As doenças cardiovasculares são consideradas um grande
problema de saúde pública, uma vez que são a principal causa de morte no Brasil
e no mundo.
A elevada incidência dessas doenças parece ser um reflexo da
transição nutricional, a qual é caracterizada pela diminuição dos casos de
desnutrição e o aumento dos casos de sobrepeso/obesidade, evidentes em todo o
mundo, e o Brasil tem acompanhado essas tendências. Esta mudança no perfil
nutricional da população é resultante da diminuição da prática de atividade
física de lazer e de mudanças no padrão alimentar da população, caracterizadas
por aumento do consumo de gorduras (principalmente saturadas, de origem
animal), açúcar e alimentos refinados, e pela redução do consumo de
carboidratos complexos e de fibras.
Com relação à nutrição, tem sido observado que além da ingestão
excessiva de energia, os componentes da dieta possuem grande influência no
desenvolvimento ou na prevenção dessas doenças. Neste sentido, os aumentos da
ingestão de ácidos graxos saturados, ácidos graxos trans e colesterol dietético
são associados ao aumento de colesterol total, em especial ao aumento da
lipoproteína de baixa densidade (LDL). Os ácidos graxos trans, ainda, promovem
diminuição da lipoproteína de alta densidade (HDL). Já os ácidos graxos
monoinsaturados e poliinsaturados são considerados benéficos, uma vez que os
primeiros são associados à diminuição de colesterol total e ao aumento da HDL,
enquanto que os últimos são associados à diminuição dos triglicerídeos séricos,
à melhora da função plaquetária e à diminuição da pressão arterial em
hipertensos.
As fibras, principalmente as solúveis,
possuem efeito benéfico, reduzindo o colesterol total, a LDL e melhorando a
tolerância à glicose. Também as substâncias antioxidantes da dieta, como
vitamina E, pigmentos carotenóides, vitamina C, flavonóides e outros compostos
fenólicos, são associadas a tais benefícios, uma vez que estas aumentam a
resistência da LDL à oxidação.
O elevado consumo de carboidratos tem sido
associado ao aumento da obesidade, das dislipidemias, da intolerância à
glicose, do diabetes mellitus e da resistência insulínica, estando
dessa forma entre os fatores de risco para as doenças cardiovasculares.
Em relação ao perfil lipídico, o consumo das dietas com alto teor de
carboidratos pode aumentar as concentrações de triglicerídeos plasmáticos e
reduzir as concentrações de HDL. Vários estudos tentam relacionar o
índice glicêmico ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, ou à melhora
dos parâmetros e fatores de risco para tais doenças. O índice glicêmico é um
indicador da qualidade do carboidrato ingerido, e existem controvérsias quanto
à sua utilização e à sua eficácia na dieta de indivíduos em condições de vida
livre (ou seja, condição sem controle laboratorial).
O conceito de índice glicêmico foi proposto
devido ao reconhecimento que diferentes alimentos contendo a mesma quantidade
de carboidrato possuem diferentes efeitos fisiológicos. Segundo alguns
autores, alimentos com baixo índice glicêmico promovem menor elevação da
glicemia pós-prandial, devido à sua lenta taxa de digestão e absorção. Por
outro lado, os alimentos com alto índice glicêmico proporcionam um maior
aumento da glicemia por serem digeridos e absorvidos mais rapidamente.
Existem duas hipóteses para explicar o mecanismo
pelo qual o consumo de alimentos com alto índice glicêmico pode favorecer o
aumento da manifestação de doenças cardiovasculares. A primeira hipótese
baseia-se na elevação brusca da glicemia, resultando em períodos de
hiperglicemia. Tal hiperglicemia, mesmo em indivíduos não diabéticos,
pode causar glicosilação das LDLs, tornando essas lipoproteínas lesivas ao
endotélio. Esta lesão pode iniciar um processo inflamatório e progredir para o
desenvolvimento de aterosclerose.
De acordo com Wolever & Mehling, o risco de
desenvolvimento de doenças cardiovasculares aumenta continuamente com o aumento
da glicemia além dos níveis normais.
A segunda hipótese se refere à elevação da
insulinemia, como resultado da elevação glicêmica. De modo geral, a resposta
insulinêmica se correlaciona à resposta glicêmica. Dessa forma, o índice
glicêmico pode também afetar a insulinemia pós-prandial, embora essa relação
não seja sempre tão direta. A elevada resposta insulinêmica tem sido
relatada como um dos mais importantes fatores que promovem o desenvolvimento de
doenças cardiovasculares, já que a hiperinsulinemia predispõe ao
desenvolvimento de dislipidemias, hipertensão arterial e disfunção endotelial.
A hiperinsulinemia ainda se associa ao
desenvolvimento do diabetes mellitus, devido à exaustão
das células beta pancreáticas, e à obesidade, devido ao aumento do apetite e da
ingestão alimentar. Todos esses fatores estão diretamente associados ao
desenvolvimento de doenças cardiovasculares, sendo a hiperinsulinemia
considerada um fator de risco independente para o desenvolvimento de doenças
coronarianas. Dessa forma, a redução da glicemia e da insulinemia
pós-prandiais pode ser benéfica na prevenção e no tratamento da resistência
insulínica, de modo a evitar o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
Postado por: Thais C. S. Silva
Referências:
Queiroz, GC et al. Índice
glicêmico: uma abordagem crítica acerca de sua utilização na prevenção e no
tratamento de fatores de risco cardiovasculares. Rev.
Nutr. vol.21 no.5 Campinas Set./Out. 2008
Sampaio, EA et al. Índice
glicêmico e carga glicêmica de dietas consumidas por indivíduos obesos. Rev.
Nutr. vol.20 no.6 Campinas Nov./Dez. 2007
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