (>66 anos)

  • Metabolismo mais lento: atenção redobrada à sarcopenia e ao risco cardiovascular.

  • Nutrição: proteínas adequadas (1,0–1,2 g/kg), gorduras boas, controle de açúcares refinados.

  • Indicadores físicos: mobilidade, equilíbrio e preservação de massa magra como sinais de boa homeostase.


3. Estratégias Nutricionais para o Alinhamento Lipídico e Hormonal

  • Gorduras boas: azeite de oliva, peixes ricos em ômega-3, abacate, oleaginosas.

  • Fibras: reduzem LDL e favorecem microbiota intestinal, impactando indiretamente na regulação hormonal.

  • Polifenóis: presentes em cacau, chá verde, frutas vermelhas, auxiliam na proteção vascular.

  • Equilíbrio calórico: evitar tanto déficit excessivo (que prejudica produção hormonal) quanto excesso calórico (que eleva LDL e resistência insulínica).


4. Condicionamento Físico e Medidas Corporais como Indicadores Indiretos

Sem exames bioquímicos, é possível avaliar:

  • Circunferência abdominal: forte preditor de dislipidemia.

  • Percentual de gordura corporal: monitorado por dobras cutâneas ou bioimpedância.

  • Capacidade cardiorrespiratória: VO₂ máximo ou simples teste de caminhada.

  • Força muscular: indicador de bons níveis de testosterona e equilíbrio metabólico.


5. Reposição Hormonal e Alterações no Lipograma

Indivíduos em terapia de reposição hormonal (TRH ou TRT) podem apresentar:

  • Aumento do HDL com estrogênios.

  • Elevação do LDL ou redução do HDL em alguns casos de testosterona sintética.

  • Necessidade de monitoramento regular do lipograma para evitar riscos cardiovasculares.


Resumo das principais evidências por faixa etária

Faixa EtáriaPrincipais Evidências
12–18 anosAumento de testosterona livre associa-se a perfil lipídico mais aterogênico; o estradiol apresenta efeitos protetores. 
19–37 anosPerfil lipídico (HDL, LDL) correlaciona-se com níveis hormonais; ainda há importância da nutrição (PUFA, dieta balanceada).
38–49, 50–65 anosEvidências limitadas diretas, mas alterações hormonais (baixos níveis) e impacto de estilo de vida são relevantes. Estudos em mulheres idosas sugerem que níveis mais elevados de testosterona podem ter efeito cardioprotetor via HDL. 
>66 anosAssociação positiva entre testosterona e HDL-C em mulheres idosas reforça a importância de manter níveis hormonais adequados

Conclusão

O colesterol não deve ser visto apenas como vilão, mas como peça-chave na produção hormonal e manutenção da homeostase. O equilíbrio entre HDL e LDL, ajustado por uma nutrição adequada, prática de exercícios e acompanhamento físico, garante saúde metabólica em todas as fases da vida. O cuidado torna-se ainda mais essencial para quem faz reposição hormonal, reforçando a importância do acompanhamento profissional individualizado.

 Dra Janete Neves 

Nutricionista Funcional e Esportiva

Referências

  1. Saari, T., et al. (2021). Pubertal changes in lipids and lipoproteins: effect of dietary intervention – the STRIP study. Atherosclerosis, 329, 46–54. PMC8567005

  2. de Lemos, C. M., et al. (2023). The effect of dietary fat intake on serum testosterone in men: a meta-analysis of randomized controlled trials. arXiv preprint, arXiv:2204.00007. arXiv.org

  3. Li, C., et al. (2023). Dietary cholesterol intake and serum testosterone levels in men: NHANES 2013–2014. Lipids in Health and Disease, 22, 55. Biomed Central

  4. Rahman, F., et al. (2024). Sex steroid hormones and lipid profile in elderly women: associations with testosterone and DHEA. Frontiers in Endocrinology, 15, 1368231. PMC11196127

  5. Rickenlund, A., et al. (2003). Serum testosterone and estradiol concentrations are associated with lipid profile in adolescent boys. Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, 88(7), 3821–3826. PubMed 12838191

  6. Nguyen, P. T., et al. (2024). Associations of serum HDL cholesterol with testosterone levels in US men: NHANES 2011–2016 analysis. Translational and Clinical Pharmacology, 12(1), 63–72.

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