A obesidade é uma doença crônica, multifatorial, e atualmente
representa um dos maiores desafios de saúde pública em todo o mundo. À medida
que se consegue erradicar a miséria entre as camadas mais pobres da população
brasileira, a obesidade desponta como um problema mais frequente e mais grave
que a desnutrição.
A importância de se tratar o mais precocemente possível este
problema consiste no fato de que são graves as suas consequências, tais como
inadaptação psicossocial, hipertensão arterial, intolerância à glicose e
alteração dos lipÌdeos plasmáticos, favorecendo a aterogênese e a ocorrência de
doenças cardiovasculares no decorrer da vida. A obesidade também pode predispor
a doenças respiratórias, como apneia do sono, com consequente hipoxemia crônica
e hipertensão pulmonar, problemas ortopédicos e puberdade precoce. Um programa
completo de tratamento da obesidade na adolescência inclui aumento da atividade
física, orientação dietética individual e familiar, modificação comportamental
e suporte emocional.
O tratamento
da obesidade é de suma importância e deve objetivar a melhoria do bem-estar e
da saúde metabólica do indivíduo, reduzindo significativamente os riscos de
morbimortalidade. Para tanto, o indivíduo obeso deve ser avaliado
profundamente, em relação a erros alimentares, práticas de atividade física,
presença de sintomas depressivos e de complicações ou doenças associadas à
obesidade. A implementação de um plano dietoterápico hipoenergético aliado ao
aumento da atividade física e educação nutricional constituem o tratamento
convencional da obesidade. O insucesso dessas medidas, principalmente quanto à
manutenção dos resultados, tem enfatizado a necessidade de recursos
terapêuticos coadjuvantes que favoreçam o balanço energético pretendido. Tais
recursos correspondem principalmente à farmacoterapia e à cirurgia bariátrica.
O tratamento
farmacológico da obesidade poderá ser indicado quando o indivíduo possuir um
Índice de Massa Corpórea (IMC) > 30 kg/m2 ou IMC > 25 kg/m2 associado a
doenças relacionadas ao excesso de peso, em situações nas quais o tratamento
com dieta, exercício ou aumento da atividade física e modificações
comportamentais não obtêm resultados satisfatórios e significantes.
É
imprescindível o conhecimento das propriedades e limitações dos medicamentos
utilizados para esse fim. O tratamento farmacológico para obesidade têm
mostrado resultados desapontadores. Grande parte dos pacientes recupera todo ou
quase todo o peso perdido dentro de 3 a 5 anos após tratamento. Estudos em
longo prazo evidenciam quadros ainda mais desfavoráveis. Pesquisa realizada por
Gosselin eCote na qual mulheres foram acompanhadas por 11 anos após a perda de
peso, mostrou que 49,5% das mesmas haviam recuperado ou até ultrapassado seu
peso anterior ao tratamento. Esta limitação contribuiu para o desenvolvimento
de novas estratégias para a manutenção do peso perdido, como a farmacoterapia. Porém,
a prescrição de medicamentos na perda ou na manutenção de peso deve ser
criteriosa e algumas características são imprescindíveis para que tenha
utilidade no tratamento da obesidade. São elas: demonstrar potencial para
reduzir o peso corpóreo e conduzir a melhorias das co-morbidades.
Os
medicamentos não devem ser utilizados com finalidades estéticas sendo
recomendados como um complemento da dieta, exercício, aconselhamento nutricional
e tratamento comportamental, uma vez que o uso das drogas não garante a
eficácia na perda ou no controle do peso após a cessação da terapia
medicamentosa.
As drogas utilizadas
no tratamento da obesidade podem ser divididas em duas principais categorias:
supressoras de apetite e inibidoras da lipase. Em geral, a monoterapia em pacientes
obesos produz perda de peso subótima, porém o uso de mais de uma droga
concomitantemente ainda não é prática suficientemente testada no meio
científico.
As únicas
drogas aprovadas pelo FDA (Food and Drug Administration) para tratamentos em longo prazo são a sibutramina e o
orlistat.
Sibutramina é
uma droga derivado ²-fenetilamínico, inibidor da recaptação da serotonina e da
norepinefrina, o que induz a diminuição do consumo alimentar e aumenta a termogênese.
Em vários ensaios clínicos, a sibutramina promoveu redução estatisticamente
significante do peso, da concentração de colesterol total, triglicerídios,
LDLcolesterol e hemoglobina glicada de pacientes obesos diabéticos ou não. É
uma droga com boa tolerabilidade, porém, como afeta o sistema nervoso simpático
e o sistema nervoso central, é contra-indicada em algumas situações especiais.
Em 2004,
Ozkan et al. estudaram 58 pacientes obesos, Neste estudo todos os pacientes
foram submetidos à restrição energética e tiveram o IMC, a relação
cintura-quadril, lipídios séricos e pressão sanguínea, avaliados antes e depois
de 12 semanas de tratamento. Ao término do estudo o peso corporal do grupo
sibutramina e placebo diminuíram significativamente, sem que houvesse
diferenças estatisticamente significantes entre os dois grupos. Porém, outros
parâmetros de avaliação de risco cardiovascular, como relação cintura quadril,
colesterol total, LDL-c e TG diminuíram significativamente apenas no grupo
sibutramina.
A sibutramina
é bem absorvida e afeta o sistema nervoso central e o sistema simpático. Dessa
maneira, não deve ser indicada em casos de enfermidade mental, arritmias, arteriopatia
obstrutiva severa, cardiopatia isquêmica, acidente vascular cerebral e hipertensão
arterial descontrolada. Os efeitos adversos mais freqüentes são cefaléia, boca seca,
constipação, insônia e elevação da pressão arterial.
Os efeitos
adrenérgicos ocasionados pelo uso da sibutramina podem elevar a pressão
arterial em pacientes obesos e a etiopatogenia pode estar relacionada a vários fatores
como a estimulação do sistema renina-angiotensinaaldosterona, hipervolemia com
elevação do débito cardíaco e falha na diminuição adequada da resistência
vascular, aumento da ingestão de sódio diretamente relacionado à elevação da
ingestão calórica, resistência insulínica, entre outros.
Os autores
concluíram que a combinação de sibutramina com a modificação do estilo de vida
resultou em maior perda ponderal do que a medicação ou a terapia comportamental
utilizadas isoladamente, demonstrando a importância da prescrição de medicações
para perda de peso como adjuvante no tratamento da obesidade, enfatizando,
dessa forma, o uso combinado com as modificações no estilo de vida, prática de
atividade física, mudanças de atitudes, relacionamentos e hábitos alimentares.
Publicado por Thais C. S. Silva
Fortes, RC et al. Orlistat e sibutramina: bons coadjuvantes para perda e manutenção de
peso?.

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