sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019


Ferro
Ocorrência
O ferro é o micronutriente que ocorre em maior quantidade no organismo: 0,15% no total de cinzas e 4,5 gramas por 70 quilos de peso corporal. Cerca de 60 a 70% do ferro do organismo encontram-se na hemoglobina, molécula presente nos glóbulos vermelhos, responsável pelo transporte de gases.
O restante acha-se distribuído por vários setores: fígado, baço e medula óssea (ferritina e hemossiderina), músculos (mioglobina), sangue (transferrina) e em todas as células como componente de certas enzimas e materiais cromatínicos. O ferro essencial, ou funcional, encontra-se incorporado à hemoglobina, à mioglobina e a certas enzimas respiratórias que catalisam processos oxirredutores. O ferro de reserva, ou não essencial, encontra-se principalmente na forma de ferritina, transferrina e hemossiderina.
Absorção, armazenamento, transporte e excreção.
A absorção do ferro é, entre outras coisas, regulada por fatores ligados ao seu requerimento fisiológico. O nível de absorção de ferro é o meio pelo qual o organismo controla o equilíbrio deste mineral, já que ele não sofre excreção significativa.
- A região em que ocorre maior absorção é o duodeno superior, onde a acidez ambiental é mais forte.
- Ao passar para dentro da célula da mucosa, parte do ferro se combina com uma proteína específica, a apoferritina, para formar ferritina, molécula que o armazena temporariamente. - Outra parte do ferro é liberada para o plasma, onde é captada pela transferrina, molécula transportadora.
- O ferro passa das células da mucosa para o sangue à medida que a transferrina o requisita, mecanismo que funciona, basicamente, do seguinte modo: a transferrina pode ser considerada como uma molécula ao mesmo tempo armazenadora e transportadora de ferro, em uma etapa intermediária. Quando o organismo necessita de ferro em algum setor, a transferrina o cede para este setor e novamente o capta da mucosa intestinal, mantendo-se, deste modo, saturada.
Na eventualidade de aumentar o requerimento de ferro pelo organismo, a concentração deste mineral na transferrina diminui o que deve logo ser compensado pela liberação de ferro da ferritina no intestino, que por seu turno desencadeia um processo pelo qual a taxa de absorção aumenta.

- Supõe-se que somente 5 a 15% do ferro da dieta é absorvido pelo organismo adulto normal. Não obstante, este nível de absorção pode subir para 50%, no caso de haver carência de ferro.
- Entre os fatores que aumentam a absorção de ferro, gostaríamos de destacar os seguintes:
meio ácido (adequada produção de ácido clorídrico); presença de cálcio no intestino, que auxilia na remoção de antagonistas do ferro, como o fosfato, o fitato e o oxalato; fator intrínseco: este fator aumenta o aproveitamento do ferro do tipo heme; estado fisiológico: durante fases em que a taxa de produção de sangue encontra-se elevada, o organismo aumenta sua capacidade de absorção de ferro; o mesmo ocorre quando a dieta é relativamente pobre em ferro ou há carência orgânica.
- Entre os fatores que diminuem a absorção de ferro, gostaríamos de destacar os seguintes:
meio alcalino: se a produção de ácido clorídrico é deficiente ou há uso frequente de antiácidos, a absorção de ferro é prejudicada; presença de agentes complexantes, como fosfatos, fitatos e oxalatos, que formam com o ferro complexos não-aproveitáveis;
desordens intestinais: a esteatorréia provocada pela Giardia lamblia (protozoário) e por outras causas, como a hipermotilidade intestinal, diminuem a absorção de ferro devido à diminuição de tempo ou superfície de contato útil com a mucosa.
- O ferro na forma ferrosa (Fe ++) parece ser mais prontamente absorvido que o ferro na forma férrica (Fe +++), mais frequentemente presente nos alimentos. O ácido do estômago, bem como o ácido ascórbico, favorecem a redução da forma férrica para a ferrosa, o que melhora a taxa de absorção.
- A quantidade de ferro armazenada no organismo na forma de ferritina e hemossiderina é aproximadamente de um grama, distribuída nas seguintes proporções: 30% no fígado e na medula óssea, e o restante no baço e nos músculos.
- A excreção de ferro é pequena. A maior parte consiste na perda fecal e na perda em virtude da renovação de células dos epitélios. A perda menstrual em mulheres aumenta a defasagem de ferro. As hemorragias podem levar a grande perda de ferro (anemia aguda). Às vezes ocorre hemorragia oculta no estômago ou intestino, o que pode ocasionar anemia.
Funções metabólicas básicas
A principal função do ferro consiste em participar do transporte de gases do pulmão para os tecidos (oxigênio), e dos tecidos para os pulmões (gás carbônico). Esta importante função o ferro realiza ligado à molécula de hemoglobina, que por seu turno acha-se presente nos glóbulos vermelhos (ou hemácias).
- A mioglobina, presente nos músculos, apresenta função semelhante à da hemoglobina.
- A oxirredução do ferro nos citocromos (Fe ++ em Fe +++,e vice-versa) permite a transferência de elétrons através da cadeia respiratória, última fase da produção de energia em todas as células. As enzimas que catalisam este processo são a catalase e a peroxidase.
Há suspeitas de que o ferro atue também na conversão de betacaroteno em vitamina A, na síntese de purinas, no clareamento sangüíneo de gorduras e na desintoxicação de drogas pelo fígado.
- O leite materno contém lactoferrina, proteína ligada ao ferro que evita infecções pela E. coli no intestino do recém-nascido.
Produção de hemoglobina
O ferro participa da composição da hemoglobina, molécula que confere a coloração vermelha às hemácias. A hemoglobina é formada por quatro grupos heme contendo ferro, cada um associado a quatro cadeias polipeptídicas, que constituem a parte proteica, ou globina. A hemoglobina no sangue varia, normalmente, entre 12 e 14 g/100 ml nas mulheres, e entre 14 e 18 gramas no homem.
Durante a vida fetal, os glóbulos vermelhos são produzidos principalmente no fígado e no baço. No adulto, eles são produzidos em maior escala pela medula óssea. À medida que os eritroblastos (precursores dos glóbulos vermelhos) maturam na medula óssea, o heme é sintetizado a partir da glicina e do ferro, e combinado à globina. Nutrientes como a vitamina B6, os aminoácidos, o cobre e a vitamina C são necessários à síntese de hemoglobina. Cerca de 20 mg de ferro são gastos diariamente na produção de hemoglobina, quantidade que é reaproveitada, como veremos em seguida.
O tempo de vida útil de um glóbulo vermelho é de aproximadamente 120 dias, quando ele é removido da circulação pelo sistema retículo-endotelial (principalmente baço, fígado e medula óssea), onde ocorre desintegração da hemácia (hemocaterese). O ferro da hemoglobina é devolvido, sendo liberado da porfirina.
Em seguida, parte dele é captada pela transferrina e devolvida à medula óssea para a fabricação de novas células, e parte é armazenada no fígado e no baço. Cerca de 90% do ferro são conservados e utilizados repetidas vezes. Este mecanismo de reaproveitamento previne estados carenciais, pois seria praticamente impossível suprir dieteticamente as necessidades de ferro no caso de haver perdas representativas durante a hemocaterese. A porfirina sem ferro é degradada a bilirrubina e excretada através da bile. Se houver deficiência de ácido ascórbico, vitamina B1, vitamina E, ácido fólico, ocorrerá maior degradação de glóbulos vermelhos.
Sinais e sintomas de carência

