segunda-feira, 17 de junho de 2013

Anemia em Atletas


Embora seja um metal muito abundante na natureza (5% da crosta terrestre), o Fe é um micronutriente que é encontrado em quantidades muito pequenas no organismo humano. O conteúdo total de Fe em um adulto saudável representa tão somente 3 a 5 gramas da sua massa corporal total. Apesar dessa quantidade mínima, está amplamente distribuído pelo organismo, auxiliando a formar vários compostos que podem ser divididos em dois grandes grupos: a) compostos de Fe essenciais ou funcionais e b) Fe de armazenamento e proteínas de transporte.
A relação entre o ferro nos atletas e o seu desempenho físico é um tema que desperta interesse tanto do ponto de vista médico como desportivo. Levando-se em conta que o Fe desempenha um papel fundamental no transporte de oxigênio e na produção de energia, parece necessária a manutenção de um equilíbrio nos atletas, já que os estados carenciais de Fe podem comprometer de forma importante os resultados desportivos. Por outro lado, o estudo dos efeitos do exercício físico sobre o equilíbrio de Fe no atleta tem sido o objetivo de diversos trabalhos.
As perdas e déficits de Fe nos atletas podem ser conseqüência de diversos fatores, sendo que na maioria das vezes há a sobreposição de várias dessas causas. Estas podem ser classificadas em dois grupos: 1) as devidas a fatores nutricionais e 2) as ocasionadas por aumentos das necessidades e/ou das perdas de Fe.
1) Entre os fatores nutricionais se destacam:
1.a) Ingestão insuficiente de Fe. Este é um fator bastante comum na população em geral. No caso do atleta e especialmente na mulher que pratica esportes nos quais a estética seja critério de pontuação, chega-se em algumas ocasiões a uma importante restrição da ingestão calórica e consequentemente de Fe.
1.b) Absorção intestinal reduzida pela própria composição da dieta. Conforme foi comentado anteriormente, de acordo com a composição da dieta, a absorção de Fe pode ser facilitada ou inibida. Em outras ocasiões, como ocorre nos atletas que fazem dietas vegetarianas, embora seja atingida a ingestão mínima recomendada de Fe, sem dúvida quase todo o Fe ingerido é do tipo não hemo, com a consequente dificuldade para a sua absorção intestinal, o que se traduz em níveis séricos de ferritina inferiores aos de outros atletas que têm uma dieta normal.
2) Entre as causas devidas ao aumento das necessidades e/ou perdas, podemos mencionar:
2.a) Aumento da mioglobina e dos sistemas enzimáticos devido ao treinamento muscular. O treinamento regular produz modificações no organismo, com aumentos da massa muscular e maiores necessidades de compostos de Fe, sendo alterado o equilíbrio desse micronutriente.
2.b) Hemólise aumentada por redução da meia-vida das hemácias. Os contínuos traumatismos mecânicos sobre as hemácias, principalmente nos esportes com golpes freqüentes palmares ou plantares (caratecas ou corridas sobre superfícies duras) provocam um enfraquecimento progressivo da membrana da hemácia que dá lugar a uma microhemólise acelerada.
2.c) Perdas urinárias de Fe. Ocorre na forma de hematúria, hemoglobinúria ou mioglobinúria, sendo mais freqüente nos corredores. Dessa forma, Halvorsen et al. descrevem este achado em 13% dos seus maratonistas e Siegel et al. em 18%, enquanto que Seiler et al. o observam em 25% dos seus corredores de longa distância. Outros autores, como Weight et al, relatam achados semelhantes nos marchadores, denominando-os hemoglobinúria da marcha atlética. Por último, foram descritos também alterações mecânicas da parede uretral com lesões micro e macroscópicas.
2.d) Perdas gastrointestinais de sangue. São descritas muito frequentemente em corredores de longa distância. A presença de hemoglobina fecal é um achado muito frequente e a sua causa mais comum é creditada à redução da perfusão esplâncnica, que durante o exercício físico chega a 80%, com a consequente hipóxia e isquemia intestinal que produzirá lesões ulcerativas. Também foram descritas como possíveis causas os microtraumas da parede intestinal e de estresse do próprio exercício que pode ocasionar gastrite erosiva e inclusive podem ser devidas ao uso de analgésicos e antiinflamatórios.
2.e) Perdas pelo suor. Em ambientes quentes muito úmidos, a sudorese é profusa, com o consequente aumento das perdas de Fe. Assim, Velar relata que em condições de intensa sudorese pode-se chegar a perder até 40mg de Fe por decilitro de suor; dessa forma, com uma perda de dois a três litros de suor, são eliminadas 0,8 a 1,2mg de Fe.
2.f) Eritropoiese ineficaz. Durante o exercício físico a necessidade de oxigênio por parte dos tecidos pode atuar como um estímulo da eritropoiese. Sem dúvida, o treinamento contínuo produz aumentos do 2,3-difosfoglicerato intra-eritrocitário e esses aumentos deslocam a curva de dissociação da hemoglobina para a direita, cedendo assim o oxigênio mais facilmente aos tecidos, entre eles os rins, nos quais ao nível da mácula densa está reduzida a síntese de eritropoietina, reduzindo-se conseqüentemente o estímulo sobre a medula óssea, desacelerando-se a eritropoiese.
2.g) Menstruação: Todas as perdas de Fe no atleta são maiores nas mulheres, devido às perdas menstruais adicionais, conforme anteriormente comentado, constituindo sem dúvida uma das causas desencadeantes mais importantes dos estados ferropênicos nas mulheres atletas.


Postado por: Thais C. S. Silva

Referência:
Mateo, R.J. et al. Anemia do atleta (I): fisiopatologia do ferro.  Rev Bras Med Esporte vol.6 no.3 Niterói June 2000.


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