segunda-feira, 18 de março de 2019


Vitamina B1 (tiamina)
Beribéri: doença ligada à descoberta do complexo B
O beribéri é uma doença conhecida desde o Antigo Oriente. Relatos da história médica chinesa, filipina e japonesa mencionam certos procedimentos terapêuticos aplicados contra esta disfunção carencial. Só na Idade Contemporânea, entretanto, foi descoberta a relação entre determinado déficit alimentar e o beribéri, acontecimento que marca a descoberta das vitaminas e o progresso da ciência da nutrição.
Em 1880, Takaki, oficial da marinha japonesa, estabeleceu uma relação muito clara entre a alimentação dos marinheiros e a incidência de beribéri entre eles, que se tornara catastrófica com a adoção de alimentos refinados. Em 1897, em Java, Eijkman, físico alemão, fez uma observação interessante: numa penitenciária local, os frangos alimentados com restos de arroz polido das refeições dos prisioneiros desenvolviam disfunções similares às do beribéri.
Acrescentando farelo de arroz à ração das aves, Eijkman notou que em pouco tempo a doença era completamente curada. Esta importante descoberta, no entanto, não despertou o interesse da classe médica da época, permanecendo vários anos sem qualquer reconhecimento. Em 1911, Funk retomou os trabalhos originais e descobriu no córtex do arroz, perdido durante o polimento, uma substância vital que atuava contra o beribéri, identificada como vitamina B. Mais tarde distinguiram-se vários componentes do complexo B, entre os quais um fator antiberibéri: a vitamina B1, ou tiamina.
Vitamina B1 ou tiamina
Em 1926, Yansen e Donath obtiveram a tiamina na forma cristali¬zada; em 1926, foi sintetizada por R. Willians, tendo sido definida sua fórmula química. O prefixo tia em tiamina designa a presença de enxofre em um grupo amino da molécula.
O organismo não é capaz de armazenar bastante tiamina, devendo a dieta fornecê-la prontamente.
Funções metabólicas básicas
A tiamina encontra-se intimamente associada ao metabolismo energético. Combinada ao fósforo, forma a coenzima tiamina pirofosfato (TPP), que funciona como auxiliar de uma carboxilase. A descarboxilação oxidativa do ácido pirúvico requer o TPP para formar o acido acético e a acetilcoenzima A, principal componente do ciclo de Krebs. A síntese de pentoses, como a ribose, presente nos ácidos nucléicos, necessita também de TPP como coenzima da transcetolase.
Sintomas de carência
- O beribéri é resultado da deficiência severa de tiamina. Ocorrem vários distúrbios no sistema nervoso, como a degeneração da bainha de mielina das fibras nervosas, instalando-se a polineurite, com diminuição da resposta reflexa. Se não houver administração da vitamina em tempo hábil, o doente pode desenvolver paralisia e séria atrofia muscular, chegando à morte.
- Todo o sistema cardiovascular pode ser atingido pela deficiência de tiamina, a ponto de ocorrer falência do coração em resultado de progressiva debilitação do músculo cardíaco. Além disso, surge edema nas extremidades e vasodilatação periférica.
- Sintomas gastrintestinais, como má digestão, constipação, atonia gástrica, hipocloridria e diminuição do apetite.
Hipervitaminose
Não foram registrados efeitos tóxicos da tiamina quando ingerida através dos alimentos. Quando administrada por via parenteral (inje¬ção), entretanto, na forma de cloridrato de tiamina, pode produzir reações tóxicas quando em dose elevada, como o choque anafilático e a morte súbita.
Necessidades nutricionais
Como vimos, a necessidade de tiamina está intimamente ligada ao gasto energético do indivíduo, particularmente ao metabolismo dos carboidratos.
- Para adultos normais, a FAO/OMS recomenda 0,4 miligrama de tiamina para cada 1.000 kcal requeridas; as RDA indicam 0,5 mg/1.000 kcal.
- Na gravidez, recomendam-se 0,5 mg/1.000 kcal no primeiro trimestre, e 0,6 mg/1.000 kcal no último trimestre. Recomenda-se, simplificadamente, um aumento de 0,3 miligrama acima dos valores normais para gestantes e nutrizes.
- Os valores indicados para crianças são iguais aos dos adultos, isto é, as proporções de tiamina por calorias ingeridas.
- Os idosos devem ingerir 1 miligrama de tiamina por dia, mesmo que a ingestão calórica seja inferior a 2.000 kcal, dada a utilização menos eficiente desta vitamina.
Antivitamina B1
A tiaminase, enzima presente em alimentos como crustáceos e peixes, é capaz de destruir cerca de 50% da tiamina. A couve crua também contém esta antivitamina.
Boas fontes alimentares
Da linha lacto-ovo-vegetariano-naturista de dieta, os cereais integrais, as leguminosas, a levedura de cerveja, o germe de trigo e a gema de ovo são exemplos de boas fontes alimentares de vitamina B1. Quase todos os alimentos naturais fornecem-na em maior ou menor teor. Os laticínios não são boa fonte de tiamina.
O anticoncepcional oral prejudica o aproveitamento orgânico da vitamina B1.

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