A deficiência de ferro é muito comum, e pode manifestar-se através de anemia ferropriva, do tipo microcítico. A ingestão dietética inadequada em ferro é uma das causas mais freqüentes, mas pode haver outros fatores desencadeantes ou agravantes, como hemorragias e deficiência de proteína e vitaminas C, B6, B12 e folato.
 O exame laboratorial de sangue revela diminuição da hemoglobina e do hematócrito. Os sinais e sintomas clínicos mais comuns são palidez das mucosas, indisposição, fraqueza, etc. Anemias graves podem resultar em disfunção cardíaca.
Necessidades nutricionais
O National Research Council recomenda, para adultos normais, a ingestão de  18 mg/dia para mulheres, e 10 mg/dia para homens, considerando que cerca de 10% do ferro ingerido será absorvido. As recomendações para mulheres são bem mais elevadas devido à perda menstrual. Após a menopausa, quando cessam as perdas menstruais, esta diferença diminui até desaparecer.
Crianças devem ingerir quotas mais elevadas de ferro, tendo em vista que há crescimento e concomitante aumento de volume sanguíneo. De 5 meses a três anos, recomendam-se 15 mg/dia de ferro; entre 4 e 10 anos, 10 mg/dia; para homens adolescentes entre 11 e 18 anos, 18 mg/dia; para mulheres dos 18 anos até a menopausa, 18 mg/dia.
Gestantes, segundo as RDA, devem ingerir um adicional de 18 mg/dia de ferro (cerca de 36 mg/dia). Embora alguns autores afirmem que não é possível atender a recomendações tão altas sem o uso de medicamentos suplementares, temos observado inúmeras vezes que uma dieta adequadamente balanceada é perfeitamente capaz de suprir esta necessidade e garantir um desenvolvimento saudável da gravidez. Em determinadas situações de carência ou mal aproveitamento de ferro, contudo, a suplementação medicamentosa pode mostrar-se necessária.
- Lactentes devem ingerir 18 mg/dia de ferro.
Fontes alimentares
Embora o ferro presente em alimentos animais, como fígado, vísceras, carne e peixes, apresente maior taxa de absorção (ferro-heme), é perfeitamente possível suprir as necessidades deste nutriente com uma dieta lacto-ovo-vegetariano-naturista, que oferece os seguintes alimentos-fontes: gema de ovo, cereais integrais, leguminosas, como feijão, lentilha etc., especialmente feijão azuki, sementes em geral, como gergelim e derivados, semente de jaca, semente de abóbora, semente de pimentão etc., castanhas e nozes, farinha de soja, melado de cana, rapadura, certos condimentos, como orégano e cominho, frutas secas, vegetais verde¬-escuros e outros alimentos e preparações. Combinando-se estes alimentos com outros ricos em vitamina C, o aproveitamento de ferro é aumentado.
Riscos do excesso de ferro
O excesso de ferro favorece processos oxidativos. Através da reação de Fenton, gera radicais livres, favorecendo o desenvolvimento de câncer, desordens cardiovasculares, distúrbios hepáticos e estresse oxidativo. Por isso, é preciso monitorar e limitar o tratamento feito à base de suplementos férricos contra a anemia.

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