Embora
seja um metal muito abundante na natureza (5% da crosta terrestre), o Fe é um
micronutriente que é encontrado em quantidades muito pequenas no organismo
humano. O conteúdo total de Fe em um adulto saudável representa tão somente 3 a
5 gramas da sua massa corporal total. Apesar dessa quantidade mínima, está
amplamente distribuído pelo organismo, auxiliando a formar vários compostos que
podem ser divididos em dois grandes grupos: a) compostos de Fe essenciais ou
funcionais e b) Fe de armazenamento e proteínas de transporte.
A relação entre o ferro nos atletas e o seu desempenho físico é um
tema que desperta interesse tanto do ponto de vista médico como desportivo.
Levando-se em conta que o Fe desempenha um papel fundamental no transporte de
oxigênio e na produção de energia, parece necessária a manutenção de um
equilíbrio nos atletas, já que os estados carenciais de Fe podem comprometer de
forma importante os resultados desportivos. Por outro lado, o estudo dos
efeitos do exercício físico sobre o equilíbrio de Fe no atleta tem sido o
objetivo de diversos trabalhos.
As perdas e déficits de Fe nos atletas podem ser conseqüência de
diversos fatores, sendo que na maioria das vezes há a sobreposição de várias
dessas causas. Estas podem ser classificadas em dois grupos: 1) as devidas a
fatores nutricionais e 2) as ocasionadas por aumentos das necessidades e/ou das
perdas de Fe.
1) Entre os fatores
nutricionais se destacam:
1.a) Ingestão
insuficiente de Fe. Este é um fator bastante comum na população em geral.
No caso do atleta e especialmente na mulher que pratica esportes nos quais a
estética seja critério de pontuação, chega-se em algumas ocasiões a uma
importante restrição da ingestão calórica e consequentemente de Fe.
1.b) Absorção
intestinal reduzida pela própria composição da dieta. Conforme foi
comentado anteriormente, de acordo com a composição da dieta, a absorção de Fe
pode ser facilitada ou inibida. Em outras ocasiões, como ocorre nos atletas que
fazem dietas vegetarianas, embora seja atingida a ingestão mínima recomendada
de Fe, sem dúvida quase todo o Fe ingerido é do tipo não hemo, com a consequente
dificuldade para a sua absorção intestinal, o que se traduz em níveis séricos
de ferritina inferiores aos de outros atletas que têm uma dieta normal.
2) Entre as causas devidas ao aumento
das necessidades e/ou perdas, podemos mencionar:
2.a) Aumento
da mioglobina e dos sistemas enzimáticos devido ao treinamento muscular. O
treinamento regular produz modificações no organismo, com aumentos da massa
muscular e maiores necessidades de compostos de Fe, sendo alterado o equilíbrio
desse micronutriente.
2.b) Hemólise
aumentada por redução da meia-vida das hemácias. Os contínuos traumatismos
mecânicos sobre as hemácias, principalmente nos esportes com golpes freqüentes
palmares ou plantares (caratecas ou corridas sobre superfícies duras) provocam
um enfraquecimento progressivo da membrana da hemácia que dá lugar a uma
microhemólise acelerada.
2.c) Perdas
urinárias de Fe. Ocorre na forma de hematúria, hemoglobinúria ou
mioglobinúria, sendo mais freqüente nos corredores. Dessa forma, Halvorsen et al. descrevem este achado em 13% dos seus
maratonistas e Siegel et al. em 18%, enquanto que Seiler et al. o observam em 25% dos seus corredores
de longa distância. Outros autores, como Weight et al, relatam achados
semelhantes nos marchadores, denominando-os hemoglobinúria da marcha
atlética. Por último, foram descritos também alterações mecânicas da parede
uretral com lesões micro e macroscópicas.
2.d) Perdas
gastrointestinais de sangue. São descritas muito frequentemente em
corredores de longa distância. A presença de hemoglobina fecal é um achado
muito frequente e a sua causa mais comum é creditada à redução da perfusão
esplâncnica, que durante o exercício físico chega a 80%, com a consequente
hipóxia e isquemia intestinal que produzirá lesões ulcerativas. Também foram
descritas como possíveis causas os microtraumas da parede intestinal e de
estresse do próprio exercício que pode ocasionar gastrite erosiva e inclusive podem ser devidas ao uso
de analgésicos e antiinflamatórios.
2.e) Perdas
pelo suor. Em ambientes quentes muito úmidos, a sudorese é profusa, com o
consequente aumento das perdas de Fe. Assim, Velar relata que em condições de intensa
sudorese pode-se chegar a perder até 40mg de Fe por decilitro de suor; dessa
forma, com uma perda de dois a três litros de suor, são eliminadas 0,8 a 1,2mg
de Fe.
2.f) Eritropoiese
ineficaz. Durante o exercício físico a necessidade de oxigênio por parte
dos tecidos pode atuar como um estímulo da eritropoiese. Sem dúvida, o
treinamento contínuo produz aumentos do 2,3-difosfoglicerato
intra-eritrocitário e esses aumentos deslocam a curva de dissociação da
hemoglobina para a direita, cedendo assim o oxigênio mais facilmente aos
tecidos, entre eles os rins, nos quais ao nível da mácula densa está reduzida a
síntese de eritropoietina, reduzindo-se conseqüentemente o estímulo sobre a
medula óssea, desacelerando-se a eritropoiese.
2.g) Menstruação:
Todas as perdas de Fe no atleta são maiores nas mulheres, devido às perdas
menstruais adicionais, conforme anteriormente comentado, constituindo sem
dúvida uma das causas desencadeantes mais importantes dos estados ferropênicos
nas mulheres atletas.
Postado por: Thais C. S. Silva
Referência:
Mateo, R.J. et al. Anemia do atleta (I): fisiopatologia do ferro. Rev
Bras Med Esporte vol.6 no.3 Niterói June 2000.
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