sábado, 4 de maio de 2013

Sibutramina e perda de peso



A obesidade é uma doença crônica, multifatorial, e atualmente representa um dos maiores desafios de saúde pública em todo o mundo. À medida que se consegue erradicar a miséria entre as camadas mais pobres da população brasileira, a obesidade desponta como um problema mais frequente e mais grave que a desnutrição.

A importância de se tratar o mais precocemente possível este problema consiste no fato de que são graves as suas consequências, tais como inadaptação psicossocial, hipertensão arterial, intolerância à glicose e alteração dos lipÌdeos plasmáticos, favorecendo a aterogênese e a ocorrência de doenças cardiovasculares no decorrer da vida. A obesidade também pode predispor a doenças respiratórias, como apneia do sono, com consequente hipoxemia crônica e hipertensão pulmonar, problemas ortopédicos e puberdade precoce. Um programa completo de tratamento da obesidade na adolescência inclui aumento da atividade física, orientação dietética individual e familiar, modificação comportamental e suporte emocional.

O tratamento da obesidade é de suma importância e deve objetivar a melhoria do bem-estar e da saúde metabólica do indivíduo, reduzindo significativamente os riscos de morbimortalidade. Para tanto, o indivíduo obeso deve ser avaliado profundamente, em relação a erros alimentares, práticas de atividade física, presença de sintomas depressivos e de complicações ou doenças associadas à obesidade. A implementação de um plano dietoterápico hipoenergético aliado ao aumento da atividade física e educação nutricional constituem o tratamento convencional da obesidade. O insucesso dessas medidas, principalmente quanto à manutenção dos resultados, tem enfatizado a necessidade de recursos terapêuticos coadjuvantes que favoreçam o balanço energético pretendido. Tais recursos correspondem principalmente à farmacoterapia e à cirurgia bariátrica.

O tratamento farmacológico da obesidade poderá ser indicado quando o indivíduo possuir um Índice de Massa Corpórea (IMC) > 30 kg/m2 ou IMC > 25 kg/m2 associado a doenças relacionadas ao excesso de peso, em situações nas quais o tratamento com dieta, exercício ou aumento da atividade física e modificações comportamentais não obtêm resultados satisfatórios e significantes.

É imprescindível o conhecimento das propriedades e limitações dos medicamentos utilizados para esse fim. O tratamento farmacológico para obesidade têm mostrado resultados desapontadores. Grande parte dos pacientes recupera todo ou quase todo o peso perdido dentro de 3 a 5 anos após tratamento. Estudos em longo prazo evidenciam quadros ainda mais desfavoráveis. Pesquisa realizada por Gosselin eCote na qual mulheres foram acompanhadas por 11 anos após a perda de peso, mostrou que 49,5% das mesmas haviam recuperado ou até ultrapassado seu peso anterior ao tratamento. Esta limitação contribuiu para o desenvolvimento de novas estratégias para a manutenção do peso perdido, como a farmacoterapia. Porém, a prescrição de medicamentos na perda ou na manutenção de peso deve ser criteriosa e algumas características são imprescindíveis para que tenha utilidade no tratamento da obesidade. São elas: demonstrar potencial para reduzir o peso corpóreo e conduzir a melhorias das co-morbidades.

Os medicamentos não devem ser utilizados com finalidades estéticas sendo recomendados como um complemento da dieta, exercício, aconselhamento nutricional e tratamento comportamental, uma vez que o uso das drogas não garante a eficácia na perda ou no controle do peso após a cessação da terapia medicamentosa.

As drogas utilizadas no tratamento da obesidade podem ser divididas em duas principais categorias: supressoras de apetite e inibidoras da lipase. Em geral, a monoterapia em pacientes obesos produz perda de peso subótima, porém o uso de mais de uma droga concomitantemente ainda não é prática suficientemente testada no meio científico.

As únicas drogas aprovadas pelo FDA (Food and Drug Administration) para tratamentos em longo prazo são a sibutramina e o orlistat.

Sibutramina é uma droga derivado ²-fenetilamínico, inibidor da recaptação da serotonina e da norepinefrina, o que induz a diminuição do consumo alimentar e aumenta a termogênese. Em vários ensaios clínicos, a sibutramina promoveu redução estatisticamente significante do peso, da concentração de colesterol total, triglicerídios, LDLcolesterol e hemoglobina glicada de pacientes obesos diabéticos ou não. É uma droga com boa tolerabilidade, porém, como afeta o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso central, é contra-indicada em algumas situações especiais.

Em 2004, Ozkan et al. estudaram 58 pacientes obesos, Neste estudo todos os pacientes foram submetidos à restrição energética e tiveram o IMC, a relação cintura-quadril, lipídios séricos e pressão sanguínea, avaliados antes e depois de 12 semanas de tratamento. Ao término do estudo o peso corporal do grupo sibutramina e placebo diminuíram significativamente, sem que houvesse diferenças estatisticamente significantes entre os dois grupos. Porém, outros parâmetros de avaliação de risco cardiovascular, como relação cintura quadril, colesterol total, LDL-c e TG diminuíram significativamente apenas no grupo sibutramina.

A sibutramina é bem absorvida e afeta o sistema nervoso central e o sistema simpático. Dessa maneira, não deve ser indicada em casos de enfermidade mental, arritmias, arteriopatia obstrutiva severa, cardiopatia isquêmica, acidente vascular cerebral e hipertensão arterial descontrolada. Os efeitos adversos mais freqüentes são cefaléia, boca seca, constipação, insônia e elevação da pressão arterial.

Os efeitos adrenérgicos ocasionados pelo uso da sibutramina podem elevar a pressão arterial em pacientes obesos e a etiopatogenia pode estar relacionada a vários fatores como a estimulação do sistema renina-angiotensinaaldosterona, hipervolemia com elevação do débito cardíaco e falha na diminuição adequada da resistência vascular, aumento da ingestão de sódio diretamente relacionado à elevação da ingestão calórica, resistência insulínica, entre outros.

Os autores concluíram que a combinação de sibutramina com a modificação do estilo de vida resultou em maior perda ponderal do que a medicação ou a terapia comportamental utilizadas isoladamente, demonstrando a importância da prescrição de medicações para perda de peso como adjuvante no tratamento da obesidade, enfatizando, dessa forma, o uso combinado com as modificações no estilo de vida, prática de atividade física, mudanças de atitudes, relacionamentos e hábitos alimentares.


Publicado por Thais C. S. Silva

Fortes, RC et al. Orlistat e sibutramina: bons coadjuvantes para perda e manutenção de peso?

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