O Papel da Leptina e Grelina no controle da obesidade.
Carla Eduarda Machado ROMERO
Angelina ZANESCO
A etiologia da obesidade não é de fácil identificação, uma vez que a mesma é resultado de uma complexa interação entre fatores comportamentais, culturais, genéticos, fisiológicos e psicológicos. Pode, dessa forma, ser classificada em dois contextos: por determinação genética ou fatores endócrinos e metabólicos, ou então, influenciados por fatores externos. Acredita-se que os fatores externos são mais relevantes na incidência de obesidade do que os fatores genéticos.
A leptina é uma proteína produzida principalmente no tecido adiposo. Seu pico de liberação ocorre durante a noite e às primeiras horas da manhã, e sua meia-vida plasmática é de 30 minutos. É responsável pelo controle da ingestão alimentar, atuando no sistema nervoso central. A ação da leptina promove a redução da ingestão alimentar e o aumento do gasto energético, além de regular a função neuroendócrina e o metabolismo da glicose e de gorduras. Assim, altos níveis de leptina reduzem a ingestão alimentar enquanto que baixos níveis induzem hiperfagia (aumento da fome).
A expressão da leptina é controlada por diversas substâncias, como a insulina, os glicocorticóides e as citocinas pró-inflamatórias. Estados infecciosos e as endotoxinas também podem elevar a concentração plasmática de leptina. Inversamente, a testosterona, a exposição ao frio e as catecolaminas reduzem a síntese de leptina. Situações de estresse impostas ao corpo, como jejum prolongado e exercícios físicos intensos, provocam a diminuição dos níveis circulantes de leptina.
No entanto, indivíduos obesos apresentam elevados níveis plasmáticos de leptina, cerca de cinco vezes mais que aqueles encontrados em sujeitos magros. As mulheres possuem maior concentração plasmática de leptina que os homens. A hiperleptinemia, encontrada em pessoas obesas, é atribuída a alterações no receptor de leptina ou a uma deficiência em seu sistema de transporte, fenômeno denominado resistência à leptina. A produção de leptina em pessoas eutróficas segue um ritmo circadiano e aumenta durante o ciclo menstrual em mulheres.
A leptina, além de seu importante papel no metabolismo, controla o sistema hematopoiético, o sistema imune, o sistema reprodutor e o sistema cardiovascular.
Já o hormônio grelina, (Ghre grow hormone release) é responsável pelo aumento da secreção do hormônio do crescimento (GH). É produzida predominantemente em células do sistema tratogastrointestinal.
Além de sua ação como liberador de GH, a grelina possui outras importantes atividades, como controle do gasto energético, controle da secreção ácida e da motilidade gástrica, influência sobre a função endócrina pancreática e metabolismo da glicose e ainda ações cardiovasculares e efeitos antiproliferativos em células neoplásicas.
A grelina está diretamente envolvida na regulação em curto prazo do balanço energético. Níveis circulantes de grelina encontram-se aumentados durante jejum prolongado e em estados de hipoglicemia, e têm sua concentração diminuída após a refeição ou administração intravenosa de glicose. Estudos recentes envolvendo liberação desse hormônio, em humanos, mostram que são os tipos de nutrientes contidos na refeição, e não o seu volume, os responsáveis pelo aumento ou decréscimo pós-prandial dos níveis plasmáticos de grelina.
Esses achados sugerem que a contribuição da grelina na regulação pós-prandial da alimentação pode diferir dependendo do macronutriente predominante no conteúdo alimentar ingerido. Sua concentração plasmática é diminuída após refeições ricas em carboidratos, concomitantemente à elevação de insulina plasmática. Por outro lado, após refeições ricas em proteína animal e lipídeos foram encontrados altos níveis plasmáticos de grelina, associados ao pequeno aumento da insulina plasmática.
Revista de Nutrição, Campinas, jan./fev., 2006
Marília Cremonezi e Carina Ferreira de Melo
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