segunda-feira, 6 de maio de 2013

ÍNDICE GLICÊMICO DOS ALIMENTOS X DOENÇAS CARDIOVASCULARES



As doenças cardiovasculares são consideradas um grande problema de saúde pública, uma vez que são a principal causa de morte no Brasil e no mundo.

A elevada incidência dessas doenças parece ser um reflexo da transição nutricional, a qual é caracterizada pela diminuição dos casos de desnutrição e o aumento dos casos de sobrepeso/obesidade, evidentes em todo o mundo, e o Brasil tem acompanhado essas tendências. Esta mudança no perfil nutricional da população é resultante da diminuição da prática de atividade física de lazer e de mudanças no padrão alimentar da população, caracterizadas por aumento do consumo de gorduras (principalmente saturadas, de origem animal), açúcar e alimentos refinados, e pela redução do consumo de carboidratos complexos e de fibras.

Com relação à nutrição, tem sido observado que além da ingestão excessiva de energia, os componentes da dieta possuem grande influência no desenvolvimento ou na prevenção dessas doenças. Neste sentido, os aumentos da ingestão de ácidos graxos saturados, ácidos graxos trans e colesterol dietético são associados ao aumento de colesterol total, em especial ao aumento da lipoproteína de baixa densidade (LDL). Os ácidos graxos trans, ainda, promovem diminuição da lipoproteína de alta densidade (HDL). Já os ácidos graxos monoinsaturados e poliinsaturados são considerados benéficos, uma vez que os primeiros são associados à diminuição de colesterol total e ao aumento da HDL, enquanto que os últimos são associados à diminuição dos triglicerídeos séricos, à melhora da função plaquetária e à diminuição da pressão arterial em hipertensos.

As fibras, principalmente as solúveis, possuem efeito benéfico, reduzindo o colesterol total, a LDL e melhorando a tolerância à glicose. Também as substâncias antioxidantes da dieta, como vitamina E, pigmentos carotenóides, vitamina C, flavonóides e outros compostos fenólicos, são associadas a tais benefícios, uma vez que estas aumentam a resistência da LDL à oxidação.

O elevado consumo de carboidratos tem sido associado ao aumento da obesidade, das dislipidemias, da intolerância à glicose, do diabetes mellitus e da resistência insulínica, estando dessa forma entre os fatores de risco para as doenças cardiovasculares. Em relação ao perfil lipídico, o consumo das dietas com alto teor de carboidratos pode aumentar as concentrações de triglicerídeos plasmáticos e reduzir as concentrações de HDL. Vários estudos tentam relacionar o índice glicêmico ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, ou à melhora dos parâmetros e fatores de risco para tais doenças. O índice glicêmico é um indicador da qualidade do carboidrato ingerido, e existem controvérsias quanto à sua utilização e à sua eficácia na dieta de indivíduos em condições de vida livre (ou seja, condição sem controle laboratorial).

O conceito de índice glicêmico foi proposto devido ao reconhecimento que diferentes alimentos contendo a mesma quantidade de carboidrato possuem diferentes efeitos fisiológicos. Segundo alguns autores, alimentos com baixo índice glicêmico promovem menor elevação da glicemia pós-prandial, devido à sua lenta taxa de digestão e absorção. Por outro lado, os alimentos com alto índice glicêmico proporcionam um maior aumento da glicemia por serem digeridos e absorvidos mais rapidamente.

Existem duas hipóteses para explicar o mecanismo pelo qual o consumo de alimentos com alto índice glicêmico pode favorecer o aumento da manifestação de doenças cardiovasculares. A primeira hipótese baseia-se na elevação brusca da glicemia, resultando em períodos de hiperglicemia. Tal hiperglicemia, mesmo em indivíduos não diabéticos, pode causar glicosilação das LDLs, tornando essas lipoproteínas lesivas ao endotélio. Esta lesão pode iniciar um processo inflamatório e progredir para o desenvolvimento de aterosclerose. 

De acordo com Wolever & Mehling, o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares aumenta continuamente com o aumento da glicemia além dos níveis normais.

A segunda hipótese se refere à elevação da insulinemia, como resultado da elevação glicêmica. De modo geral, a resposta insulinêmica se correlaciona à resposta glicêmica. Dessa forma, o índice glicêmico pode também afetar a insulinemia pós-prandial, embora essa relação não seja sempre tão direta. A elevada resposta insulinêmica tem sido relatada como um dos mais importantes fatores que promovem o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, já que a hiperinsulinemia predispõe ao desenvolvimento de dislipidemias, hipertensão arterial e disfunção endotelial.

A hiperinsulinemia ainda se associa ao desenvolvimento do diabetes mellitus, devido à exaustão das células beta pancreáticas, e à obesidade, devido ao aumento do apetite e da ingestão alimentar. Todos esses fatores estão diretamente associados ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, sendo a hiperinsulinemia considerada um fator de risco independente para o desenvolvimento de doenças coronarianas. Dessa forma, a redução da glicemia e da insulinemia pós-prandiais pode ser benéfica na prevenção e no tratamento da resistência insulínica, de modo a evitar o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.


Postado por: Thais C. S. Silva






Referências:

Queiroz, GC et al. Índice glicêmico: uma abordagem crítica acerca de sua utilização na prevenção e no tratamento de fatores de risco cardiovasculares. Rev. Nutr. vol.21 no.5 Campinas Set./Out. 2008

Sampaio, EA et al. Índice glicêmico e carga glicêmica de dietas consumidas por indivíduos obesos. Rev. Nutr. vol.20 no.6 Campinas Nov./Dez. 2007



Nenhum comentário:

Postar um comentário