quarta-feira, 22 de junho de 2011

A sinalização dos alimentos


A sociedade contemporânea converge para um padrão dietético composto por altos teores de sal, gorduras totais, colesterol, carboidratos refinados e baixos teores de ácidos graxos insaturados e fibras. Tais mudanças alimentares, aliadas à rotina de trabalho sedentário, à falta de tempo para refeições levando ao aumento do consumo de produtos industrializados, resultam no crescimento da obesidade e no aparecimento cada vez mais precoce de Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNT), realidade que destaca o papel primordial da alimentação equilibrada na promoção de bons níveis de saúde e bem estar.
Neste contexto, grande parte dos estudos e pesquisas que envolvem a área de nutrição e suas relações com estratégias para redução dos riscos de doenças, destaca a importância do adequado conhecimento da rotulagem nutricional dos alimentos para a promoção da alimentação saudável. Considera-se que este pode funcionar como um instrumento na educação do consumidor a respeito das relações entre nutrição e saúde, visando capacitá-lo a fazer escolhas alimentares mais saudáveis.
O uso da informação nutricional obrigatória nos rótulos de alimentos e bebidas produzidos, comercializados e embalados na ausência do cliente e prontos para serem oferecidos ao consumidor, está regulamentada no Brasil desde 2001.
Desta forma, os rótulos devem declarar o valor energético, carboidratos, proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas, gorduras trans, fibra alimentar e sódio, e opcionalmente, podem conter teores de vitaminas e minerais quando estiverem presentes em quantidade igual ou maior a 5% da Ingestão Diária Recomendada (IDR) por porção indicada no rótulo.  Estas informações referem-se ao produto na forma como está exposto à venda e devem ser apresentados em porções (gramas ou mililitros), e medidas caseiras correspondentes, devendo ainda conter o percentual de valores diários para cada nutriente declarado, que expressa o quanto uma porção daquele alimento representa do total da IDR, com base em uma dieta de 2.000kcal/dia.
De acordo com o Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco e Morbidade Referida de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis realizado em 14 capitais e Distrito Federal no Brasil, apenas 44% da população consulta o rótulo nutricional, sendo este grupo predominantemente constituído pelo sexo feminino, com idades entre 15 e 24 anos e ensino fundamental completo ou superior8.
A não-utilização da rotulagem nutricional e a interpretação incorreta da mesma estão associadas a diversos fatores, destacando-se a falta de tempo, insuficiência de conhecimentos sobre nutrição e habilidades matemáticas dos consumidores, que têm limitações para utilizar as informações expostas, constituindo-se assim em uma barreira para melhores escolhas alimentares9.
Esta ferramenta, que já se expandiu para outros países da Europa, é o Traffic Light Labelling, ou "Semáforo Nutricional", que fornece subsídios para que se acrescentem nos rótulos informações diretas e práticas sobre a composição nutricional do alimento, tornando a compreensão dos rótulos mais acessível a leigos e crianças, direcionando-os para dietas mais equilibradas.
O "Semáforo Nutricional", proposto pela Food Standards Agency (FSA), baseia-se nas cores do semáforo, analisando separadamente a concentração de gorduras, gorduras saturadas, açúcares e sal correspondente a 100g ou 100mL de cada produto. Desta forma, o "sinal" vermelho indica que o nutriente está presente em quantidade excessiva, o "sinal" amarelo indica média quantidade e o verde pouca quantidade assim o consumidor é orientado, caso consuma um alimento com sinal vermelho para um nutriente específico, a consumir outro com sinal verde para o mesmo nutriente.
Por determinação da classificação dos nutrientes em verde, amarelo e vermelho, fundamentaram-se em normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e para aqueles sem normatização, foram mantidas as classificações da FSA.
Em relação à gordura total, gordura saturada e açúcar foram classificados com a cor verde alimentos com valores inferiores aos limites estabelecidos pela ANVISA para classificação como de "baixa quantidade" desses nutrientes.
O sódio recebeu a cor verde nos limites de "muito baixa quantidade", e a cor amarela para "baixa quantidade". Sabe-se que o excesso deste mineral, está associado ao aumento das prevalências de hipertensão arterial, infarto agudo do miocárdio, insuficiência renal e acidente vascular cerebral22.

Quanto à gordura trans, não havendo recomendações dos níveis seguros de ingestão, considerou-se como verde a sua inexistência na porção do alimento considerado. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece que sua ingestão diária máxima não exceda 1% do valor calórico da dieta, o que equivale a 2,2g em uma dieta de 2000kcal/dia. Desta forma, considerou-se, por medida de segurança, que o alimento contendo 50% do limite diário máximo permitido, receberia a cor amarela (< 1g) e aquele que exceder esta quantidade, receberia a vermelha (>1g).
A quantidade de fibras alimentares foi classificada segundo os limites estabelecidos pela ANVISA com "alto teor" recebendo a luz verde, alimento "fonte" recebendo amarela e abaixo desses limites a vermelha. Inclusive porque a ingestão adequada de fibras desperta preocupação dos profissionais de saúde, em decorrência de suas propriedades protetoras, como redução da absorção do colesterol, da glicemia, regulação do funcionamento intestinal, prevenindo constipação e câncer de cólon a baixa ingestão de frutas, hortaliças, leguminosas e cereais integrais, fontes deste nutriente.
Essa necessidade se dá pelo fato de que a sociedade contemporânea, em decorrência da falta de tempo para o preparo de suas refeições, é tentada para a aquisição de alimentos prontos para o consumo disponibilizados pelas indústrias. O principal problema é que a população os adquire sob influência da propaganda e desconhecendo os riscos para a saúde e nutrição associados ao consumo continuado desses alimentos.
Assim, a alimentação inadequada constitui-se em fator de risco modificável para o incremento do excesso de peso e DCNT. As consequências dos excessos alimentares são facilmente identificadas ao se observar a prevalência de sobrepeso na população, que atinge 34,2% das mulheres em idade fértil no Brasil. A cada ano, no mundo, pelo menos 2,6 milhões de pessoas morrem como consequência de estarem acima do peso ou serem obesas; 4,4 milhões morrem em decorrência de níveis totais de colesterol elevados e 7,1 milhões por causa de pressão sanguínea elevada, sendo que somente no Brasil as DCNT são causas de 32,2% das mortes.
O Semáforo Nutricional, embora não solucione o problema de nutrição e obesidade da população, promove escolhas alimentares mais saudáveis, justamente nesta perspectiva, em que a extensão desta metodologia para países em desenvolvimento, com níveis socioeconômicos e de escolaridades menores, torna-se de grande relevância.
Desta forma, procura-se contribuir para o consumo continuado de dietas quantitativa e qualitativamente adequadas, efetivo para prevenção da obesidade e DCNT associadas.
Por fim, sugere-se que sejam realizados estudos, que objetivem avaliar o gr
Postado por: Sueli Merz

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