terça-feira, 23 de setembro de 2025

 

A Doença de Crohn e a Alimentação: Estratégias Nutricionais para o Controle da Condição
Por: Daniela Ribeiro


A Doença de Crohn é uma doença inflamatória crônica que afeta principalmente o trato gastrointestinal, causando inflamação que pode levar a complicações graves como estreitamentos, fístulas e sangramentos. Embora a causa exata da doença ainda não seja completamente compreendida, sabe-se que ela é desencadeada por uma combinação de fatores genéticos, imunológicos e ambientais. Um dos fatores ambientais que pode ter um impacto significativo no controle da doença é a alimentação.

Como a Alimentação Pode Influenciar a Doença de Crohn

Embora a alimentação não seja a causa direta da Doença de Crohn, certos alimentos podem piorar os sintomas durante os surtos ou mesmo contribuir para o desenvolvimento de complicações. Por outro lado, uma alimentação equilibrada e adequada pode ajudar a reduzir a inflamação, melhorar a absorção de nutrientes e manter a função intestinal.

Durante os surtos agudos da doença, o trato gastrointestinal está mais inflamado, o que pode tornar o processo digestivo mais difícil e aumentar a probabilidade de irritação. Por isso, é fundamental adaptar a dieta conforme as necessidades do paciente, priorizando alimentos de fácil digestão e evitando aqueles que possam agravar os sintomas.

Na fase de remissão, a alimentação pode ajudar a manter o equilíbrio nutricional e prevenir a recaída, fornecendo os nutrientes necessários para a recuperação do intestino e o fortalecimento do sistema imunológico.

Alimentos a Evitar Durante os Surtos da Doença de Crohn

Durante os surtos agudos, é recomendado evitar certos alimentos que podem irritar o trato digestivo ou dificultar a digestão. Alguns desses alimentos incluem:

  1. Alimentos ricos em fibras insolúveis: Legumes crus, grãos integrais e nozes podem ser difíceis de digerir e causar desconforto abdominal.
  2. Laticínios: Muitas pessoas com Doença de Crohn têm intolerância à lactose, o que pode piorar sintomas como diarreia e dor abdominal. É aconselhável limitar ou evitar produtos lácteos, especialmente durante os surtos.
  3. Alimentos gordurosos e fritos: Esses alimentos podem aumentar a inflamação e causar diarreia. Eles também podem ser difíceis de digerir, aumentando a sensação de mal-estar.
  4. Alimentos condimentados e picantes: Comidas picantes podem irritar a mucosa intestinal e piorar a dor abdominal e a diarreia.
  5. Cafeína e bebidas alcoólicas: A cafeína pode estimular o intestino, agravando a diarreia, enquanto o álcool pode aumentar a inflamação intestinal e interferir na absorção de nutrientes.

 Alimentos que Podem Ajudar Durante os Surtos da Doença de Crohn

Embora existam alimentos que devem ser evitados, também há aqueles que podem ser benéficos para o paciente com Doença de Crohn, especialmente durante a fase aguda. Estes incluem:

  1. Alimentos de fácil digestão: Como arroz branco, batatas cozidas sem casca e carnes magras (como frango ou peixe cozido). Eles são bem tolerados e não irritam tanto o trato gastrointestinal inflamado.
  2. Caldos e sopas claras: São leves e hidratantes, oferecendo nutrientes sem sobrecarregar o sistema digestivo.
  3. Vegetais bem cozidos e sem casca: Como cenoura, abóbora e abobrinha, que são mais fáceis de digerir quando cozidos. O processo de cozimento reduz a quantidade de fibras e facilita a digestão.
  4. Fontes de proteína magra: Ovos, peito de frango e peixe cozido são boas opções, pois oferecem nutrientes essenciais sem adicionar muita gordura.
  5. Suplementos nutricionais: Durante um surto, o corpo pode ter dificuldade em absorver nutrientes adequados, especialmente vitaminas e minerais. Suplementos de ferro, vitamina D, cálcio e vitamina B12 podem ser indicados, dependendo das necessidades do paciente.

A Dieta Durante a Remissão

Na fase de remissão, quando os sintomas estão controlados, a alimentação pode ser mais variada, mas ainda assim, algumas considerações devem ser feitas para garantir que o paciente esteja recebendo todos os nutrientes necessários.

  1. Dieta equilibrada: Uma dieta rica em vegetais, frutas, grãos integrais, proteínas magras e gorduras saudáveis, como as presentes no azeite de oliva, abacate e nozes, pode ajudar a manter a saúde intestinal e reduzir o risco de futuros surtos.
  2. Ácidos graxos ômega-3: Presente em peixes como salmão e sardinha, além de sementes de chia e linhaça, o ômega-3 tem propriedades anti-inflamatórias que podem ajudar a manter a inflamação sob controle.
  3. Probióticos: Embora o uso de probióticos deva ser discutido com um médico, alguns estudos sugerem que o consumo de alimentos ricos em probióticos, como iogurte sem lactose e kefir, pode ser benéfico para equilibrar a flora intestinal e melhorar a saúde digestiva.
  4. Hidratação adequada: Durante a Doença de Crohn, especialmente em casos de diarreia crônica, a perda de líquidos é comum. Beber bastante água e, em alguns casos, soluções de reidratação oral, é essencial para evitar a desidratação.

Dieta Personalizada e Monitoramento Nutricional

É importante ressaltar que a alimentação para pacientes com Doença de Crohn deve ser personalizada. O que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra, e muitos pacientes desenvolvem sensibilidades alimentares específicas que precisam ser monitoradas de perto.

O acompanhamento de um nutricionista especializado em doenças inflamatórias intestinais é fundamental para garantir que o paciente esteja recebendo uma dieta equilibrada, que atenda às suas necessidades nutricionais enquanto minimiza os riscos de irritação ou inflamação.


Fonte: Nutritional Treatment in Crohn’s Disease. MDPI https://www.mdpi.com/2072-6643/13/5/1628

  Academy of Nutrition and Dieteticshttps://www.eatright.org/health/health-conditions/digestive-and-gastrointestinal/crohns-disease-and-diet

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