quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Suplementação de BCAAs e Hipertrofia Muscular


Suplementos com fins de aumento de massa muscular estão entre os mais consumidos por frequentadores de academias esportivas. Neste particular, os aminoácidos de cadeia ramificada (conhecidos popularmente como BCAA, da sigla em inglês para: branched-chain amino acids) estão entre os mais vendidos. O interesse da utilização deste tipo de suplemento é devido o fato de os BCAA serem componentes-chave para aumentar a síntese proteica (Shimomura et al., 2004). Mas, se o seu consumo, quando realizado de forma crônica, de fato contribui para o aumento de massa muscular isso ainda é palco de discussão.
Alguns autores acreditam que a suplementação de BCAA pode ser útil em situações de estresse, quando o paciente está em estado altamente catabólico e, neste caso, sua utilização poderia ser útil para evitar a perda de massa muscular. No entanto, não parece ser relevante em indivíduos saudáveis que treinam musculação (Maughan et al., 2007).
Neste contexto, em um estudo publicado por Spillane et al. (2012), foi mostrado que suplementação de 9 gramas de BCAA, durante 8 semanas, consumido 30 min antes e após o treinamento resistido, não promoveu aumento da massa muscular em homens não-treinados.
A falta de evidências para suportar a efetividade da suplementação do BCAA para ganho de massa muscular nos mostra que, embora estes aminoácidos aumentem a maquinaria da síntese proteica, é necessário também o consumo de todos os outros aminoácidos que, de fato, são matéria-prima para construção de músculos em nosso corpo. Por isso, a utilização de proteínas completas, ricas em BCAA, acaba sendo a melhor opção.
Além disso, recentes trabalhos têm apontado que o consumo exacerbado de BCAA pode apresentar efeitos deletérios ao organismo. Outro trabalho, publicado na International Journal of Epidemiology, mostrou que o alto consumo de BCAA estava associado com o aumento de risco para diabetes do tipo II (Zheng et al., 2016).
Mas, afinal, por que o consumo de forma descontrolada pode ser prejudicial? Isso ocorre porque alguns aminoácidos, além da sua função na síntese proteica, apresentam também outras atividades. No caso dos BCAA, eles também têm função como sinalizadores intracelulares e, quando consumidos em excesso, promovem uma série de alterações moleculares que resultam nessas desordens!
Por último, é preciso lembrar que o consumo desequilibrado de BCAA pode até mesmo comprometer vias moleculares de síntese proteica, devido ao antagonismo entre os aminoácidos de cadeia. Dessa forma, a alta concentração plasmática de leucina, por exemplo, pode reduzir a concentração de isoleucina e valina – o que pode comprometer, inclusive, o crescimento. Isso foi mostrado em estudos antigos, em que ratos suplementados só com leucina, na sua forma isolada, tiveram comprometimento no crescimento e este efeito foi revertido pelo fornecimento de isoleucina e valina (Rogero & Tirapegui 2008).
Portanto, no que diz respeito ao aumento de massa muscular, acredita-se que a utilização de BCAA, de forma isolada, parece não ser efetiva – ao menos em sujeitos saudáveis que treinem musculação para hipertrofia. Nesse caso, a recomendação é que o paciente faça o consumo adequado de proteínas completas, que contenham todos os aminoácidos essenciais.
Escrito por: Anna Katina

Referências: Artigo de ABNE

Shimomura Y, Murakami T and Nakai N, et al. (2004) Exercise promotes BCAA catabolism:Effects of BCAA supplementation on skeletal muscle during exercise.Journal of Nutrition134: S1583S–1587.
Maughan, Ronald J., Depiesse, Frederic and Geyer, Hans(2007) ‘The use of dietary supplements by athletes’, Journal of Sports Sciences, 25:1, S103 – S113
Spillane M,Emerson C, Willoughby DS (2012) The effects of 8 weeks of heavy resistance training and branched-chain amino acid supplementation on body composition and muscle performance.Nutr Health.;21(4):263-73..

Rogero M.M., Tirapegui J., 2008. Aspectos atuais sobre aminoácidos de cadeia ramificada e exercício físico. Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences vol. 44, n. 4, out./dez

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