Miopatias são doenças estruturais e/ou
funcionais dos músculos, resultantes de uma variedade de etiologias. Manifestam-se
fundamentalmente por fraqueza, devendo ser diferenciadas das doenças do
neurônio motor, das neuropatias periféricas e das doenças da junção
neuromuscular.
A
miopatia do exercício (MEx) é uma entidade anatomopatológica induzida pela
realização de exercícios físicos extenuantes ou inabituais, limitada a algumas
áreas do tecido muscular estriado esquelético. É identificada, no homem e pela elevação das enzimas
lisossómicas musculares, pela elevação plasmática de várias proteínas
musculares, pelas alterações estruturais e ultra-estruturais musculares e pela
diminuição da força máxima voluntária e involuntária não atribuível à fadiga.
A
MEx não é uma doença muscular generalizada, restringindo-se apenas a um pequeno
grupo de músculos, dependente do exercício realizado. A intensidade das lesões,
bem como a percentagem de fibras atingidas pelas anomalias histológicas, estão
dependentes de numerosos fatores, tendo principal destaque: a intensidade e a
duração do exercício efetuado, o músculo observado, o tipo de fibra muscular
analisada, o nível de treino do indivíduo, o tipo de contração
predominantemente realizado.
As distrofias musculares são doenças
hereditárias com características histológicas particulares, incluindo fibrose
extensa, degeneração e regeneração de fibras e proliferação de tecido adiposo e
gorduroso. Os principais representantes são a distrofia muscular de Duchenne
(DMD) (recessiva ligada a X, com ausência ou diminuição importante da expressão
de distrofina), a distrofia muscular de Becker (DMB) (forma mais branda da
DMD), a distrofia miotônica de Steinert (herança autossômica dominante com
expansão de trinucleotídeos, ou seja, instabilidade do DNA), a distrofia
fáscio-escápulo-umeral (herança autossômica dominante), a distrofia cintura-membros
(autossômica dominante ou recessiva, com ausência de coloração à biópsia para
sarcoglicanas, calpaína, disferlina ou caveolina), a distrofia muscular de
Emery-Dreifuss (recessiva ligada a X) e a distrofia
muscular óculo-faríngea (autossômica dominante, com expansão curta de GCG).
As
distrofinopatias (Duchenne e Becker) são miopatias progressivas, recessivas
ligadas ao X. A DMD é a forma mais comum de distrofia muscular. Ocorre em
1:3.300 nascidos do sexo masculino e tem prevalência de 3 em 100.000
habitantes. A DMB ocorre em 1:18.000
a 1:31.000
nascidos dos sexo masculino. Há ainda uma terceira forma, com manifestações
leves de DMD ou graves de DMB. Todas são resultantes de mutações no gene da
distrofina, proteína componente do citoesqueleto da membrana da célula
muscular. A diferenciação entre as formas se dá pela idade com que se confina a
cadeira de rodas: 13 anos para DMD, 16 anos para DMB, e 13
a 16 anos
para os com fenótipos intermediários.
Distrofia
Muscular de Duchenne (DMD)
A DMD começa a se manifestar
por volta de 2 a 3 anos de idade, com quase todos os pacientes sintomáticos por
volta dos 5 anos. A criança começa inicialmente com quadro de dificuldade para
correr, pular e subir escadas. Nota-se marcha característica, anserina, com
lordose lombar e hipertrofia das panturrilhas. A fraqueza muscular é simétrica
e afeta inicialmente os músculos proximais e dos membros inferiores.
A
corrida e os saltos vão ficando cada vez mais difíceis e os meninos começam a
usar as mãos para se levantarem do chão (sinal de Gowers). Há acometimento
cardíaco e cognitivo (memória de trabalho e disfunção executiva). Ao exame,
observa-se hipertrofia das panturrilhas, lordose lombar acentuada, marcha em
gingado, encurtamento do tendão de Aquiles e hipo ou arreflexia. Entre os 3
a 6 anos,
ocorre melhora (fase de lua-de-mel), evoluindo após com piora, até a
necessidade de cadeira de rodas, por volta dos 13 anos. Posteriormente,
desenvolvem-se contratura e escoliose, evoluindo para deterioração pulmonar. Os
níveis de CK aumentam até 100 vezes o normal nos primeiros 3 anos, podendo
cair, mas não ficando abaixo de 10 vezes o limite superior da normalidade.
A
eletroneuromiografia mostra padrão miopático e a biópsia muscular mostra
alterações distróficas. O diagnóstico genético é feito pela pesquisa da mutação
no gene da distrofina ou pela diminuição ou ausência de distrofina no fragmento
de tecido muscular. Noventa por cento dos pacientes desenvolvem alterações
eletrocardiográficas por miocardiopatia, desde sinais de sobrecarga ventricular
até de condução atrial. Essas anormalidades estão presentes em um terço dos
pacientes aos 14 anos e em todos aos 18 anos.
A
maioria dos doentes permanece assintomática do ponto de vista cardíaco até
próximo à fase final da doença, provavelmente devido ao baixo grau de atividade
física. Na etapa terminal, evoluem com insuficiência cardíaca congestiva e
arritmias. Complicações gastrintestinais podem surgir, sobretudo devido a
distúrbios de motilidade. A maioria dos pacientes morre aos 3,9 +/- 20 anos, de
insuficiência respiratória ou cardíaca. A ventilação mecânica assistida pode
prolongar a vida do paciente.
Distrofia
Muscular de Becker (DMB)
A idade de início dos sintomas
na DMB é entre 5 e 15 anos (média aos 12). O acometimento é mais brando, o
comprometimento cardíaco e cognitivo está ausente ou é bem mais leve do que na
DMD e não há manifestações gastrintestinais. Os pacientes perdem a capacidade
de deambulação a cerca dos 16 anos e vivem além dos 30 anos, com óbito de
insuficiência ventilatória/cor pulmonale aos 30-60 anos. O primeiro sintoma
costuma ser fraqueza nos membros inferiores, e dor na panturrilha é o sintoma
inicial em 25%. Os níveis de CK não ultrapassam cinco vezes o limite superior
da normalidade.
Postado
por: Thais C. S. Silva
Referências:
DUARTE,
J.A. et al. Miopatia do Exercício. Anatomopatologia e Fisiopatologia. Revista
Portuguesa de Ciências do Desporto, 2001, vol. 1, nº 2.
Revista
eletrônica MedicinaNet. Disponível em: http://www.medicinanet.com.br/
conteudos/revisoes/2239/miopatias_hereditarias.htm. Acesso em 15/06/13.
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