É um fenômeno bastante estudado e geralmente enquadrado no que chamamos de “coração do atleta”, uma adaptação fisiológica ao treinamento intenso e de longa duração.
Como acontece
O triatlo envolve endurance (resistência aeróbica) e também treinos de força e intensidade. Isso leva a dois tipos principais de estímulos no coração:
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Sobrecarga de volume (resistência/aeróbico)
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Ocorre pelo grande retorno venoso durante atividades prolongadas.
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Isso promove hipertrofia excêntrica → aumento do diâmetro das cavidades, principalmente o ventrículo esquerdo, com espessura da parede proporcional.
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Sobrecarga de pressão (força/intensidade, tiros, ciclismo em subida, etc.)
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Aumenta a pressão sistólica durante o esforço.
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Isso gera hipertrofia concêntrica → aumento da espessura da parede ventricular.
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No triatleta, normalmente há uma combinação dessas adaptações: ventrículos mais dilatados e paredes mais espessas, mas dentro de limites fisiológicos.
Características do “coração do atleta” (fisiológico)
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Espessura da parede do VE: geralmente até 12–13 mm em homens e 11 mm em mulheres.
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Aumento do diâmetro das câmaras, especialmente do VE e do átrio esquerdo.
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Função diastólica preservada ou até melhorada.
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Frequência cardíaca de repouso reduzida (bradicardia fisiológica).
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ECG pode mostrar alterações como aumento de voltagem (compatível com hipertrofia), mas sem sinais patológicos.
Diferença para hipertrofia patológica
É essencial diferenciar da cardiomiopatia hipertrófica ou hipertensão arterial:
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Na patológica, a espessura é desproporcional (>15 mm), pode haver disfunção diastólica, arritmias e risco aumentado de morte súbita.
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No atleta, a função cardíaca é preservada e a regressão parcial pode ocorrer após semanas de destreinamento.
Implicações para o triatleta
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A hipertrofia fisiológica é uma adaptação positiva: melhora o débito cardíaco, aumenta a eficiência da bomba cardíaca e favorece a performance.
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Deve-se monitorar em consultas médicas periódicas (ECG, ecocardiograma, teste ergométrico).
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Avaliação cardiológica é fundamental, especialmente em atletas amadores de meia-idade ou mais velhos, para diferenciar adaptação de doença.
DIFERENÇAS
Pessoa normal: parede > 11 mm em mulheres e > 12 mm em homens já é suspeita de hipertrofia patológica.
Atleta: pode tolerar até 13 mm como fisiológico, e em casos raros (ciclismo, remo, triatlo de elite), até 15–16 mm, desde que haja coração dilatado, simétrico e função preservada.
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Normal adaptado: 10–11 mm (média relatada em endurance e triatlo).
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Aceitável fisiológico: 12–13 mm (principalmente em homens, endurance e negros).
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Limite superior em estudos de atletas de elite: até 15–16 mm, mas sempre acompanhado de dilatação da cavidade ventricular e função preservada.
Resumindo
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Em repouso: gasto cardíaco ↓ (mais eficiente).
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Em esforço submáximo: gasto ↓ (mesma tarefa com menos custo).
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Em esforço máximo: gasto ↑ (coração consegue sustentar demandas enormes, mas isso é uma vantagem adaptativa).